quinta-feira, 30 de abril de 2020

Biblio@rs (V)

 
A Civilização Fenícia   (1500 a 700 a.C.) - A sociedade  e a arte - 

Não deixa de ser curioso que dos inventores do alfabeto não existam grande registos escritos da sua própria cultura. Na verdade o conhecimento da Civilização Fenícia chega-nos muito por fonte indireta, dos povos que os dominaram quer tenham sido os Persas, os Gregos ou os Romanos. A Civilização Fenícia foi algo como uma fénix que soube sobreviver em diferentes aspetos, entre a Idade do Bronze e o início da era cristã, mesmo quando já não existia.

Os Fenícios foram o povo com mais importância no comércio do Mediterrâneo, no Mundo Antigo. Oriundos da zona da Síria e do Líbano ocupavam uma faixa de território na parte mais oriental do Mediterrâneo. Com o desenvolvimento de cidades  junto à costa, como Biblos, Sídon ou Tiro fizeram dos portos naturais e das zonas costeiras espaços de grande comércio. As zonas montanhosas davam-lhes  acesso às florestas de madeira de cedro, um dos seus grandes produtos de comércio. As conquistas de Alexandre no século III a.C, colocariam fim a esta civilização.

Além do comércio praticavam a agricultura de cereais, da vinha, do algodão e do linho. Apesar disso, a sua marca mais importante foi o comércio, através da construção de um conjunto de rotas que os levariam a percorrer todo o Mediterrâneo, alargando a sua influência em toda a costa africana, na Península Itálica e na Península Ibérica. É aceite que tenham chegado às Ilhas Britânicas. Em muitos pontos destas rotas criaram colónias e feitorias e que serviam como locais de comércio. As mais importantes foram Cartago, no norte de África, Palermo no sul da Península Itálica e Cádis na Península Ibérica. Este desenvolvimento comercial foi único no Mundo Antigo e constitui uma das marcas desta civilização.

A civilização comercial dos Fenícios procurava nesses diferentes locais matérias-primas que usava para a produção de diversos produtos. Além das matérias-primas locais procuravam metais preciosos para a produção dos mais diferentes objetos. É de destacar os feitos em  cerâmica, em marfim e em madeira de cedro. Já produziam o vidro, o que aprenderam com os Egípcios, sendo o seu de maior qualidade, mais transparente devido à composição das areias do Mediterrâneo Oriental. Produziam um tinta designada púrpura que era feita a partir de um corante natural, um marisco (O múrice) que era usada para tingir os tecidos.


A Civilização Fenícia produzia os seus produtos numa quantidade assinalável e conseguia colocá-los em largas zonas do seu comércio marítimo. A construção naval foi outra atividade de grande relevo para esta civilização. O fim da civilização fenícia não significou o fim da sua sociedade, pois os povos do Mediterrâneo conscientes da sua superioridade mantiveram muitas das suas formas de trabalho e produção. 

A Civilização Fenícia organizava-se em cidades-estado, um pouco como iria fazer a Civilização Grega, com governos próprios independentes uns dos outros.  Na Fenícia o sistema de governo era uma monarquia chefiada por um rei e que era muitas vezes o mais rico mercador da cidade.  Existiam diferentes grupos sociais como, os artífices, os marinheiros, os camponeses e os escravos.
Das suas atividades culturais, a escrita alfabética foi a mais importante. A escrita das civilizações do Mundo Antigo baseava-se em imagens, o que era muito repetitiva e pouco prática. Com os Fenícios desenvolveu-se uma escrita baseada em sons que eram representados por 22 sinais, a que se deu o nome de alfabeto. Foi do alfabeto fenício que se desenvolveram outras escritas alfabéticas, como a da Civilização Grega e Romana. A invenção da escrita alfabética fez aproximar grupos e povos no espaço do Mediterrâneo.

 A arte da Civilização Fenícia foi marcada pelas viagens comerciais realizadas no Mediterrâneo. Não foi uma arte marcada por uma grande originalidade, mas procurou inspirar-se nos povos que visitava. As sepulturas dos Fenícios são semelhantes às que se encontram, por exemplo na Mesopotâmia.

Construíram altares nas zonas mais altas das suas cidades, onde faziam sacrifícios a divindades que se identificavam com a Natureza.

