domingo, 23 de novembro de 2014

A aparência dos dias

"(...) estou sempre a refletir, a ponderar, a tentar ver para lá das aparências. Não me deixo levar  epifenómenos". (José Medeiros Ferreira)

O país vive das pequenas figuras, dos políticos criados nos media, nas televisão cor-de-rosa que alimentam o sistema político, fundamentado nos comentadores que embalam a população na amnésia que as "instituições" tão bem propõem nos seus gestos sem símbolos. O ex-primeiro ministro à chegada ao aeroporto foi preso. As televisões estavam lá, as informações circulam já.

O ex-primeiro ministro, a qualquer indígena com um nível mínimo de inteligência ia percebendo, em longos meses os erros sucessivos, a iconografia da imagem, o apelo maquiavélico de nós e os outros, o bem e os interesses, mesmo quando eram defendidos pelos pobres cidadãos, pelas pessoas indefesas na luta pela sua dignidade. O ex-primeiro ministro foi mais uma figura irrelevante, da longa irrelevância que é a história política do século XX.

Quando saiu, alguns ingénuos acreditaram que a falta do rigor simbólico, a utilização do poder como forma de privilégio, a gestão do bem público neste país, verdadeira caricatura de um sítio apenas, era ainda uma possibilidade. Afinal o país tinha viabilidade, pois existiam os critérios e as instituições para o fundar algo de decente.

A procissão que se anunciou na regência política e na grande maioria, quase exclusiva dos media, suportada nas instituições organizou a maior descrença possível,  a má-fé como instrumento político. Restava a Justiça, esse instrumento de salvaguarda da verdade e do desenvolvimento. A Justiça deu mais um triste exemplo. Também ela vive angustiada sem o protagonismo dos media, como se os seus actos não fossem no silêncio da sua soberania que devessem ser anunciados. 

A Justiça deu mais um contributo para que o país seja só um somatório de vazios, de epifenómenos, de espuma que os do costume, na sua eterna sabedoria anunciarão. O País é pois isto, a incapacidade de integrar as opiniões alheias, por isso se perde em epifenómenos. José Medeiros Ferreira que pensava e sabia o que dizia, ele que poderia ter sido um instrumento de sabedoria na gestão política, se os aparelhos políticos não fossem apenas conservação de poder e ambições.O país é um eterno game over de personalidades sem luz. Existir só e apenas.

Imagem - © Victoria Ivanova