quinta-feira, 31 de julho de 2014

António Feio ... In Memoriam


«(...) Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento. Agradeçam e não deixem nada para dizer; nada por fazer.» (1)


Foi um actor, que procurava nos emocionar, que nos fez vibrar nas nossas contradições humanas, que nos fez sorrir de um modo inteligente, sensível e único. Há quatro anos desaparecia um homem que nos explicou tantas vezes que o melhor da vida é isto, o de nos darmos genuinamente uns aos outros. Ficámos sem este ser humano de grandeza rara e que nos deixa este exemplo de lutar sempre, da beleza de quem resiste, de quem se apresenta com simplicidades e graça.

Tínhamos por ele, temos por ele uma grande afecto. É neste limiar das nossas possibilidades que verificamos como as palavras nos pedem desculpa pelas suas infinitas limitações. Aqui nos apercebemos de como são pobres para exprimir a grandeza do sorriso, a generosidade do gesto, a beleza da dádiva, que é, evidentemente uma forma de amar. Para o António, um dos poemas de Herberto que melhor nos explica a grandeza do actor, deste actor.

«O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores(...)
Ninguém ama tão desalmadamente como o actor.
O actor acende os pés e as mãos. Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela. Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo ao pequeno talento humano(...)
O espantoso actor que tira e coloca e retira o adjectivo da coisa,
a subtileza da forma,e precipita a verdade(...)
Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus(...)
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro. O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia. O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor. Como a unidade do actor.
O actor é um advérbio que ramificou de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira, e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamentedo Nome.
Nome que se murmura em si, e agita, e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega. Que sangra. Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo, enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor. Como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação. O actor transforma a própria acção da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto. Faz crescer o acto. O actor actifica-se(...)
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.
Em estado de graça. Em compacto estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela. Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimentode onde brota a pantomina (...)
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral. O actor em estado geral de graça.» (2)


(1) in Contraluz
(2) Herberto Helder, Poema do Actor

segunda-feira, 28 de julho de 2014

1914 - 1918: O passado esquecido

Vivemos em esquecimento, embora o ruído à nossa volta pareça dizer o contrário... 
( em construção)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Searas sobre nuvens

...

A ética dos "Satisfecho"

«Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe de forma unilateral e sem remédio possível as suas leis e regras. Ademais, a dívida e o crédito afastam os países da sua economia real e aos cidadãos do seu poder aquisitivo real. A isto há que acrescentar uma corrupção tentacular e uma evasão fiscal egoísta que assumiram proporções mundiais. A vontade de poder e posse passaram a ser ilimitadas». (1)

O medo assumiu dimensões planetárias, o que é construído pelos políticos e pela banca, por um conjunto de media que aliados em comentadores "idóneos e assertivos" nos devolvem o paradigma de exclusão dos valores de cidadania. O capitalismo, alimentado pela banca e por esta enriquecida nas suas ligações políticas avançou para o estádio zen do seudomínio global - explorar as pessoas.

A integração da Guiné Equatorial, um país conhecedor e utilizador profundo da língua portuguesa viu reconhecidos os seus exemplares esforços para melhorar a liberdade de imprensa (único país do mundo, cuja capital não tem um jornal local), ou a mortalidade infantil (70 % da população vive na pobreza e 40 % na extrema pobreza), ou o entusiasmo nas limitações da pena de morte (execuções há semanas) revelam como a CPLP se baseia nos mais elevados princípios de ética e dignidade humana.

A CPLP é um eufemismo de grandeza política assente no petróleo da Guiné Equatorial, no poder das riquezas naturais de Angola e na sede do Brasil em afirmar no exterior uma sociedade profundamente contraditória, de que a Copa deu mostras. A língua portuguesa nada vale, pois ela não é relevante na Guiné Equatorial e o próprio acordo ortográfico apenas revela o essencial, "just money". A grande missão de consensos do Presidente da República não foi capaz de convencer a nobreza de princípios de um mundo a definhar. Nada de especial. O professor Marcelo nas suas graçolas semanais disse o essencial, tentámos, mas há outros valores. Ainda bem. Ficamos sempre bem com os valores. 

(1) Papa Francisco, Roma, 13.05.2014

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Cubo na Ribeira

Chamam-lhe Porto,
Ou então Invicta.

É uma cidade feita de chuva
(umas vezes mais que outras)
mas onde nos afundamos indefinidamente.

É uma cidade que se adivinha ao entardecer
E aí se demora.