 Na Arquitetura criaram templos com grandes pátios orientados a partir de um altar principal  e decorados com colunas e estátuas. A verticalidade dos monumentos era a sua principal característica, pois eram monumentos erigidos em pequenos espaços. Nas cidades construíram palácios e templos. Na Escultura representaram divindades e outras figuras em pedra, marfim e terracota. A cerâmica Fenícia foi uma das áreas mais importantes da sua produção artesanal.

A influência de outras civilizações marcou muito a arte funerária, onde se verifica a influência de diversas civilizações do Mediterrâneo, a Micénica,a Grega ou a Egípcia. Influência que se nota ou nos motivos decorados, ou na organização espacial dos túmulos. Realizaram trabalhos em marfim (estatuetas), em ouro, prata, cobre e bronze (objetos para os santuários, jóias, ou moedas), assim como se dedicaram à produção artesanal de mobiliário. Os objetos eram decorados  com elementos do quotidiano ou com representações de animais, ambas muito naturalistas e fiéis à realidade.

Na Pintura as características são idênticas à da escultura, pois as duas incorporavam-se um na outra, fazendo os artesãos a pintura das obras esculpidas nos diferentes materiais.

Biblio@rs (IV-IV)

 
A Civilização Egípcia   (3500 a 500 a.C.) - A arte: A Pintura - 
 
Tal como a arquitetura, a pintura foi uma das atividades artísticas mais importantes da Civilização Egípcia. É interessante verificar que entre o Paleolítico e as pinturas rupestres até a esta civilização, a pintura não teve grande significado. A pintura na Civilização Egípcia serviu o mesmo objetivo da arquitetura, isto é dar conteúdo e contexto aos templos, palácios e túmulos. A utilização da pintura para efeitos do sagrado justificava-se com a ideia de que terminando a vida terrestre com a morte, era preciso construir uma outra dimensão. Dimensão que no casos dos reis, faraós e sacerdotes podia-se prolongar se existisse uma marca da passagem pela vida.

A vida na ideia da Civilização Egípcia tinha uma "essência eterna", o que levou a que a arte na pintura tentasse transmitir algo que não mudaria, apenas se transformaria num plano diverso. As representações aparecem com a cabeça e os pés de perfil e o resto do corpo de frente, assim como as cores contrastavam com os fundos brancos, o que produzia um efeito muito particular.
Na civilização Egípcia ao contrário do que se verificará mais tarde,  utilizava-se sobretudo a técnica do fresco secco, que consistia em aplicar a têmpera (conjunto formado pelos pigmentos ou corantes misturados com materiais como a areia e água) no estuque já seco.

Toda a pintura da Civilização Egípcia se assemelha na forma, pois era uma arte muito intelectualizada, isto é construída para obedecer às hierarquias sociais e às marcas culturais. A apresentação dos olhos para o lado e as representações do resto do corpo eliminavam a ideia de perspetiva e davam às figuras uma aparência de duas dimensões (bidimensional). As imagens da pintura desta civilização eram idealizadas com diferentes representações, de acordo com a importância na própria sociedade.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Biblio@rs (IV-III)


A Civilização Egípcia   (3500 a 500 a.C.) - A arte: A Arquitetura - 

A arquitetura da Civilização Egípcia revela-nos de uma forma exuberante todo o fundamento em que esta se suportou, justamente o poder do faraó e a grandiosidade das suas formas sagradas. Da diversa arquitetura construída destacam-se os templos. os palácios e os túmulos. Embora não se possa deixar de salientar que os mais célebres pela sua construção e significado são as pirâmides. É importante não esquecer, apesar de terem outra dimensão, as mastabas ou os hipogeus.

A religiosidade e os aspetos sagrados são uma forte característica desta civilização. O número e a dimensão dos templos assumem formas inigualáveis no Mundo Antigo e até fora dele, em épocas posteriores. A arquitetura da Civilização Egípcia fundamenta-se na crença de uma vida após a morte e na construção de um sagrado orientado pelos faraós. Estes mandaram edificar para si e para as divindades um conjunto de templos. A grande maioria para fins funerários, que acabariam por se transformar também em locais de culto. O conjunto mais significativo será Abu Simel, situado a sul e mandado construir por Ramsés II.

