sexta-feira, 29 de maio de 2020

Biblio@rs (XVIII-VIII)

 
A Civilização Grega - As manifestações artísticas: as ordens arquitetónicas
 
Como temos visto, as cidades-estado da Civilização Grega eram diferentes e independentes entre si. Existia, no entanto uma ideia de comunidade que se baseou numa língua, numa afirmação política, num religião e numa cultura. As cidades-estado procuraram afirmar-se como espaços suportadas com funcionalidades muito específicas. Se a cidade-estado era uma expressão de um pensamento, e neste caso da própria razão, a arquitetura manifestada na construção dos templos também o deveria ser.

É o templo aquilo que mais caracteriza esta civilização na arquitetura. Nela vemos a arte como forma de expressão construída à dimensão do homem, no sentido de que era edificada não para contemplar deuses, mas para obter respostas para o próprio homem. Nessa centralidade que misturava um pensamento misturado de razão e de ideal deram-nos os gregos templos servidos por uma grande beleza. 

Na verdade, no questionamento a que se dedicaram para a construção da sua arte estavam princípios como o belo, a harmonia, o equilíbrio e a proporção das coisas. Os templos não eram espaços para receber multidões de fiéis, ou adoradores de uma divindade, mas sim um local de referência, visto do exterior, como uma dedicatória para a proteção da cidade-estado. Os templos basearam-se num conjunto de regras suportadas nas colunas e por isso podemos falar das ordens arquitetónicas.

Inicialmente construídos em madeira, os templos passaram a ser construídos em pedra que se suportava pela junção de grandes blocos. As ordens arquitetónicas possuíam regras próprias em relação às colunas e aos seus elementos de suporte, assim como o que se colocava na parte superior dos templos. Temos assim três ordens arquitetónicas: a dórica, a jónica e a coríntia.



  • A odem dórica - trata-se da ordem mais antiga e é também a mais importante. O Pártenon, dedicado a Atena, na acrópole de Atenas é um dos seus grandes símbolos. A ordem dórica surge no século VII a.C., e era a mais simples e aquela que não era decorada. Não tinha motivos ornamentais e está ligada aos Dórios que foram um povo que habitou a Grécia e que tinha uma organização guerreira da sociedade. A coluna não tem uma base e é construída na junção de  4 a 8 módulos de altura.   
  • A ordem jónica - esta ordem existiu quase ao mesmo tempo que a dórica. Nasce no século VI a.C., tendo sido trazida das ilhas do mar Egeu pelos Jónios, outro povo que compôs a Civilização Grega. Está mais ligada a uma visão feminina, ou a uma ideia feminina, pois revela proporções mais harmoniosas e é decoradas com belos elementos. Ao contrário da dórica, a jónica possui uma base e o friso no cimo tem uma decoração esculpida na pedra. A ordem jónica tem outra diferença muito importante que é a de ter um capitel (o que fica na parte superior da coluna) com duas pequenas ondas interiores (volutas) que tendem a imitar um rolo de papel. Um dos grandes exemplares desta ordem é o Pórtico das Caríatides, também em Atenas. 
  • A odem coríntia - esta ordem começa a ser utilizada no século IV a.C., e é uma evolução da ordem jónica. Mantêm a elegância e um sentido muito claro das proporções, com um trabalho muito rico na própria coluna. O capitel é muito trabalhado e apresenta uma decoração muito rica com folhas de acanto que são acompanhadas com um movimento circular, a imitar um rolo de papel (as volutas) quer já eram conhecidas na ordem jónica. A orem coríntia foi a mais exuberante e será aquela que os romanos irian adotar em grande número, no seu império. O templo de Zeus em Atenas é um dos grandes símbolos desta ordem arquitetónica.
magem: O Pártenon (Acrópole de Atenas, em honra da deusa Atena - ordem dórica).

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Biblio@rs (XVIII-VII)

A Civilização Grega - As manifestações artísticas - o desporto (os jogos olímpicos II)


Já tínhamos falado sobre o papel essencial dos Jogos Olímpicos na cultura grega e na vida das cidades-estado. Falemos agora um pouco sobre as diferentes atividades desportivas e como se organizavam os sete dias das competições desportivas.

De um modo simples o calendário dos Jogos Olímpicos estava alinhado do seguinte modo:
  • 1.º dia - Oferta dos sacrifícios a Zeus e juramento dos atletas;
  • 2.º dia - Realização de diversos rituais religiosos;
  • 3.º dia - Realização de corridas pedestres e estafetas;
  • 4.º dia - Realização do Pentlato
  • 5.º dia - Realização de diversas lutas gregas: Luta, Pugilismo e Pancrácio;
  • 6.º dia - Realização de Corridas de cavalos e de carros;
  • 7.º dia - Consagração dos vencedores.
Nos dois primeiros dias concentravam-se os rituais religiosos, onde se destacavam as oferendas e sacrifícios em honra do Deus a que era dedicado os jogos, Zeus. Nestes dois dias os atletas faziam os juramentos das regras com que se realizavam os jogos.  Após o juramento realizavam-se algumas provas para organizar o agrupamento dos atletas, em função das categorias que iam disputar. No final desta pré-qualificação, os atletas despiam-se e eram ungidos com azeite. 