É uma cidade-crepúsculo 

 Joana Padrão, Porto - uma imagem para o Mundo
 Imagem - Copyright (Deolinda Keng)

Leituras - Eduardo Lourenço: A História é a suprema ficção

"Os paradigmas da vida política não podem ser mais estes. Desapareceu não só a democracia ideal de uns pequenos eleitores, de uma pequena cidade chamada Atenas, que se vêem todos uns aos outros quando vão votar. Portanto, democracia directa não, nunca existitu, nem esta democracia de segundo grau, representativa, etc. Tudo isso vai ter de mudar, não pode ser vivido da mesma maneira. Portanto é uma outra História que começa.  (...)

A História está sempre a acabar, porque ela não existe realmente como essa entidade chamada História. Ela é a teia que se faz e desfaz continuamente e acabará por ser realmente uma outra coisa. (...) Sei que entrámos em qualquer coisa que até hoje era inédita e desconhecida. Vamos ver quais serão os seus efeitos. Sempre as coisas que os homens inventaram tiveram duas leituras, uma boa e outra má, que são extraordinárias. Este nosso génio do mal, ou o que se queira chamar, também tem a sua palavra. A palavra que diz "não".

Eu tenho também um pouco essa sensibilidade e é por isso, relamente, que aquilo que nós chamamos História também é uma ficção. Tudo isso é um pouco a história das metamorfoses, da nossa capacidade maléfica, e também a capacidade de recuperarmos esse mal, e esse mal é recuperado pela criação, pela poesia, pela música, pela habilidade que nós temos para nos servirmos das coisas espantosas, inumanas. Essa habilidade é escusado de ser demonstrada, porque a História humana não é outra coisa senão isso" 

(Um livro para descobrir acima das palavras definidas com "a precisão de um ponteiro" (Sophia), o encanto de uma personalidade que descobriu no granito, o sabor da terra, o valor de tecer luz capaz de voar sob todas as ortodoxias. Um pequeno livro para descobrir Eduarso Lourenço, em temas diversos, a vida, a história, o mundo, a poesia e os poetas).

terça-feira, 22 de julho de 2014

Edward Hopper


 "Transporta-me vagão! conduz-me tu, fragata!
P'ra longe! aqui a lama são os nossos choros" (Baudelaire)

Edward Hopper nasceu a vinte e dois de Julho de 1822, cidade onde estudou desenho e pintura. Hopper viajou pela Europa onde procurou capturar a ideia de Robert Henri, " o movimento do mundo". Hopper foi muito influenciado pela poesia de Baudelaire e a sua ideia da viagem não como um fim, um destino a alcançar, mas como um movimento libertador da respiração indivdual do homem. Em comum com Baudelaire interessava-lhe a solidão, a vida na cidade, o refúgio nas cores da noite, no negro desconhecido e nos lugares de passagem.

Foi nestes lugares, estradas, hotéis, cafés, estações de comboios que encontrou figuras que parecem emergir sozinhas no mundo, longe de casa e são figuras frágeis ou vulneráveis num mundo vasto, onde a escuridão ou o o desconhecido os interroga. Autómato de 1927 (acima) representa essa solidão da figura humana num espaço confrontada consigo própria. Parece não existir uma sociedade, onde a figura humana se encontra só, consigo própria. Com Hopper esta solidão parece ter nestes espaços melhores condições de se preencher a si própria, num aconchego habitável.

Em 1938 pintou Compartimento C, Carruagem, onde nos revela tal como Baudelaire na poesia, o gosto pelas carruagens, pelo movimento, pela deslocação, onde solitariamente se descobrem pensamentos na sucessão das paisagens encontrados, incentivando ideias consigo próprio, onde discorrem momentos sós, interiores. Hopper trabalhou com grande rigor a luz, sendo classifcado como neo-realista, onde revela uma procura por alcançar o olhar psicológico do observador, tentando definir espaços sobre o homem contemporâneo e o que o absorve no real.

Com Hopper entramos no quadro junto a estas figuras sós, onde surgem em diferentes espaços, isolados de um mundo global. Em 1940 pintou Gasolina e mais uma vez perante a luz escura da noite, um posto de gasolina, como um refúgio, uma representação de humanidade de figuras fora da realidade social, mas com os elementos que nos aproximam, a estrada, o caminho.  Hopper introduziu na pintura uma ideia de grande importância no século XX, a de que o movimento, a viagem constrói nos que viajam um mundo menos confortável, mas ainda assim pleno de possibilidades de descoberta e realização.