A necessidade de construir tantos monumentos deveu-se à ideia central desta civilização de que, os deuses deveriam ter um palácio próprio, onde habitavam, à semelhança do faraó que tinha o seu palácio. Neste sentido ambas as construções suportavam-se em critérios de grande riqueza e de uma dimensão espacial considerável. Lugares construídos para Ísis, Osíris, Hórus, ou Ámon tornaram-se construções fascinantes por aquilo que evidenciam.

As primeiras pirâmides que melhor conhecemos são as edificadas no planalto de Gizé. Aqui as pirâmides formam um complexo funerário mandadas construir pelos faraós Quépos, Quéfren e Miquerinos. Ao lado destas três pirâmides existem outras mais pequenas que pertenciam às rainhas destes faraós. As pirâmides tiveram sempre a mesma função: servir de templo para proteger uma múmia. A pirâmide não é um objeto isolado, ela faz parte de um complexo arquitetónico, onde podem surgir pequenos templos, ou as mastabas. 

Ainda não sabemos como as pirâmides eram construídos. É um dos mistérios persistentes desta fascinante civilização, o que nos revela um grau de conhecimento tecnológico muito avançado para aquele tempo. O mistério é tanto maior que nelas  encontra-se o número pi, ou o cálculo exato da duração do ano solar, assim como o do raio da Terra, ou ainda a marcação da direção real do ponto cardeal do Norte.

Nem sempre os faraós eram sepultados em pirâmides. Durante o Império Novo, os faraós e as suas rainhas eram sepultados em hipogeus. Os mais importantes ficavam no chamado Vale dos Reis e Vale das Rainhas, perto da cidade Tebas. Os mais conhecidos e que melhor chegaram ao século XX foram os de Nefertari e de TutanKhamon pela riqueza dos objetos encontrados, dos sarcófagos e das pinturas.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Biblio@rs (IV-II)

A Civilização Egípcia   (3500 a 500 a.C.) - Da organização política às atividades culturais -
De entre as diferentes características fascinantes da Civilização Egípcia, a organização política é uma delas, pois remete-nos para uma figura plena de originalidade, justamente o faraó. Desde 35o0 aC., com a criação do Baixo Egipto, a norte e do Alto Egipto, a sul e com a sua posterior unificação, o Império e a sua gestão numa única figura conduziu à criação da figura do faraó.

O faraó tinha na sociedade egípcia um poder absoluto. Na verdade era considerado um rei-deus o que lhe conferia uma autoridade divina. O Faraó era considerado ele próprio filho de deuses, concretamente Osíris e Ísis e tinha reencarnado do deus Hórus e assim o  seu poder era sagrado e absoluto. Com o poder estendido  a todos os habitantes, o Império era uma monarquia teocrática. A hierarquização dos grupos e das suas funções era muito significativa.

Vivendo no Palácio, o faraó mantinha ao seu serviço uma corte se servos que o serviam  e que o faziam viver num ambiente rodeado de riqueza e de luxo.  A maior das terras trabalhadas pelo faraó eram suas, o que significava que o seu poder sagrado se estendia a todos, na vida e na morte.  O Egipto dos faráos durou cerca de três mil anos e foi governado por trinta dinastias que marcaram a vida do Império de diferentes modos.  Alguns marcariam a memória da História por aspetos particulares. Entre esses podemos destacar, Quépos, Ramsés, Tutancámon, Akhenáton, Nefertiti, Nefratari ou Cleópatra.

A administração do Império era a grande tarefa do faraó, pelo qual era servido por um grupo de funcionários que exerciam  as suas funções no palácio. O Império teve diferentes capitais. No Alto Império foi Mênfis, na zona a norte, no delta do rio Nilo, tendo mais tarde passado para Tebas, a sul. É do período do Alto Império que se iniciou a construção das pirâmides, Quéfren, Quépos e Miquerinos, todas em Gizé, perto da atual capital,  a cidade do Cairo.

A Civilização Egípcia foi marcada por uma grande influência da religião. Era politeísta, isto é adorava e prestava culto a diferentes divindades. Nas próprias divindades existia uma hierarquia, como por exemplo, Ámon-Rá (deus do sol), Osíris (deus dos mortos), Ísis (deusa da fertilidade), Hórus (deus dos faraós e da ressurreição) e Hathor (deusa do amor). Tendo diferentes atributos todas as divindades procuravam construir o mesmo, fundamentar o poder divino dos faraós e o ciclo da vida: nascimento, vida, morte e renascimento. 