O terceiro dia era reservado às competições pedestres e das estafetas. Realizavam-se diferentes tipos de provas. Existam corridas de 400 e 5000 metros, e esta última funcionava como prova de estafetas.  Corriam com um obeto pesado, o hopplita, o que tornava estas provas difíceis. Estas eram a únicas provas em que os atletas não estavam despidos.

No quarto dia realizavam-se as provas do Pentlato, e que estavam organizadas em cinco modalidades: 
1. salto em comprimento; 2. lançamento do disco; 3. lançamento do dardo; 4. luta e 5. corrida. Neste dia reuniam-se as provas mais apreciadas pelos espetadores.

No quinto dia reuniam-se as provas de luta, nomeadamente o Pugilismo e Pancrácio. Estas competições reuniam um tipo de lutas que exigiam uma boa preparação física com uma substantiva flexibilidade do corpo. Em algumas das lutas o atleta tinha a cabeça protegida por um capacete de bronze. Alguns combates eram muitos violentos, com destaque para o Pancrácio, pois as regras de proteção eram muito limitadas, num combate que misturava a luta corpo a corpo com o boxe. Muitas vezes um dos atletas acabava por falecer e nesse sentido era uma das piores das lutas que se realizavam nos Jogos Olímpicos.

No sexto dia realizavam-se as corridas de cavalos e de quadrigas. Existia um espaço próprio para essas corridas, o hipódromo. Finalmente no sétimo e último dia era feita a consagração dos atletas que tinham participado nos jogos. Os vencedores eram consagrados num banquete, onde eram anunciados os vencedores. Neste anúncio destacava-se a sua linhagem, a sua família e a sua cidade. Os vencedores eram coroados com um coroa de oliveira e encaminhavam-se para agradecer e homenagear o deus dos jogos, justamente, Zeus. Como já vimos, os vencedores eram aclamados na sua cidade, onde ficavam com o estatuto de heróis, que acabaria por se integrar nos valores culturais dos gregos.
 
 

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Biblio@rs (XVIII-VI)

 
A Civilização Grega - As manifestações artísticas - os templos

Os templos gregos são mais uma das grandes marcas de uma extraordinária civilização. Para se compreender um pouco do que foi a aventura grega é preciso reconhecermos que a mesma  quando existiu olhou para as coisas como uma descoberta, como se o mundo tivesse acabado de nascer e era preciso encontrar a sua verdade, aquilo que era real, transmitida na sua palavra, Alétheia.
Existia na Civilização Grega uma procura contínua pela curiosidade sobre tudo o que rodeava a sua vida. Os gregos, ao contrário de outras culturas não se satisfaziam apenas na realização de tarefas, mas queriam compreender o próprio sentido da vida e por isso se dedicaram de uma forma original à escultura, à pintura, à arquitetura, ao pensamento, ao questionamento contínuo para encontrar uma resposta para as suas questões. Os templos foram uma das áreas que mais marcou a sua criação.

Os templos gregos variaram um pouco, entre o século VIII a. C., e o apogeu do mundo helénico no século V a.C., pois na primeira fase eram mais santuários naturais, pois os gregos acreditavam que os elementos naturais eram visitados pelos deuses e assim árvores, rochas ou rios eram considerados santuários de culto. 

A partir do século V a.C., a criação artística grega atinge o seu mais alto nível de perfeição. A arquitetura grega está muito ligada à construção dos templos. Quando as olhamos ainda hoje ficamos maravilhados, pois se tinham uma função eram também construídos para serem admirados. O interior do templo era um espaço de contemplação, de construção de um ideal de beleza e por isso os altares e os sacrifícios eram feitos no exterior. Esta é mais uma ideia nova e original dos gregos. 

Os templos serviam uma função de ritual religioso e eram erguidos em honra dos deuses e, sabendo que cada cidade-estado tinha um deus protetor é fácil concluir que esta civilização erigiu muitos templos no seu espaço geográfico. A construção de muitos templos era incentivada pelo governo da pólis, de modo a que todas as cidades-estado fossem embelezadas com os templos ligados às divindades mais populares. 

De um modo genérico, podemos indicar os seguintes, como os templos mais importantes:     
                  
  • Pártenon - Construído em Atenas, na sua acrópole é o maior e mais importante templo dedicado a Atena. A sua dimensão, a perfeição nas formas e as pinturas usadas tornam o Pártenon,-no no mais importante templo da Civilização Grega.
  • Templo de Apolo - Construído em Delfos funcionava como um oráculo e teve nesse aspeto uma importante função na cultura grega.
  • Templo de Zeus - Construído em Olímpia foi um dos mais importantes não nesta civilização, como no Mundo antigo. Este templo tinha no seu interior uma estátua de Zeus, construída por uma figura muito importante na arte grega, Fídias.  
A arquitetura grega revelada ao longo dos tempos esteve dependente de um conjunto de características, as chamadas ordens arquitetónicas, que definia as proporções ideais  dos vários elementos dos templos. Falaremos delas no próximo post. Mas há algo que não devemos esquecer e que diz respeito aos espaços onde vivemos.