domingo, 20 de julho de 2014

No aniversário da Apollo 11

«Era uma vez um menino que passava horas e horas namorando as estrelas. Ele morava muito longe, numa pequena cidade dos estados Unidos e, à noite, quando a Lua cheia brilhava, nos céus da sua terra, o menino ficava imóvel, olhando o enorme disco prateado. Todos os seus colegas conheciam o seu grande sonho e, se alguém zombava dele, o menino, muito sério, afirmava:
- Eu ainda vou até lá, vocês vão ver!
O tempo foi passando e o menino cresceu. Entrou para a força aérea do seu país. Pilotou diversos aviões, esteve numa guerra e, quando voltou, recebeu muitas medalhas e disseram que ele era um herói. Casou-se, teve filhos e continuou a estudar, na tentativa de um dia poder realizar o seu velho sonho.

Vezes sem conta, nas noites de luar, olhando para o alto, o menino, já com algumas mechas de cabelos grisalhos emoldurando um rosto ainda jovem, pensava:
- É .... está longe, mas eu ainda vou até lá!

Algum tempo depois, o mundo acordou com a novidade. Em todos os jornais as manchetes eram as mesmas, a notícia corria de boca em boca: o Homem estava a chegar à Lua.
As televisões e as rádios de todo o planeta estavam sintonizadas para receber, ao vivo, as imagens e o som da realização do grande feito do ser humano. a meta da viagem espacial tripulada. Lá estava a escada do módulo reflectida em todos os ecrãs de televisão. Era o momento decisivo. Pouco a pouco desceu um vulto todo branco, ensaiou os primeiros passos no solo lunar e, finalmente, soltou-se da escada, caminhando pelo chão do satélite da Terra.

Ali, naquele instante histórico, parado, fitando o globo terrestre, não estava o oficial experiente e supertreinado, não estava o cientista nem o astronauta: quem estava ali, com a voz embargada pela emoção, era o menino Neil, Neil Armstrong, o menino que sonhava com a lua.»

in, Benedito Polch, Experiências em Comunicação e Expressão

Governar entre o medo e a mentira (I)

"O medo hoje é o de perder o pouco que se conseguiu. Mas esse medo tem outros caminhos que às vezes dão o mesmo resultado. Não é o mesmo medo existente no Estado Novo, onde existia um sentimento de impunidade com as acções realizadas pela polícia política. Não! O medo hoje é essencialmente o medo de perder o emprego, o medo da legislação favorecer o que os chefes decidem, quem deixa de ser promovido. Estes são medos de outra natureza.

Mas quando estes medos se institucionalizam na lei, veja-se as alterações na lei sobre o Despedimento, com a figura da avaliação de desempenho que 90% das empresas portuguesas  não têm e portanto obviamente o que isto significa é que em nome da avaliação de desempenho vai-se decidir que pessoa de que não gosta de A, ou B, porque sabemos que é assim. É a fragilidade do nosso tecido económico, que implica que é assim. E assim, quem tem condições deve falar, mas reconhecer ao mesmo tempo que muita gente com idêntica dignidade não tem condições para falar porque perde mais. Mas há muita gente que não tem nenhuma razão para não falar. E essa tem obrigação de falar.

Em segundo lugar, há uma questão muito perigosa, a interiorização da culpa. Um dos grandes sucessos deste governo foi-nos interiorizar a culpa pela crise que se vive nos dias de hoje. Quando se analisam as estatísticas, não foram as viagens à Tailândia, nem foram os electrodomésticos, nem foram os móveis que tiveram um papel decisivo, quer no endividamento das famílias, quer na crise globalmente. E portanto quando se faz este discurso para que as pessoas interiorizem a crise porque tinham comprado um móvel a prestações, isto não foi relevante na crise. A crise é uma crise do sistema financeiro e bancário, em que grande parte sai reforçada com maior poder político. Há um endividamento das famílias que é com a casa própria, esse sim tem dimensão. 

Mas quem é que era louco para há vinte anos atrás, tentar arrendar casas que não apareciam no mercado de arrendamento e por valores muito superiores as que apareciam e sobretudo porque as pessoas podiam fazê-lo, porque tinham condições e esse é o problema que nunca se diz. 

As pessoas tinham salário que lhe permitiam comprar a casa. A preversão aí é o que aconteceu com o arrendamento, que fez com que desaparecesse o mercado de arrendamento e as pessoas não tinham outro processo que começar a sua vida activa que comprando uma casa, coisa que os seus pais ou os seus avós faziam no fim da vida. Comprar casa própria era inteiramente racional e as pessoas não podem ser penalizadas à posteriori, porque existe muito esse mecanismo de penalização à posteriori, Claro que houve abusos e excessos, mas não têm nenhuma dimensão estatística. 