As atividades culturais da Civilização Egípcia foram representadas de muitos modos (na arquitetura, na pintura, ou na escutltura - falaremos disso no próximo post). A escrita foi igualmente uma das marcas culturais da Civilização Egípcia. Ela foi muito importante, pois permitiu desenvolver diferentes Ciências, como a medicina, a astronomia ou a astrologia.

A escrita na Civilização Egípcia era hieroglífica. Os sinais representavam palavras, que combinadas formavam ideias e frases. Existem ainda formas por decifrar. Estes sinais representavam objetos, plantas, animais e figuras diversas. Os objetos representados tinham valores diferentes, pois em alguns casos um objeto representava um ideograma, outros tinham valor fonético, isto é indicavam um som. Existiam ainda objetos que funcionam como adjetivos e eram colocados no fim das palavras. 

A maior parte da população conhecia os signos, mas não sabia fazer a combinação e nesse sentido a escrita hieroglífica tinha uma dimensão mágica. O nome hieroglífico é de origem grega, pois o significado atribuído foi a de "imagens sagradas".  Esta forma de utilização da escrita reforçava o poder de alguns grupos, como os  sacerdotes ou os escribas. A escrita era feita em diferentes suportes, desde gravada em templos, em estátuas, em obeliscos e no papiro que era usado para escrever documentos. 

Durante muitos séculos pensou-se que a gravação dos hieroglíficos seria ornamental, apenas decorativa. Apenas no século XIX, com a descoberta da pedra de roseta que tinha inscrições em língua egípcia e em grego foi possível compreender a sua função. Foi através da sua decifração que foi possível conhecer  a história dos faraós, das divindades, dos poemas e dos rituais expressos em orações.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Biblio@rs (IV-I)

A Civilização Egípcia   (3500 a 500 a.C.) - atividades económicas -

Existiram civilizaçaões que deixaram marcas por muitos séculos e que trouxeram consigo marcas e sinais enigmáticos, a tal ponto que ainda as conhecemos com algumas limitações. Uma dessas civilizações é sem dúvida a civilização Egípcia.

A Civilização Egípcia nasceu há cerca de três mil anos a.C., quando as zonas do Alto Egipto no sul, e as Baixo Egipto, no norte se uniram. A Civilização Egípcia durou durante muito tempo, cerca de três mil anos Esse Império pode ser organizado temporalmente em três grandes períodos: 1. O Alto Império (entre 3000 e 2000 a.C.); 2. O Império Médio (entre 2000 e 1700 a.C.) e 3. O Império Novo (entre 1500 e 1060 a.C.). As rupturas cronológicas na histórica da Civilização Egípcia explicam-se pela invasão do seu território por diferentes povos. O fim do Império apenas se concretizou no século V a.C., com a invasão e domínio pelos Persas.

Na verdade, nenhuma civilização durou tanto no tempo como a Egípcia e poucos deixaram tanto mistério e fascínio, como a chefiada pelos Faraós. A civilização Egípcia é em muito, um milagre de um rio, o Nilo. Este acabava por por abrir caminho numa região ainda marcada pela aridez do deserto e que renovava com vida. Foi aí, na parte nordeste de África, entre os desertos da Síria e da Arábia que se desenvolveu uma enigmática civilização. 

Tendo o rio Nilo um percurso superior a mil quilómetros ele fez desenvolver na Civilização Egípcia como grande atividade, a agricultura. As cheias do Nilo iniciavam-se entre julho e outubro, deixando no mês de novembro as terras fertilizadas que eram semeadas com a baixa das águas, ficando as colheitas prontas em março. Toda a Civilização Egípcia dependeu deste ciclo. Não só a agricultura estava dependente do grande rio, mas também a pesca, a criação de gado e o próprio comércio. Houve a necessidade de criar canais e diques para manter os campos irrigados, assim como fazer a drenagem das terras e por isso o espaço do Império se alargou muito para lá dos vales do rio Nilo.

As principais culturas agrícolas eram o linho, os cereais, a vinha, os legumes e os frutos. O papiro foi uma das culturas mais importantes, pois permitia fabricar diferentes objetos, como cestos, barcos e foi suporte da escrita. A base da alimentação das pessoas era o pão (feito a partir do trigo e do centeio)  e a cerveja.