 A ideia do belo, de algo que deve ter tanta importância numa sociedade, como a verdade ou a justiça. O século XX deixou de se interessar pelo belo, dando mais importância à fratura e a uma hipotética originalidade. A ideia de algo belo servido por uma aprendizagem técnica é algo que devemos aos gregos e que devemos falar em pormenor. Bastaria isso para compreendermos a sua importância na História da Humanidade. Se ainda observamos hoje edifícios feios, desenquadrados dos restantes é por esta falta do belo que os gregos tanto admiravam.
Imagem: O templo de Zeus em Olímpia

terça-feira, 26 de maio de 2020

Biblio@rs (XVIII-V)

 
A Civilização Grega - As manifestações artísticas - o desporto (os jogos olímpicos I)
A Civilização Grega marcou em diferentes áreas, aspetos que ficaram como expoente maior da História da Humanidade. Como vimos, os rituais às divindades na Grécia estavam associados a diferentes formas artísticas, como o teatro, a música, as competições desportivas, ou a realização de sacrifícios de animais e de oferendas de produtos. As cidades-estado acreditavam que desses rituais dependiam a proteção daquelas e até o seu desenvolvimento.

O exercício físico regular era uma atividade praticada pelos gregos. Consideravam-no importante na formação do cidadão e na preparação para a guerra. Havendo provas desportivas regulares integradas nos rituais da pólis e existindo participantes nesses rituais, os Jogos Olímpicos ganharam campo para se tornarem numa expressão muito importante da cultura grega. Datados do século VIII a.C., com uma construção associada ao aspeto ritual do politeísmo grego, evoluíram no século V a.C., para uma dimensão mais desportiva. Terminariam no século III quando a cultura romana cristianizada de natureza monoteísta não quis tolerar o politeísmo grego.

Os Jogos Olímpicos duravam sete dias e tinham a periodicidade de se realizarem de quatro em quatro anos. Realizaram-se sobretudo em Olímpia, de onde recebem o nome, mas ocorreram outros, não tão regulares, como em Delfos em honra de Apolo, ou em Corinto, em honra de Posídon. Os Jogos Olímpicos eram pan-helénicos, o que quer dizer que qualquer cidadão de uma cidade-estado podia participar e em certo sentido era uma competição entre diferentes pólis. Os jogos de Olímpia eram feitos em honra de Zeus.

Os Jogos Olímpicos foram muito importantes para Civilização Grega, por diferentes motivos. Deram consistência nacional a cidades-estado afastadas e diferentes entre si. Permitiram a própria organização do calendário, pois os jogos recebiam uma numeração e cada ano estava integrado numa série olímpica. Por exemplo 420 a.C., podia ser o ano 1 da 50.ª olimpíada. Os jogos introduziam períodos de paz, pois durante os jogos não existiam conflitos entre as cidades-estado.


Os Jogos Olímpicos tinham uma audiência importante (estima-se que podiam chegar aos 20 000 espectadores) e contavam com participantes que vinham de diferentes cidades e que realizavam treinos com alguma antecedência para se preparem para eles. Os participantes das diferentes modalidades queriam  naturalmente ganhar. O interessante é compreender que o prémio era uma coroa feita de folhas de oliveira e não uma atribuição monetária.

Uma cidade-estado ter um vencedor dos jogos era um grande orgulho. A glória alcançada pelos vencedores era retribuída com diferentes favores na sua cidade natal, o que acabava por trazer algum rendimento. Muitas vezes a alimentação e os impostos eram duas áreas em que a pólis concedia privilégios aos vencedores dos jogos. Eram feitos poemas e criadas estátuas, tornando-se os vencedores dos jogos muitas vezes deuses e heróis da cultura grega de uma cidade-estado. E, isto diz-nos muito de como a cultura grega se construía na relação com a sua história e vida quotidiana.
 Imagem: Ânfora que representa o "tethrippon” (corridas de quadrigas), com representações da deusa Atena no verso, in Museu do Vaticano.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Biblio@rs (XVIII-IV)

 
A Civilização Grega - As manifestações artísticas - a religião IV (os cultos)
A religião grega foi marcada por um conjunto de cultos, que incluía uma dimensão familiar ou doméstica, assim como outras de natureza pública, ou de reverência aos mistérios, à morte e às festividades mensais, entre outras. Como temos visto, a religião e os mitos desempenharam um papel muito importante na vida quotidiana da Civilização Grega. Na homenagem às suas divindades, para o recebimento de favores e ajuda na vida, os gregos construíram um conjunto de rituais a elas dedicados. 