"O sentido do fim ou o fim consentido?", Porto, Serralves, 02.04.2014
(parte de uma intervenção de José Pacheco Pereira)

sábado, 19 de julho de 2014

No nascimento de Degas


Banca, política e media - a fraternidade das sociedades

"Olá, o meu nome é Montague, William 3º. E o que vos vou contar pode parecer absurdo. Mas quantos menos acreditarem melhor para mim.É que sabem eu estou na finança e na grande indústria. Por muitos anos controlámos as vossas vidas enquanto todos vós apenas lutam e sofrem e lutam.Nós criamos as coisas que vocês de facto não necessitam. Os vossos carros desportivos, as modas e os plasmas.Lembro-me com clareza como tudo começou.

Segredos de Família de Pai para Filho. Conhecimento herdado que me dá a vantagem. Enquanto vocês camponeses, digo pessoas jazem a dormir à noite nas vossas camas. Nós controlamos o dinheiro que controla as vossas vidas. Enquanto vocês adoram falsos ídolos  e não pensam duas vezes em vender as vossas almas por um lugar ao sol. Estas coisas que não interessarão quando a vossa hora chegar. Mas enquanto elas lá estiverem para controlar as massas, eu apenos me reclino e pondero os meus activos. Seguro na certeza que tudo possuo, enquanto vocês pessoas comuns perdem os vossos empregos.

Estão a ver, por vós apenas tenho o máximo desprezo. Mas o sorriso na minha face torna-me isento. Porque eu tenho a arma da televisão global que nos une e nos convida à empatia. Acreditaraão genuinamente que nós temos os vossos interesses em mente, enquanto nós banqueiros e correctores somos apenas alguns. Mas se vocês vissem issso então tomaraiam de volta o poder. Daí os terrores diários que vos amedrontam , os pânicos e colapsos bolsistas, as guerras e as doenças que impedem que encontrem a vossa integridade espiritual. Nós deturpamos o jogo, nós compramos ambos os lados para vos manter escravos nas vossas tristes vidas.

Por isso trabalham à medida que o vosso relógio perde corda e quando tudo estiver acabado a uns anos da cova, olharão pra tudo isto e apenas nessa altura verão que a vossa vida foi nada, uma mera fantasia. Há muito poucas coisas que nós não controlamos. Possuir advogados e a polícia sempre foi um objectivo. Cumprindo os nossos propósitos à medida que marcham na rua. Mas eles nunca se aperceberão que são apenas gado, pois o poder real permanece nas mãos de uns poucos.

Vocês votaram em partidos e o que poderiam fazer? Mas o que vocês não sabem é que eles são um e o mesmo. O velho Gordon passou as rédeas ao velho David e vocês seguirão o líder que foi lá posto por vocês, mas o vosso sangue corre vermelho enquanto que o nosso corre azul. Vocês não vêem que faz tudo parte do jogo, outra distracção como o dinheiro e a fama. Preparem-se para as guerras em nome dos livres, vacinas para as doenças que nunca o serão. O assalto às impressionáveis mentes das vossas crianças e um mundo microshipado em que vocês nem darão luta.

A supressão da informação manter-vos-á em sentido. Despovoamento dos camponeses sempre foi o nosso objectivo, mas a eugenia não foi o que nós esperávamos que fosse! Oh sim, fomos quem financiou os Nazis! Desde que sejamos donos de todos os media, o que realmente está a acontecer não vos diz respeito. Por isso continuem apenas a ver a vossa televisão de plasma. E o mundo será governado por aqueles que vocês não podem ver".

"O Banqueiro" de Craig-James Moncur (texto adaptado na forma)
Imagem: "Game over"© Victoria Ivanova

 (Um poema que retrata a bondade dos que no mundo financeiro albergam as suas ambições de destruição da decência humana, alimentada nos gabinetes ministeriais e nos media. Um poema de denúncia dos mecanismos para os que ainda acreditam que vivemos numa democracia de responsabilidades partilhadas, em formas novas de totalitarismo).

«Ler, Escrever, Sentir...»

