sábado, 30 de março de 2013

Na memória da beleza...

Quando vim para cá esperava que fosse possível criar amantes da arte – até agora não fiz nem um centímetro de progresso no coração das pessoas. (…) Mas até agora a solidão não me incomodou muito; encontrei um pôr do sol mais forte e seu efeito na natureza mais interessante.” (1)

Seria necessário algum espaço e muito talento para exprimir com profundidade a vida, o sonho, a consciência, as dificuldades, as ingratas opressões do quotidiano e a arte genial de um dos mais importantes artistas da arte contemporânea. Justamente, Vincent Van Gogh.

A Royal Academy of Arts de Londres tem patente uma exposição que junta alguns dos quadros do mestre holandês com as cartas que ele deixou ao seu irmão Téo e onde compreendemos a dimensão imensa de um homem e de um criador de arte.

Na biografia de Vicent o mais importante são as suas telas, a sua atitude para afirmar a sua consciência no quotidiano de dificuldades, a sua luta por uma sanidade mental que tantas vezes lhe escapou da mão. A sua vida de apenas dez anos de pintura deixou-nos uma obra vasta e rica na emoção e nos sentimentos que quis exprimir.

Na verdade, a arte para Van Gogh era a expressão de uma emoção, a transmissão de uma ideia de beleza. Sendo a realidade de uma evidência que se revela por si mesma em grande imponência, a arte deveria saber representá-la como uma ideia, uma palavra bela e significativa. A Luz, como um imenso sol de cor dourada, impregnando o real de emoção.

As cartas agora desvendadas num trabalho de investigação de quinze anos realizado pelo Museu de Amsterdão que dará lugar à publicação em livro, reflectem um homem diverso, muito distante da imagem que alguns lhe deram, de dominado pela loucura.
Ao contário, elas revelam, que apesar de envolto pela paixão de conter a cor dentro de si e a exprimir também lutava por afirmar racionalmente as etapas de uma vida feita de arte e de ser humano. Para os interessados nas criações de Vincent, fica aqui um recurso disponibilizado pelo Museu de Amesterdão.



(1) Carta ao irmão Téo

domingo, 24 de março de 2013

Amanhecer

Iremos juntos sozinhos pela areia
Embalados no dia
Colhendo algas roxas e os corais
Que na praia deixou a maré cheia. 

As palavras que disseres e que eu disser
Serão somente as palavras que há nas coisas
Virás comigo desumanamente
Como vêm as ondas com o vento.

O belo dia liso como um linho
Interminável será sem um defeito
Cheio de imagens e de conhecimento

Sophia, No Temopo Dividido, Obra Poética
Imagem , pela costa de Esposende

quinta-feira, 21 de março de 2013

Ilhas de azul


"As aves ligam e tecem fio-a-fio a humidade, a névoa constante, o recolhimento, a solidão e o sonho meio adormecido. São a voz da floresta encantada, da floresta submersa e perdida num recanto da ilha." (1)


Se a viagem é um mistério, a descoberta no movimento do que no real nos surpreende e comove, há exercícios de palavras que ambicionam pincelar os sonhos. Ilhas Desconhecidas é um desses raros momentos em que as palavras parecem compreender a vida que emerge do tempo.

Desse tempo geológico, onde vales e montanhas alimentam as flores, os cheiros, as cores e a atmosfera do azul nascente e da névoa que adormece as árvores. A viagem tem aqui a sua essência mais bela, a sua mais particular acção no encontro vivo com o olhar. A viagem como caminho, descobrimento do que sabemos ser.

Os passos e o olhar para a construção do movimento que se inunda da luz, do azul para reconstruir no quotidiano gestos mais ricos e empenhados. Ilhas Desconhecidas é um encontro maravilhado com o mar, o azul, todas as cores que fazem dos arquipélagos da Madeira e dos Açores uma construção de arco-íris de sonhos. Os que repousam nos homens, mas também no oceano, nas nuvens, entre a neblina e a claridade difusa dos elementos.
                            (1) Raul Brandão, Ilhas Desconhecidas
                                    Imagem, in fugas.publico.pt