  • culto familiar - um dos aspetos particulares, entre muitos é esta ideia de cultivar a adoração a uma divindade no próprio ambiente familiar. As casas gregas tinham um altar doméstico, dedicado à deusa Héstia, pois ela era considerada a protetora do lar. Esta deusa encontrava-se no pátio interior da casa e além de proteção à família tinha igualmente a função de honrar os antepassados da família. Ofereciam-se frutos e outros produtos agrícolas como leite, mel e animais.
  • culto público - todas as cidades tinham um deus protetor e realizavam-se diferentes atividades culturais e desportivas para obter o seu favorecimento. Nos cultos públicos da Grécia existiam sempre atividades desportivas. A participação da população nestes cultos públicos era encarado como uma forma de proteger o espaço da pólis. Atividades desportivas, cerimónias religiosas e exibição de peças de teatro faziam parte dos cultos públicos.
  • culto dos mistérios - sabe-se pouco sobre este culto que tinha a função de salvar uma pessoa em particular. Conhecem-se algumas manifestações perto da cidade de Atenas com a deusa Deméter, que estava ligada às questões agrícolas.
  • culto da morte - a Civilização Grega foi muito particular em diversos aspetos. Um dos mais marcantes é talvez a ideia de que o que mais importava era a vida. Era muito mais importante compreendê-la, do que pensar sobre as questões da morte. Ainda assim acreditavam na vida após a morte, pois respeitavam-se rituais fúnebres quando ela acontecia a alguém conhecido.
  • cultos pan-helénicos - as divindades tinham santuários nas suas diferentes cidades-estado. A deslocação pelo espaço do Mediterrâneo faziam-se por motivos económicos, mas também para a celebração destas divindades em diferentes cidades.  Os mais importantes e que deram unidade ao espaço da civilização foram o Templo de Apolo, em Delfos e o de Zeus, em Olímpia.
  • culto das festas religiosas - nos diferentes meses do ano criaram-se festas religiosas para determinadas divindades. Por exemplo: as Dionisíacas maiores em fevereiro com destaque para Dionísio, ou em setembro para os jogos atléticos com o festejo de Apolo e dos diferentes heróis nacionais.
  • as panateneias - eram cerimónias religiosas e culturais dedicadas à deusa Atena e realizavam-se anualmente pelo Verão. As panateneias duravam dez dias e nelas o aspeto desportivo assumia-se como o mais importante. A dança, o combate, as provas hípicas, de ginástica e de música preenchiam esses dias. No último dia concretizava-se a panateneia, que era um ritual religioso à deusa Atena que se espalhava por toda a cidade, com o cumprimento de oferendas diversas.
Imagem: Copyright - Friso das Panateneias, No Pártenon em Atenas

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Biblio@rs (XVIII-III)

                                      

                           Civilização Grega - As manifestações artísticas - a religião III (as divindades)

Como sabemos a vida dos deuses da Grécia era muito particular e misturava-se em muitos sentidos com a dos humanos, do que resultavam seres originais, como ninfas, nereides, ao lado dos seus deuses principais, heróis e seres mitológicos. Falemos dos mais importantes.

  • Atena era filha de Zeus. Era representada com um capacete e era a protetora da cidade de Atenas. A ela foi dedicada o Parthenon. Tinha ligada a si um conjunto de atributos, como sejam, a sabedoria, a justiça e a as artes. Era ainda a deusa da guerra. Ares que também tinha atributos de deus da guerra usava-os com uma dimensão de violência e vingança, um pouco diferente de Atena.
  • Zeus era o deus mais importante dos deuses do Olimpo e para a Civilização Grega ele era também o criador de todos os homens.  Era o rei da terra e do ar. Tinha em si atributos que alternavam entre a compreensão e a vingança. Tinha relações amorosas com outros deuses e com os próprios homens. Os seus símbolos eram o raio e a água e em sua homenagem se realizavam os Jogos Olímpicos.
  • Hera era esposa de Zeus e assim assumia-se como a rainha do Olimpo. Estava associada a atributos de ciúmes e de arrogância em relação a outros deuses e aos homens. Tal como Zeus era uma divindade adorada em toda a Grécia.
  • Posídon era irmão de Zeus e tinha em si o atributo de deus dos mares. A sua iconografia era construída pela posse de um palácio no fundo do mar e do seu carro de golfinhos e cavalos-marinhos.  Tinha um tridente como sendo o seu ceptro.
  •  Deméter era a deusa da agricultura e estava associada nos seus atributos às colheitas agrícolas e às estações do ano. Viajava pela terra com Dionísio para explicar aos humanos como podiam cuidar das plantações agrícolas.
  • Apolo era filho de Zeus e era o deus da beleza. Estava associado nos seus atributos à perfeição, à harmonia e à defesa das artes. Era considerado o deus mais amado do Olimpo. 
  • Artémis era a deusa da caça e da vida selvagem. Era irmã de Apolo e a sua vida associava-se a uma vida calma e sem excessos.
  •  Hefesto era o deus dos metais e do fogo. Era ajudado pelos cíclopes que eram gigantes imortais que aparecem retratados na Odisseia. Era vítima de chacota por muitos deuses, por não ter uma beleza física muito significativa.
  •  Afrodite era a deusa do amor, da beleza e da sexualidade. Era uma deusa que provocava ciúmes em outros deuses e do seu casamento com Hefesto nasceria Eros, a que os romanos atribuíram o nome de Cupido.
  • Hermes era um deus que juntava em si diferentes caractertísticas. Ficou ligado a atributos tão diversos como o comércio e aos que o praticavam, mas também à forma eloquente como falava e por isso era o mensageiro dos deuses.
  •  Dionísio era o deus do vinho e da fertilidade e igualmente era outro filho de Zeus, estando associado às orgias orientais ligadas à cultura da vinha.
Algumas destas divindades foram utilizadas pelos romanos que lhes mantiveram algumas das suas características, mudando-lhes alguns dos seus nomes. Assim Zeus será Júpiter, Hera será Juno, Posídon será Neptuno, Atena será Minerva, Ares será Marte, Ártemis será Diana, Afrodite será Vénus e Hermes Mercúrio, entre outras.
Imagem: representação da deusa Atena, a quem foi dedicado o Parthenon, na acrópole de Atenas