O tempo permite-nos guardar o que vamos vivendo. Já tem uns anos e lembrei-me dele, agora que quem o escreveu há meia dúzia de anos chega ao fim do percurso escolar, antes da entrada nesse reino diferente e único que é a Universidade. É também a lembrança de uma aluna muito especial, que desde cedo revelou um espírito humano de grande sensibilidade. E serve-nos ainda para acreditar que a educação talvez ainda possa ser, apesar dos funcionários de serviço de algo capaz da transformação de que Mandela tanto falou. E acima de tudo convergir para uma ideia essencial, a curiosidade que nos faz querer aprender, descobrir, numa homenagem às palavras e ao espírito.
 «Estudar é muito importante para mim. Estudar é aprender. Cada um é livre de querer ou não estudar. Mas se eu não estudasse ainda hoje não saberia escrever nem ler. Ler é tão simples que muitas vezes passa despercebido. Quando não sabia ler e via um filme dizia que no fim passavam «as letras» que é como quem diz a Ficha Técnica. Já não é tão frequente, mas dá para reflectir. Eram simplesmente letras que hoje fazem sentido.

O prazer de ler. Ler um livro. Ler um livro ou um conto é viajar, no tempo, no espaço, em ambas ou apenas para outras dimensões. Sejam elas de um mundo diferente ou apenas uma qualquer casa ao virar da esquina, ao sair da cidade, na serra, numa escola... Há histórias que nos parecem desenrolar-se ali mesmo ao lado. Outras que nos levam. Para mim ler é um prazer indiscutível. Ler uma notícia é estar informado.

Ler e escrever são coisas que para mim são essenciais. A ler distraio-me, aprendo coisas que não sabia. Escrever é como um refúgio. Um sítio para onde vou quando estou triste ou feliz, quando estou baralhada ... É como se um caderno fosse um sítio só meu, um lugar onde só eu posso entrar e para o qual só eu tenho a chave.

A ler costumo reagir às emoções que o texto sugere. Se é triste também eu fico triste, mas mais vontade ainda de continuar e ver como se desenrola. Se tem uma certa graça acabo também a rir. Mas ao mesmo tempo se largo o livro as emoções também ficam para trás.

Cada um é livre de fazer o que quiser e bem entender. Eu gosto mas, há quem não goste. Não entendo. Quer dizer, escrever ainda percebo mas, ler e estudar? Preguiça! Ler é fácil. Ainda me lembro das primeiras vezes que visitei monumentos depois de saber ler...ficava uma data de tempo a ler as indicações, mas li-as todas!

Há livros que nos ensinam coisas importantes. Por exemplo «A Lua de Joana» que nos dá uma lição sobre os ... «maus», talvez não seja a palavra certa, as amigas e as drogas, ou a colecção «Viagens no Tempo» que sob a forma de aventura nos fala na História de Portugal ... «O Detective Maravilhas» que resolve dilemas que surgem numa escola bem actual... e até «O Clube das Chaves» que nos leva à nossa história e cultura... e não sei mais quantos livros que nos fazem aprender.

No entanto nem tudo vem nos livros. Há muita coisa que temos de aprender com o tempo. A saber lidar com situações difíceis, a acabar com discussões e falar com calma... ah... tanta coisa que aprendemos com o dia-a-dia!» 

(Inês Olaia - numa escola há alguns séculos atrás).
Imagem (Pierre-Auguste Renoir, Rapariga Jovem a Ler,
in http://osilenciodoslivros.blogspot.com)

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Nelson Mandela Day



"Ninguém nasce a odiar outra pessoa por causa cor da pele, da sua origem ou religião. Se as pessoas aprendem a odiar, também podem ser ensinadas a amar, porque o amor é mais natural no coração humano do que o sentimento oposto.  (...) Ser livre não é apenas tirar as correntes de alguém, mas viver de forma a respeitar e ampliar a liberdade dos outros." 

Nelson Mandela faria hoje noventa e seis anos. O dia Nelson Mandela é uma atribuição das Nações Unidas por um homem que foi Nobel da Paz, e que representa a luta abnegada e corjaosa de um homem que desafiou e venceu um sistema racial, o apartheid. Nascido a dezoito de Julho de 1918, formado em advocacia, líder rebelde, ex-presidente da àfrica do Sul, foi um dos mais importantes líderes do século XX.

Dedicou a sua vida a um ideal humanitário, de luta pela liberdade, pela justiça e pela democracia, dando-lhe uma substância que poucas vezes reconhecemos nas vozes que ocupam o espaço público. Defendeu uma luta pela construção das ferramentas que permitem um crecimento humano e social, a educação, o espírito de vencer as armas da ignorância para um mundo melhor. 

A liberdade como ideia de vivência com os outros, capaz de fazer aumentar as possibilidades de cada um, acima das categorias formais, a dedicação e implicação de cada um na vida dos outros foram algumas das suas mais importantes lições que deixou a um mundo indiferente à vida de milhões.