As terras na Civilização egípcia eram trabalhadas pelos camponeses e pelos escravos e pertenciam aos templos, ao Faraó e aos grupos mais privilegiados. Sendo a gricultura a fonte de riqueza e de poder havia um controle muito grande sobre esse trabalho. A cobrança de impostos feita pelos escribas asseguravam a pequenos grupos, a acumulação de grande riqueza.

A civilização Egípcia criou no artesanato grandes peças, pois existiam artesãos com grande habilidade no trabalho de ourivesaria e da metalurgia. Encontraram-se outras formas de produção artesanal como a cestaria, a olaria, a tecelagem, o trabalho com vidro e também a construção naval.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Biblio@rs (III)

Zigurate de Ur - Civilização Suméria (4000 a 1900 a. C.)

Entre 4000 e 550 a. C. desenvolveram-se um conjunto de civilizações que se situaram naquilo que ficou conhecido como o Crescente Fértil. Esta zona situava-se na margem oriental do mar Mediterrâneo, ocupando uma área onde hoje se situam o Egipto, a Palestina e o estado de Israel, O Irão e o Iraque. Neste espaço desenvolveram-se um grupo de civilizações que marcam o início da História e que costumamos denominar o Mundo Antigo.

A primeira destas civilizações foi a Suméria. Com a evolução da revolução agrícola e da metalurgia foi sendo construída a primeira civilização urbana. Situava-se a sul da chamada Mesopotâmia, o atual Iraque num território situado entre o planalto iraniano, o Golfo Pérsico e o deserto arábico. A proximidade de dois importantes rios, O Tigre e o Eufrates que tornavam as terras férteis desenvolveu-se uma civilização com um significativo grau de complexidade. 

Áreas como a escrita, a arquitetura, a estatuária, a matemática, a ourivesaria, a cerâmica,  a tecelagem, a metalurgia, a construção de canais, ou a edificação de templos revela-nos uma sociedade já muito estruturada. Suportada por uma organização política designada de cidades-estado, em que cada uma se organizava individualmente na administração do seu espaço urbano, dos campos e aldeias. as cidades-estado estavam organizados no seu poder político através de um conjunto de instituições suportados num rei e em sacerdotes. 

O palácio e o templo administravam o poder através de um rei, juiz e supremo sacerdote que governava em nome de uma divindade protetora da cidade. Os sacerdotes coordenavam as atividades de organização da agricultura e do comércio. Existiam ainda um grupo de proprietários da terra, os notáveis que eram uma forma de nobreza e que eram funcionários do rei.  Com a invenção da escrita nasceu um grupo muito importante, os escribas e que tinham grande influência no palácio e no templo. Mercadores, artesãos e camponeses ficavam na base da escala social, apenas acima dos escravos.

A civlização suméria era políetista (acreditava em várias deuses) para os quais construiu todo um conjunto de edifícios. Os zigurates eram o nome dados aos templos para adoração das diversas divindades. Eram construídos a partir de barro amassado e misturado com areia, palha. Poucos sobreviveram até aos nossos dias e o de Ur é o mais simbólico, pois foi reconstruído a partir das suas ruínas. Pensa-se que tenha sido construído por volta do ano 2100 a. C.

Os zigurates eram torres em forma de pirâmide de grande dimensão e que tinham a função segundo a cultura suméria de permitir que as divindades descessem à Terra. Servia igualmente como ponto de observação dos astros. Tinham vários andares sobrepostos. A sucessão desses andares procurava simbolizar a ligação que existia entre o Céu e a Terra, ligação feita através dos sacerdotes que usavam este templo religioso.

É importante não esquecermos que foi na Suméria que apareceu o primeiro sistema de escrita, necessária para a contabilidade da produção agríciola e das trocas comerciais. A escrita da civilização da Suméria era feita a partir de símbolos e pictogramas que numa fase posterior evoluíram para  uma escrita cuneiforme. Ligada à escrita também se desenvolveu a contabilidade, tendo existido uma  tabuada suméria. 