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Biblio@rs (XVIII-I)


A Civilização Grega - As manifestações artísticas - a religião I

A religião grega é um dos aspetos mais marcantes da Civilização Grega e aquela que lhe deu uma dimensão muito particular, pois a religião grega uniu todas as cidades-estado, independentemente da sua organização e localização geográfica. Os gregos eram como muitos povos do Período Antigo e do Clássico politeístas, isto é adoravam várias divindades. Mas existem aspetos que separam muito o politeísmo dos gregos de outras civilizações.

O politeísmo grego foi construído a partir de uma ideia central, como uma medida para a própria existência e significado da vida humana. A religião grega e a sua mitologia foram formas criativas de tão elevado significado que foram motivo de inspiração para diversas obras literárias e artísticas. A Odisseia e a Ilíada são dois dos marcos da memória escrita da Humanidade e são reflexo da Civilização Grega e da sua construção no espaço do Mediterrâneo, mas também como representação da própria vida. 

Há algo nesta civilização que marcou o seu tempo  e influenciará os séculos futuros. Neste olhar encontramos algo tão especial como  essa capacidade de ver como se fosse a primeira vez. Ver a Terra, o Mar, a Vida, os elementos naturais, a complexa realidade que observamos com os sentidos e que tentamos perceber com a razão, numa admiração pelo que é novo e diferente. 
Construir o mundo à medida do Homem, ver nele todas as possibilidades para compreender o que nos rodeia. Dispensar os elementos mágicos, convocando a razão como elemento capaz de compreender o mundo, mas também a natureza humana. Esta ideia de estar desperto para a "eterna novidade do mundo" (Alberto Caeiro), vivendo como se o mundo tivesse acabado de ser criado. 
Tentaram por isso o estudo intenso e maravilhado das mais diferentes Ciências e obtiveram respostas muito satisfatórias, quando os meios de observação ainda eram muito rudimentares. Construíram uma visão do mundo, apenas com a beleza do pensamento, a força de querer conhecer. É uma lição imensa para as possibilidades que a capacidade humana tem. Construíram uma ideia de belo que vale a pena descobrir e que daremos uma ideia sumária em alguns posts sobre a sua representação do belo. 

Para a Civilização Grega os deuses não eram distantes e misteriosos, algo que não se compreende. Na verdade os deuses eram algo próximo e conhecido. Os deuses não eram feitos de ilimitada perfeição, mas sim eram entidades feitas à imagem dos homens e por isso feitos de defeitos, mas também de virtudes. Tinham por isso características humanas, como as que reconhecemos tantas vezes, a crueldade, a vingança, a mentira, a paixão, a beleza, o perdão, entre outras.

Nos deuses gregos encontramos a tentativa de encontrar respostas para o que sucedia, o que se concretizava na existência de oráculos, cuja interpretação era feita por sacerdotes de modo a obter o seu favor. Cada divindade tinha um atributo para esse sucesso na vida e questionada no oráculo e nos templos, onde eram feitas oferendas aos deuses do Olimpo.  As cerimónias e os rituais eram a forma de obter das divindades um favor em relação ao que sucedia ao homem e à sua relação com os elementos naturais.

Assim os deuses na Civilização grega por terem características humanas concederam à religião e à mitologia uma dimensão antropomórfica. O que realmente distinguia na religião grega, os seus deuses dos homens era a imortalidade dos primeiros, e a de serem elementos que podiam assumir a invisibilidade nas formas e de assumirem uma metamorfose das mesmas.

Os deuses viviam num espaço próprio, o Olimpo, que  era o nome do monte mais alto que existia na Grécia. Nesse espaço eram invisíveis aos humanos. Nesse espaço reinavam alguns dos deuses mais importantes. A saber, Zeus (o pai dos deuses), Posídon (Deus dos mares e dos oceanos), ou Hades (Deus do mundo subterrâneo).  Os deuses não existiam para mostrar a bondade, ou o que os humanos deviam fazer, pois eles próprios, os deuses cometiam erros e tinham tentações e angústias, como os humanos. No Panteão dos deuses eles apareciam com todos os seus atributos, o que deixaremos para o o próximo post.