 O seu exemplo podria ser transformador se soubessemos das substância às palavras de que a educação é uma poderosa arma de transformação social, mesmo em tempo dominado por tucanos de negócios de ocasião. Precisamos aprender com o  seu exemplo e ter a consciência de que a ca vez que caímos, podemos, devemos tentar sempre levantarmos por um ideal de ética que o horizonte dos dias vai desconhecendo. Num tempo de ruído, saberemos todos compreender o valor do seu amor pela Humanidade, o significado que cada um pode ter nos outros?

terça-feira, 15 de julho de 2014

Rembrandt

A Profetisa Ana (1631, Rijksmuseum, Amesterdão)
 "O pintor persegue a linha e a cor, mas seu fim é a Poesia" (Rembrandt)

Rembrandt Harmenszoon van Rijn é um dos grandes mestres da pintura ocidental. Nasceu, justamente a 15 de julho de 1606, em Leiden, o centro intelectual do movimento que definiu a Reforma. De família humilde, iniciou na sua terra natal as experiências como desenhador e pintor. Teve a protecçao do princípe de Orange, estudou em Amesterdão na oficina do pintor Pieter Lastman, e foi seguidor de Caravaggio. Em 1631 estabeleceu-se definitivamente em Amesterdão. Rapidamente começou a aceitar alunos a que ensinava a pintar.

A sua pintura evoluiu numa primeira fase entre quadros com grandes efeitos de luz, na tradição de Jan Van Eyck, para uma representação mais atenta dos detalhes, abraça um aprofundamento psicológico e avança na última fase para um retrato com traços menos densos, mas mais firmes e realiza a aplicação da técnica do empaste. Evoluiu das figuras naturais para as repersentações místicas e para o retrato. Na sua arte há uma preocupação pela textura, pela linha, pela forma, sendo ela que conduz a expressividade do quadro.

Rembrandt conciliou várias técnicas usadas até si. Misturava as diferentes técnicas (a flamenga - pintura na cor transparente e opaca sobre os painéis de madeira preparados em branco), a de Veneza (uma camada inicial de tinta aplicada a um terreno, que serve como base para as camadas subsequentes de tinta, a técnica de pintura directa (numa única etapa, em cores), de modo a obter o melhor resultado. Rembrandt segue diferentes processos jogando muito no diálogo transparência - opacidade e nos efeios de luz. Apenas os românticos muito mais tarde veriam os efeitos poderosos na construção da imagem, pelos efeitos de luz. Trabalhou muito a consistência da própria tinta, colocando esmaltes sobre a tinta o que produzia um efeito de vitrificação. 

Rembrandt tem outra dimensão que deve ser assinalada. A sua preocupação com a velhice durante toda a vida. Deu aos velhos traços de uma vida marcada pela dificuldades da vida, mas também da própria fragilidade humana. Em A profetisa Ana, de 1631 vemos uma velha a ler, de onde emerge uma luz, de onde se adivinham as dificuldades de seguir o texto, mas também a autoridade plena do livro, neste caso, o Antigo Testamento. Contrariando a ideia da cultura clássia de secundarização da velhice, Rembrandt dá-nos neste quadro o valor da velhice e o significado da leitura, elevando-a a uma representação das possibiliades no próprio quotidiano.

domingo, 13 de julho de 2014

Ao som do tango ... força Argentina!

Astor Piazolla, "Libertango"

"Contra el azul casi negro
el tronco gris
las ramas retorcidas,
las ramitas arañando el cielo.
En invierno el ceibo
quiere asustar a los fantasmas".

Kaufman, Ruth, "Segunda Estación". Buenos Aires: Pequeno Editor.

Copa 2014 - uma ilusão...

Foi classificada como "a copa das copas", embora saibamos que as palavras são usadas pelos políticos sem qualquer relevância de verdade. Foi desportivamente para o Brasil a confirmação de uma ausência de dignidade no tratamento das pessoas, das que fazem o Brasil. Trinta bilhões de dólares, para gastar num País que têm 21% de analfabetos, com treze milhões de pessoas passam fome, onde milhares esperam por um cuidado médico básico, é eticamente responsávelum investimento em construir mais lucros privados?

Se os investimentos seriam para melhorar a vida de populações carenciadas, o que foi feito dos impostos pagos até ao momento? São precisos incentivos para que o poder político se interesse pelas pessoas, cuide das suas necessidades básicas? Que tipo de poder se organiza nesta ausência de dignidade? Há um retorno de todos estes estádios novos? A FIFA paga impostos? É um negócio de privados e para privados. Os negócios locais de comércio vão mais uma vez valorizar os que já têm. As oportunidades dadas à cultura indígena foram muito residuais.

