A literatura nasce de uma necessidade. A de compor no visível uma voz que seja uma experiência emotiva. Na estranheza do mundo, nos seus sinais de absurdo, a palavra pode ser uma salvação, um ritual para construir algo que dê resposta a uma interrogação. A Literatura é a composição de um registo sobre nós próprios, sobre os sinais de uma beleza que emergem do caos, nesse confronto, a Arte e a Vida.
sábado, 12 de dezembro de 2020
Leituras - Manual de sobrevivência de um escritor...
A literatura nasce de uma necessidade. A de compor no visível uma voz que seja uma experiência emotiva. Na estranheza do mundo, nos seus sinais de absurdo, a palavra pode ser uma salvação, um ritual para construir algo que dê resposta a uma interrogação. A Literatura é a composição de um registo sobre nós próprios, sobre os sinais de uma beleza que emergem do caos, nesse confronto, a Arte e a Vida.
sábado, 7 de novembro de 2020
Leituras - Contra mim
Se há assunto em que a Literatura supera a História é nas narrativas de memórias, dessa etnografia que retrata modos de vida, espaços e tempos com o encantamento ou a desilusão de quem as viveu. Às vezes parece quase inexplicável que nestes tempos de grande velocidade tecnológica, de sofisticada mobilidade e de informação generalizada o encantamento pareça distante dos dias. Entre as últimas décadas do Estado Novo e a Democracia o país era de uma pobreza muito substantiva em largas zonas do País, com uma incidência particular no país agrícola e interior. A infância é um país distante, acho eu. Entra-se nele em diferentes latitudes e um dia esse território chegou ao fim e dizem-nos, - you may leave!
Esse país pobre e distante do litoral criava formas de olhar que lhe davam uma riqueza nobre. A infância que é um lugar onde se é pequeno, quase minúsculo vê esse mundo e deslumbra-se entre a urgência de ver o que não entende e a sua experimentação. Ouvir e ver eram as formas supremas de tentar entender, o que era só deslumbramento, onde as coisas tinham cores, cheiros e sabores. Nessas dificuldades de sobrevivência nascia com a infância um espaço de magia, de lugar de referências míticas. Era difícil? Era! Mas tinha um sentido existencial, como se fosse a própria revelação das coisas. Da nostalgia das cores, das formas geográficas e das pessoas subsistia algo como uma aprendizagem, ou uma inserção no que haveria de ser o mundo.
Sobre essa entrada na infância alguns imaginaram
aventuras de respostas impossíveis, como que a demonstrar que o mundo, esse que
fica fora da toca coelho branco é uma irracionalidade. Outros contaram-no
dentro da ternura da própria existência. O meu pé de laranja lima foi um desses
marcos a inaugurar a vivência da infância dentro de um sonho por realizar, nas
franjas do que se anuncia grave e árduo. Valter Hugo Mãe fez o mesmo exercício
sobre o que significou ser criança nesse País pobre, distante do mundo, a
aprender a ser alguma coisa, entre o mistério e o desencanto, entre o sorriso e
os outros. Mas fê-lo com uma imensa autenticidade, inscrevendo-se no tempo, dando o que foi e o que ainda é.
O livro, Contra mim, é uma peça de memória sobre a infância de um escritor, os seus medos, as suas alegrias breves, as suas capacidades para se reinventar continuamente. O livro é de um humor e ternura tocantes e nele se compreende como uma criança se tornou num homem inspirado, com um sentido para encontrar nas palavras e nos outros uma forma de mudar o mundo. A linguagem recria-se com uma substantiva criatividade e ao lê-lo o que nos é dado é uma bela conversação. Um livro pode contar uma história, ou pode falar connosco sobre o que já foi, sobre essa experimentação de criar uma composição de humano. Tudo se alimenta numa experiência e na edificação de uma colecção de palavras que juntas, como as pessoas podem criar novos significados, novos mundos e neles dar sentido à memória dos que partiram, ou até a esses bocados deixados em instantes para serem recriados em cada um.