Imagem : © – O templo de Apolo, Corinto.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Biblio@rs (XVIII-II)

 
A Civilização Grega - As manifestações artísticas - a religião II (a guerra de Tróia)

A vida dos gregos confundia-se com a dos seus deuses. Estes assumiam qualidades e paixões humanas, o que lhes dava no Olimpo narrativas quase tão semelhantes como a dos homens na terra. A Guerra de Tróia é dos elementos dessa narrativa. As descobertas no norte da Turquia, em Hisarlik parecem confirmar que ela existiu, mas naturalmente provocada por conflitos comerciais no espaço do Mediterrâneo.
Segundo a lenda, de que a Ilíada dá conta, a Guerra de Tróia foi um conflito armado entre os Aqueus da Grécia e os Troianos que ocupavam uma zona da Anatólia, na atual Turquia. O conflito está datado entre 1300 e 1200 a.C.
O conflito inicia-se devido ao rapto da princesa Helena de Tróia que era esposa de Menelau. O rapto foi conduzido por Páris que era filho de Príamo, filho do rei de Tróia. Indo a Esparta, Páris para tratar de assuntos diplomáticos apaixonou-se por Helena, descrita, como a mais bela mulher. Menelau ficou zangado e organizou um poderoso exército para atacar os troianos, em Tróia.
O cerco grego a Tróia teria durado dez anos, durante o qual morreram Heitor e Aquiles, dois heróis retratados na Ilíada. A guerra terminaria com a construção de um cavalo de madeira. O cavalo seria um presente de paz e simbolizaria o fim da guerra. Os troianos aceitaram e a entrada do cavalo de madeira nas muralhas de Tróia, o que representou a sua derrota e a destruição da cidade.  
A Íliada e a Odisseia referem acontecimentos da guerra de Tróia, quer o desfecho da mesma quer no regresso de um dos seus heróis a Ítaca. Durante muitos séculos acreditou-se que a guerra de Tróia seria mais um dos mitos gregos. A descoberta de Hisarlik parece confirmar que ela foi real. A relação deste episódio com a religião grega muito preenchida por mitos vem dos episódios narrativos em que os próprios deuses se afirmavam por valores de paixão, vingança ou ódio. 

Por exemplo Aquiles, herói da guerra de Tróia está associada a uma lenda, em que a sua mãe terá banhado o seu corpo nas águas de um rio, o que o tornaria invencível, à exceção do seu calcanhar. A derrota que Páris teve sobre Aquiles foi explicada por esse pormenor.  A religião grega juntava deuses, heróis e seres lendários. Aquiles acabaria por ser um deles. No próximo post veremos quais as principais divindades gregas e as suas atribuições.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Biblio@rs (XVII)

 
A Civilização Grega - A organização política (quadro geral) 

A democracia grega e em particular aquela que observámos em Atenas foi o resultado de um processo que durou aproximadamente dois séculos. Antes de construir esta forma de organizar a sociedade Atenas viveu outras formas de organização política.

  • Oligarquia - Forma de governo dominado pelas famílias mais ricas e poderosas, associadas a proprietários agrícolas e a comerciantes. Neste período deve-se destacar o papel reformador em favor dos mais desfavorecidos, de Drácon e Sólon.
  • Tirania - Forma de governo que não durou muito tempo e que se concentrou na figura de Pisístrato (séc. VI a.C.). A palavra quer mais dizer que o governo estava concentrado numa figura, pois não deixaram de existir reformas sociais importantes.
  • Democracia - No século VI a.C., a vida dos atenienses melhorou significativamente e os cidadãos passaram a participar na vida política da cidade. Como medidas mais importantes importa destacar a criação do Helieu (tribunal de justiça)  e da Bulé (Assembleia permanente de Atenas) na administração da pólis. Foi com Péricles que a democracia ateniense se desenvolveu. E, neste sentido o século V a.C., marca o ponto mais elevado de Atenas nos aspetos políticos, económicos e culurais.  A participação na vida da pólis deu grande poder aos cidadãos que, mesmo em caso de necessidade económica recebiam uma renumeração (mistoforias) para se poderem dedicar à gestão política da cidade.
 A democracia ateniense é um das grandes originalidades da Grécia Clássica. Todos os cidadãos com mais de vinte de anos podiam participar na vida da cidade. Tratava-se de uma democracia direta. A palavra significava o poder do demos - o povo. Com Péricles a democracia ateniense desenvolveu-se significativamente e tentou proporcionar mais riqueza aos cidadãos, com maior participação das atividades económicas na gestão da pólis. Muito interessante é o facto de em cada dia, um cidadão guardava a episteta, que continha o selo de Atenas e as chaves dos templos.
A democracia ateniense teve limitações. A participação era exclusiva dos cidadãos, e que eram claramente a minoria dos habitantes da Ática. Nem as mulheres, nem os metecos, nem os escravos podiam participar na vida da pólis. Na verdade cultivava-se o afastamento dos que poderiam ameaçar o regime político pelo ostracismo social, o que revela uma importante limitação da democracia em Atenas. Esta estava dependente de um largo pagamento de impostos, nomeadamente por outras cidades que Atenas controlava através da liga de Delos. Atenas era no fundo uma democracia suportada em ideias de império.

De qualquer modo a ideia foi aperfeiçoada ao longo dos séculos e hoje existe em muitos países em aproximações diferentes. Além de original foi um contributo da Grécia Clássica para os séculos seguintes. 

Imagem: As Cariátides (Acrópole de Atenas - Templo de Erecteion)

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Biblio@rs (XVI)

                                             

                                                       A Civilização Grega - A vida quotidiana II (século V a.C.)