Valeu a pena a indecência de tudo o que o poder político forçou com a utilização da polícia militar que fez lembrar a militarização dos tempos da ditadura e dos militares? O que as UPPs realizaram nas favelas, deslocando pesoas, retirando-lhes ligação à comunidades, destruindo  casas, não indeminizando a sua propriedade, matando pessoas é compatível com uma dita festa desportiva?  É aceitável transformar um centro cultural indígena num museu olímpico ou afastar as comunidade índias dos seus lugares de habitação?

A copa do mundo de futebol de 2014 mostrou como um governo liderado pela esquerda pode ser tão cego perante as pessoas e as suas dificuldades como o de direita. O que temos é sempre o prodígio do dinheiro e o que querer impressionar os outros do que não se é. O Brasil com o estado de pobreza e de carência em saúde e educação não ganhou nada com este investimento. As pessoas não ganharam. Os resultados decepcionates no campo desportivo vieram mostrar como são inúteis muitos processos políticos. A verdade e as pessoas são o que mais importa. Um poema de Drummond, que muitos ainda não entenderam. O poder e o dinheiro são cegos na sua lúxuria, no seu desejo preverso de viver no lixo do luxo de alguns e na pobreza da maioria.

"Foi-se a copa? Nao faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.

Faltou inflação de pontos?
Perdura a inflação de feto.
Deixaremos de ser tontos
se chutarmos no alvo exato.

O povo, noutro torneio,
Havendo tenacidade
Ganhará, rijo, e de cheio,
a Copa da Liberdade." 

Drummond de Andrade, C. (1992). Poesia e prosa. Rio deJaneiro: Nova Aguilar.

sábado, 12 de julho de 2014

Em memória de um poeta - Neruda

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e piscam, azuis, os astros, ao longe”.


O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis.


Nas noites como esta,  tive-a entre meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.


Ela me desejou, e às vezes eu também a desejava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.


Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.


Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la?
A noite está estrelada e ela não está comigo.


Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se conforma por havê-la perdido.


Como que para aproximá-la, meu olhar a procura.
O meu coração a procura, e ela não está comigo.


A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.


Já não a desejo, é verdade, mas como a desejei…
Minha voz buscava o vento para tocar seu ouvido.


De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.


Já não a desejo, é verdade, mas talvez a deseje…
É tão curto o amor, e tão longo o esquecimento…


Porque em noites como esta tive-a entre meus braços,
minha alma não se conforma por tê-la perdido.


Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que eu lhe escrevo.


Pablo Neruda, "poema 20",  in 
Pablo Neruda – poemas para recordar. Fundación Pablo Neruda.

BES - um exemplo

"A integridade é a capacidade para assumirmos as nossas responsabilidades".(1)

Era uma das histórias interessantes que conduzia a construção de um património familiar com a  possibilidade de ser criador de riqueza, incentivar um papel na formulação de capacidades. O nome conduzia uma transmissão capaz de honrar um papel na sociedade. Os tempos já não são de grandeza.

É possível fingir que as palavras representem qualquer coisa, negando-lhes a substância. É possível celebrar com cerimónia agentes económicos, mentes politizadas onde a dignidade já foi há muito esquecida. Perdeu-se o sentimento para o superlativo máximo - o objectivo, onde só existem abstracções, não há pessoas. Perdeu-se a integridade intelectual.

O caso do BES revela o essencial de um tempo, onde se procura a avidez antiga, a de ver a sociedade com os preconceitos eternos - a sedução pelo poder, a influência na sociedade onde se busca apenas a adapatação permamente, no que apenas importa, dinheiro, mais dinheiro, mais poder. Gente alimentada nas Universidades e conduzida nos media através dos meios mais óbvios de propaganda.

O caso BES revela que aquilo que os instalados nas instituições de poder, nos órgãos de "soberania" gritam como sendo a democracia é só uma caricatura de um regime de indiferença e mediocridade pelas pessoas. O sistema político alimenta-se dos contactos dos que no mundo financeiro os pode financiar. Não há nenhuma representatividade de soberania, apenas a promiscuidade entre o poder, o dinheiro e as decisões que privilegiam uma minoria.

O caso BES revela igualmente que não há nenhuma cultura de empresa, não há empresários, porque não há democracia, nem cultura. Há um saque, é essa a palavra ao bem comum, onde bem-vestidos gozam da completa impunidade dos seus gestos. A economia de casino sedimentada por um regulador que auferindo mensalmente mais do que o governador da reserva americana revela a inexistência de critérios ou princípios capazes de superar os mecanismos de aparência. Não há estruturas de regulação.