Contra mim ultrapassa a memória de um crescimento, de uma experiência social e representa o que foi o País em tantos sítios abandonados a si próprios, providos com a magia de quem vê. Lendo este livro ficamos mais uma vez a saber que a escrita das palavras é uma recolha elaborada, sentida sobre um tanque cheio de vozes e memórias, como um sinal de um tempo. Contra mim é uma criança a escrever, entre a sua infância e esses “bocados de Deus”, entre a companhia de um mundo e o que vai sabendo de si, na relação com os outros. Será talvez um dos melhores livros de Valter Hugo Mãe. É sem dúvida, um grande livro, uma leitura afectiva do mundo, como uma criança a escrevê-lo.
domingo, 26 de julho de 2020
Leituras - Raízes da vida
quarta-feira, 24 de junho de 2020
Biblio@rs (XVIII-XXI)
terça-feira, 23 de junho de 2020
Biblio@rs (XVIII-XX)
segunda-feira, 22 de junho de 2020
Biblio@rs (XVIII-XIX)
abandona ao barro o cheiro a mel da sua flor.
No meio, uma árvore de incenso desprende um sacro aroma;
a água está fresca, doce e pura.
carregada de queijo e de pingue mel.
Ao meio, o altar está todo coberto de flores.
Ao deus devem os homens sensatos entoar primeiro um hino,
com ditos de bom augúrio e palavras puras.
com justiça — pois isso é a primeira lisa —
não é insolente beber até ao ponto de se poder voltara casa
sem ajuda de um escravo, a menos que se seja muito idoso."
Imagem: Apolo e as Ninfas, de François Girardon (1666-73), na Gruta de Apolo, em Versalhes
sexta-feira, 19 de junho de 2020
Biblio@rs (XVIII-XVIII)
quinta-feira, 18 de junho de 2020
Biblio@rs (XVIII-XVII)
Heráclito faz uma evolução desta ideia dos pitagóricos e assume que se o real vive um conflito entre unidade e multiplicidade importa viver dentro de uma tensão que é a da própria realidade. O conceito de harmonia em Heráclito é feito não da ausência do que está em desarmonia, mas do todo e do seu equilíbrio. Os pitagóricos do século IV a.C., integrarão as ideias de Heráclito.
Assim no período mais florescente da Grécia clássica a harmonia é construída como um equilíbrio entre entidades opostas. Entidades que se anulam uma à outra e que de uma evidente contradição nasceria uma harmonia fundada no conceito de simetria. A Grécia clássica assume o valor da simetria dentro do conceito de harmonia instaurando um cânone que define o belo.
Imagem: Doríforo , cópia do original de Policleto, 450 a.C., Museu Nacional Arqueológico de Nápoles
quarta-feira, 17 de junho de 2020
Biblio@rs (XVIII-XVI)
Nos seus cabelos o vento se esculpia
A luz rolava entre os seus braços frios
E nos seus olhos cegos e vazios
Boaiava o rasto branco dos navios." (1)
A ideia de belo define-se melhor com a aproximação do século V a.C., pois a ascensão económica e cultural de Atenas permite-lhe ter uma noção mais clara do seu sentido estético. A vitória sobre os Persas no tempo de Péricles permitiu desenvolver de modo significativo as Artes, e, como já vimos, com destaque para a pintura e a escultura.
A reconstrução da cidade, dos seus templos era também uma forma de revelar um orgulho do poder ateniense e permitiu dar um incentivo ao trabalho dos artistas.
Na arte grega a escultura procura a expressão de um belo que se observe nos corpos representados. Os grandes nomes da escultura grega (Fídias, Míron e Praxíteles) procuram realizar um equilíbrio entre uma representação que seja realista, nas formas humanas e o respeito por um cânone (kánon) específico.