A Civilização Grega não se distinguiu por no seu quotidiano ter habitações muito luxuosas. A grande maioria da população vivia nos campos e a este aspeto se adaptou. De qualquer modo, as  habitações não variaram muito entre o campo e a cidade. Ao contrário dos Romanos, os Gregos achavam que a construção a privilegiar eram as dos edifícios públicos, em especial os templos. A ostentação individual não atraiu muitos os gregos.  

As suas casas eram simples, feitas de barro e madeira sendo o chão de terra batida. As casa tinham genericamente um piso, detinham poucas janelas que ficavam nos pontos mais superiores das paredes e eram cobertas apenas por uma cortina. A habitação era construída a partir de um pátio central, onde se concentrava um poço para reter a água das chuvas e um pequeno altar da deusa Héstia, a deusa protetora do lar.

O interior das habitações tinham diversas habitações. A casa grega separava os espaços entre homens e mulheres. O androceu e o gineceu. No androceu era a área reservada aos homens e que era interdita às mulheres. Pela circulação de homens no androceu ele era quase um espaço público no interior da habitação. O gineceu encontrava-se numa parte da habitação mais reservada e por isso mais interior e recebeu esse nome por ter aí os aposentes das mulheres, os gineceus.  A habitação grega tinha ainda espaços próprios para as crianças e para os escravos.

A cerâmica grega que chegou até nós mostra-nos que na decoração das habitações existiam os mesmos princípios que se encontram no desenho das habitações: reduzidas peças e simplicidade. Mesas, bancos, cadeiras e arcas eram o seu principal mobiliário. Na decoração da casa os mesmos princípios de simplicidade, com a introdução de vasos e outros objetos colocados nas paredes. Nas famílias mais ricas a introdução de tecidos coloridos nas paredes tornavam a habitação mais alegre e sofisticada. Apesar da simplicidade, existiram exceções. Por exemplo no androceu das casas mais ricas o chão era coberto por mosaico de diferentes cores, tamanhos e formas geométricas. Apesar de conhecerem o mosaico feito a partir da pedra e do vidro não o usavam nas habitações particulares, de um modo geral.

A vida quotidiana da Civilização Grega foi marcada pelo trabalho agrícola. Existiam os pequenos proprietários que faziam disso a sua sobrevivência, os proprietários mais ricos que já tinham escravos e faziam da exploração uma forma de construir riqueza e os grandes senhores, donos de grandes propriedades, mas que faziam a sua vida na cidade. Na Grécia cultivavam-se diversos cereais, como a cevada, o trigo e ainda a vinha e a oliveira. Ao lado da agricultura criavam-se diversos tipos de animais, como carneiros, cabras ou porcos, mas também cavalos e vacas.  A produção de mel e a exploração de colmeias acompanhava a vida agrícola.

Os artesãos que executavam diversos ofícios, como o trabalho do couro, do ferro, do barro e da pedra estavam fixos na cidade e tinham espaços próprios para a sua atividade. O comércio e o artesanato eram assim atividades muito desenvolvidas na ágora. A compra de alimentos na ágora era exclusivo dos homens, ficando as mulheres reservadas ao espaço da habitação.  As mulheres fabricavam tecidos em teares artesanais verticais nas suas habitações.  Os tecidos eram sobretudo os de lã ou linho. Estes eram fiados à mão com uma roca ou fuso.

A escravatura foi usada moderadamente na Civilização Grega, não tendo atingido as formas de violências de outras culturas. Os escravos tinham diferentes tarefas e podiam ser usados em tarefas domésticas, ou nas atividades económicas. No entanto, os escravos usados nas minas de prata e nas pedreiras foram os que tiveram uma vida mais difícil e assim não se enquadravam no retrato geral da escravatura na Civilização Grega.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Biblio@rs (XV)

A Civilização Grega - A vida quotidiana I (século V a.C.)
A vida quotidiana grega ficou marcada também no quotidiano por  características muito específicas. O clima influenciou muito um modo de vida "solar", passado muito fora da habitação, Nas diferentes atividades económicas o "estar ao ar livre", fora de casa foi muito cultivado nesta civilização. A vida quotidiana do mundo helénico pode ser conhecida por aquilo que nos foi deixado, obras literárias, cerâmica, escultura, arquitetura e pintura entre outras.

Dos diferentes espaços da pólis, a ágora concentrava aquilo que era uma zona de convívio dos cidadãos e outros habitantes. Ao concentrar edifícios públicos e espaços para o comércio era na ágora que a vida social dos gregos se desenvolvia.  É importante não esquecer que a discussão sobre os problemas da cidade, ou sobre os mistérios da existência interessava muito ao gregos e assim política e filosofia eram temas em discussão na ágora quotidianamente. A ágora funcionava como um espaço de informação e de formação para os habitantes da pólis.

As refeições na pólis eram basicamente duas. O almoço composta de legumes, pão, às vezes peixe. Após o pôr do sol realizava-se o jantar que era semelhante ao almoço. A qualidade da alimentação variava em função das possibilidades económicas de cada família. Os escravos ou os agricultores tinham uma alimentação menos rica que os cidadãos.