O caso BES revela ainda o essencial da decadência de um País politicamente levado à imoralidade por uma casta sem representação de soberania. Retirar valores de pensão a reformados já de baixo valor é afirmado como a grandeza de um governo, a audácia de pensamento que é incentivado em mecanismos de comunicação de desconfiança social entre as pessoas. Financiar o saloismo nacional, perpétuo em figuras menores, a empresa sem responsabilidades, isso é a cidadania promovida numa forma de totalitarismo.

Não é pois necessária nenhuma integridade, basta acumular na melhor adapatação do mercado. Nos media, os do costume, os Lourenço ou os Ferreira dão a sua benção ao imutável e transformador papel do capital e do absurdo papel do trabalho. Um dia talvez saibam explicar nas suas palestras ocas, as palavras de Sophia, "a política é um capítulo da moral", ou "de que se procure mais justiça para os pobres, e menos ambição para os ricos."

Transformar um cidadão livre num indivíduo, numa pessoa, eis o que o País, "this little people" impede que possamos ser, com  a concordância dos órgãos de soberania. O caso BES revela um última análise como todo o discurso "de empresa" é só a mentira última dos partidos "do irrevogável", apenas para construir dominação e opressão. Adaptação e obediência, gestão sem valores, sociedade sem ligação, exibicionismo, liberdade sem significado.Acima da respeitabilidade de palácio, onde fica a dignidade interior? Dizeis que é uma Democracia! Será. Apenas na vossa cabeça.

(1) - Riemen, R. (2011). Nobreza de Espírito, um ideal esquecido. Lisboa: Bizâncio.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Na memória de um Imperador - Libertas, Humanitas, Felicitas

"Não existindo já os deuses e não existindo ainda Cristo, houve, de Cícero a Marco Aurélio, um momento único em que só existiu o homem (1).

O tempo parece já tão afastado, está já muito distante de nós e respiramo-lo em formas longínquas, quase desconhecidas no seu sentido mais quotidiano. Fazemos dessa memória uma reconstrução, construída de imagens, das que fomos dsesenhando, recorrendo às formas materiais que o Alto Império deixou de uma civilização grandiosa e enigmática.

É, na verdade um tempo distante, que ousou pensar o real, com o cuidado da análise filosófica, mas com a ambição de construir um sentido mais prático da sociedade. Herdeiros da cultura grega, menos dados a riscos, por grandes ideais, os Romanos legaram uma civilização material riquíssima e influenciaram áreas essenciais de sociedades futuras. O Direito e a Língua foram as mais visíveis, dessa eternidade de uma Roma dominadora. Muitos consideraram esse regresso a uma arqueologia quase sem tempo, uma perda de oportunidades. No entanto, os dias dizem-nos que o seu património é insubstituível pela ousadia com que criaram o seu património civilizacional.

Uma das figuras mais interessantes do Império, nasceu a 24 de Janeiro do distante ano de 76 e ficou apenas conhecido, como imperador Adriano. Nasceu no território que hoje corresponde à Espanha, era descendente de colonos romanos e era primo do imperador Trajano, que viu nele quase um filho. Desempenhou vários cargos, como governador da Síria, foi tribuno de diversas legiões e comandaria a Minervina, e em 117 sucederia ao seu primo no governo do Império.

A importância de Adriano releva da noção que tinha do Império, um espaço humano que devia preocupar-se mais com o sentido da vida dos homens que o habitavam e não ser só um espaço civilizacional dominador de povos e culturas. Aprendeu com os Gregos, a dimensão do homem e tentou estater as diferenças sociais extremas. Renunciou às contribuições das cidades para o Imperador e procurou dinamizar o cultivo de terras. Ensaiou dar mais dignidade ao papel da mulher no casamento e em certas circunstâncias procurou substituir o escravo pelo colono livre.

Humanitas. Felicitas. Libertas - foi a sua divisa e são símbolos de uma governação que aspirava a estes máximos da consciência humana. Conscientes das fragilidades da natureza, esperava ainda assim uma renovação, em que cada ser humano ousasse nas suas ações dar continuidade aos valores e construções  mais perenes. Acreditava que sobre as ondas do tempo surgiriam homens capazes de reconquistar, na efémera possibilidade dos dias, uma dimensão justa do Homem, " a sua intermitente imortalidade" (2). 


(1); (2) - Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano
Imagem, busto de Adriano, Museu arqueológico de Atenas