sábado, 12 de julho de 2014

BES - um exemplo

"A integridade é a capacidade para assumirmos as nossas responsabilidades".(1)

Era uma das histórias interessantes que conduzia a construção de um património familiar com a  possibilidade de ser criador de riqueza, incentivar um papel na formulação de capacidades. O nome conduzia uma transmissão capaz de honrar um papel na sociedade. Os tempos já não são de grandeza.

É possível fingir que as palavras representem qualquer coisa, negando-lhes a substância. É possível celebrar com cerimónia agentes económicos, mentes politizadas onde a dignidade já foi há muito esquecida. Perdeu-se o sentimento para o superlativo máximo - o objectivo, onde só existem abstracções, não há pessoas. Perdeu-se a integridade intelectual.

O caso do BES revela o essencial de um tempo, onde se procura a avidez antiga, a de ver a sociedade com os preconceitos eternos - a sedução pelo poder, a influência na sociedade onde se busca apenas a adapatação permamente, no que apenas importa, dinheiro, mais dinheiro, mais poder. Gente alimentada nas Universidades e conduzida nos media através dos meios mais óbvios de propaganda.

O caso BES revela que aquilo que os instalados nas instituições de poder, nos órgãos de "soberania" gritam como sendo a democracia é só uma caricatura de um regime de indiferença e mediocridade pelas pessoas. O sistema político alimenta-se dos contactos dos que no mundo financeiro os pode financiar. Não há nenhuma representatividade de soberania, apenas a promiscuidade entre o poder, o dinheiro e as decisões que privilegiam uma minoria.

O caso BES revela igualmente que não há nenhuma cultura de empresa, não há empresários, porque não há democracia, nem cultura. Há um saque, é essa a palavra ao bem comum, onde bem-vestidos gozam da completa impunidade dos seus gestos. A economia de casino sedimentada por um regulador que auferindo mensalmente mais do que o governador da reserva americana revela a inexistência de critérios ou princípios capazes de superar os mecanismos de aparência. Não há estruturas de regulação.

O caso BES revela ainda o essencial da decadência de um País politicamente levado à imoralidade por uma casta sem representação de soberania. Retirar valores de pensão a reformados já de baixo valor é afirmado como a grandeza de um governo, a audácia de pensamento que é incentivado em mecanismos de comunicação de desconfiança social entre as pessoas. Financiar o saloismo nacional, perpétuo em figuras menores, a empresa sem responsabilidades, isso é a cidadania promovida numa forma de totalitarismo.

Não é pois necessária nenhuma integridade, basta acumular na melhor adapatação do mercado. Nos media, os do costume, os Lourenço ou os Ferreira dão a sua benção ao imutável e transformador papel do capital e do absurdo papel do trabalho. Um dia talvez saibam explicar nas suas palestras ocas, as palavras de Sophia, "a política é um capítulo da moral", ou "de que se procure mais justiça para os pobres, e menos ambição para os ricos."

Transformar um cidadão livre num indivíduo, numa pessoa, eis o que o País, "this little people" impede que possamos ser, com  a concordância dos órgãos de soberania. O caso BES revela um última análise como todo o discurso "de empresa" é só a mentira última dos partidos "do irrevogável", apenas para construir dominação e opressão. Adaptação e obediência, gestão sem valores, sociedade sem ligação, exibicionismo, liberdade sem significado.Acima da respeitabilidade de palácio, onde fica a dignidade interior? Dizeis que é uma Democracia! Será. Apenas na vossa cabeça.

(1) - Riemen, R. (2011). Nobreza de Espírito, um ideal esquecido. Lisboa: Bizâncio.

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