Na Civilização Grega bebia-se água, mas também vinho. A existência de muitas taças na cerâmica revela  a importância do vinho nos hábitos da população. As mulheres não podiam consumir vinho, com a exeção de ser em alguns casos considerado como medicamento. Assim elas bebiam essencialmente água, leite e algumas infusões feitas a partir de plantas naturais. as sacerdotisas tinham acesso ao consumo de vinho, pois acreditava-se que assim o seu estado de espírito podia melhor comunicar com as divindades.

Nos hábitos quotidianos dos habitantes da pólis é de realçar que mesmo nos simpósios (festas particulares) as mulheres e as crianças eram afastadas do espaço reservado para isso (o ândron),  inclusive as dos convidados que ficavam no gineceu.  Eram encontros com iguarias mais requintadas, onde a música entrava com grande destaque. Escravas e dançarinas eram as únicas presenças autorizadas além dos homens convidados. A conversa, a recitação de poemas e a música animavam estes encontros.

Na ocupação diária os gregos davam muita importância aos tempos de exercício físico e mental. Estes ocorriam no ginásio e nos jardins destes. Poucas civilizações cultivaram de um modo tão próximo a educação do corpo e do espírito. Isso é algo que vai também influenciar a arte e as produções culturais e artísticas.

As crianças não tinham uma presença muito regular nos espaços públicos. Ficavam quase todo o tempo em casa junto da mãe, com algumas saídas ocasionais à ágora. Aos sete anos de idade e em particular em Atenas passavam a frequentar uma escola que tinha um ritmo de trabalho acelerado em função da idade das crianças. A brincadeira desaparecia nesta idade e havia uma concentração numa formação muito exigente nos campos físico, moral, artístico e intelectual. A educação era a base para a formação dos futuros cidadãos e do governo da pólis

As mulheres tal como as crianças não tinham presença regular nos espaços públicos. A vida era monótona, repetida em ocupações caseiras, pois a elas não era possível participar nas tarefas administrativas ou políticas da pólis. No entanto, e o que será algo muito curioso na Civilização Grega as mulheres podiam ser sacerdotisas.
Imagem: Acrópole de Atenas (destaque para o Pártenon).

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Biblio@rs (XIV)

A Civilização Grega - As cidades  do mundo helénico (século V a.C.)
 O século V a.C., marca o apogeu do mundo helénico. A organização política e social é feita através de cidades-estado, designadas pólis. Duas cidades se destacaram. Esparta e Atenas. A sua organização tem claras diferenças. Esparta organiza-se num regime político em que o poder é controlado por algumas famílias, sendo assim uma oligarquia. Atenas criou um sistema novo até esse tempo, a democracia, em que o povo da cidade através dos seus cidadãos tinham iguais direitos e liberdades. É importante não esquecer que existiam muitas limitações no acesso a se ser cidadão.

Apesar destas diferenças existia uma ideia de comunidade (Koiné) e foi devido a esse sentimento comum que os gregos puderam derrotar os Persas no princípio do séc V a.C. Esse espírito de comunidade era baseado numa mesma língua, na adoração aos mesmos deuses, na adoção do culto do fogo sagrado, na prática dos mesmos jogos e na adoção dos mesmos estilos artísticos. A razão como elemento capaz de orientar a vida humana influenciará de um modo muito particular as suas produções culturais e a própria ideia de cidade. 

As cidades-estado foram muito influenciado pelo modelo criado em Atenas que séculos depois influenciará outras civilizações e até o mundo ocidental. A cidade aparece com espaços que têm determinadas funções. Essas funções organizam o espaço em zonas específicas, que podem ser administrativas, religiosas, comerciais, sociais, ou de da localização da habitação das pessoas. O princípio da função dos espaços é a sua principal característica, de modo  a que a cidade seja uma construção da própria razão daquilo que as pessoas necessitam.  A cidade grega tinha uma construção geométrica, de modo a garantir a sua funcionalidade, a racionalidade das escolhas e um modo uniforme em todas as pólis. Estas tinham assim três grandes áreas:


  • a área sagrada - nela estavam os principais templos e santuários das divindades e encontrava-se num espaço designado acrópole. Esta tem uma muralha e localizava-se num sítio elevado que dominava toda a cidade.
  • a área pública - nesta encontrava-se a ágora que era o centro da vida na cidade-estado; tratava-se de uma praça pública, onde se desenvolviam as atividades económicas e sociais, mas também políticas. Aí se encontravam o mercado, a assembleia dos cidadãos, os teatros ou os estádios para as atividades desportivas. Ainda nesta área encontrava-se a stoa, espécie de arcada com um elevado pórtico, decorado com imagens e estátuas, onde alguns cidadãos discutiam os problemas da sociedade e da vida. A Filosofia, como sede do conhecer  e da procura da sabedoria nasceu igualmente na Grécia.
  • a área privada - nesta área encontravam-se os espaços de habitação. Estas eram modestas, com pouco mobiliário e não era notória na sua construção qualquer distinção social.  A casa era construída em função de um ponto central, um pórtico que recolhia na cisterna a água da chuva.
As cidades-estado formavam um conjunto composto por estas três áreas a que se juntavam os terrenos agrícolas e as zonas de criação de gado. A pólis era na verdade o conjunto de todos estes espaços.

Imagem: Acrópole de Atenas (destaque para o Pártenon)