Com a escrita surgem os primeiros textos, poemas, orações e códigos de organização e administração das cidades. O mais conhecido e de grande valor cultural foi o de Hamurábi feita em estela de basalto e que tinha várias indicações para a vida quotidiana de cada um.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Biblio@rs (II)

Stonehenge é possivelmente uma das construções mais enigmáticas do período a que chamamos Pré-História e que se situa antes da invenção da escrita. Situado no atual Reino Unido, fica a sul do país, a cerca de cem quilómetros de Londres.  Stonehenge é formado por um conjunto maciço de pedras de grande dimensão posicionado numa posição privilegiada para ver o nascer do sol. Desenhado a partir de um círculo, ele está alinhado com o movimento do nascimento do sol no solstício de verão, justamente, quando se realiza o amanhecer do dia mais longo do ano.

 Stonehenge está datado entre 3100 anos a.C a 2075 anos a.C. Neste sentido, enquadra-se no período da Pré-História a que costumamos designar como Neolítico. Desde o Mesolítico, aproximadamente 12.000 anos antes de Cristo que a Terra sofreu profundas alterações climatéricas, com o aumento da temperatura e o degelo dos glaciares, tendo estes recuado para as zonas polares. A fauna e a flora modificaram-se e as comunidades humanas evoluíram de uma economia de recoleção para uma economia de produção, característica que marca o Neolítico.

A agricultura e a domesticação de animais surgida no Crescente Fértil por volta do oitavo milénio antes de Cristo, em zonas nas margens dos rios Nilo no Egipto, Tigre e Eufrates na Mesopotâmia, mas também em zonas da Ásia e da América Central e do Sul fizeram nascer as primeiras civilizações. O surgimento das primeiras aldeias e cidades tornou-se possível pela sedentarização.

A palavra Neolítico significa "nova pedra". Na verdade da pedra lascada passou-se à pedra polida. Criaram-se novos instrumentos para a caça e para a pesca, mas mais aperfeiçoados. O arco, a flecha,o arpão, o machado juntaram-se a outros inventados, como a mó, a roda e os que derivaram da prática da tecelagem, da cestaria e da cerâmica.  Estes nasceram da necessidade de guardar os excedentes produzidos.

A construção de aldeamentos obrigou a à divisão do trabalho, para poderem partilhar o que produziam.  Foi-se criando uma  diferenciação social em grupos ainda pequenos, os clãs. Nesta divisão social os homens surgem ligados aos trabalhos agrícolas, à caça e à pastorícia e as mulheres dedicadas às tarefas domésticas, mas também a algumas tarefas artesanais. Com o crescimento das aldeias foi-se formando uma especialização das tarefas desempenhadas por alguns elementos. Da diferenciação social que era inicialmente uma forma de partilha comunitária, a acumulação de produção levou à criação de riqueza. No terceiro milénio antes de Cristo a riqueza associa-se à organização do poder. É deste período que podemos encontrar o monumento de Stonehenge.

As comunidades do Neolítico praticaram diversos cultos ligados à fertilidade, de modo a assegurar a capacidade de renovação da natureza.  O homem do Neolítico criou divindades que lhe permitiam acreditar poder contar com a natureza para a sua sobrevivência. As estatuetas femininas, mas também de animais reforçavam esses cultos agrários.

Stonehenge oferece-nos um dos mais belos exemplares da cultura megalítica. Trata-se de um cromeleque formado por círculos concêntricos de pedras levantadas ao alto. A arquitetura deu corpo às crenças da fertilidade, mas também na morte era preciso assegurar uma proteção. É ideia comum que a cultura megalítica tinha a função de dar às comunidades humanas a possibilidade de assumirem a consciência das suas dificuldades. Nessa cultura está igualmente presente a reverência perante a Natureza. Stonehenge é um exemplo dessa cultura megalítica.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Biblio@rs (I)

A gruta de Altamira, situada no município de Santillana Del Mar, no norte de Espanha é um das primeiras grandes manifestações da arte criadas pelo ser humano. Foi descoberta no final do século XX e reconhecido o seu extraordinário valor no início do século XX.

As pinturas da gruta de Altamira conduzem-nos ao Paleolítico Superior e terão sido feitos há cerca 14 mil anos. As primeiras comunidades humanas eram nómadas, pois não sabiam produzir alimentos, vivendo da caça, da pesca e da recoleção. Os grupos humanos vivam em bandos dividindo entre si o espaço e as diferentes tarefas. As grutas, os abrigos nas rochas e as cavernas eram os seus locais de habitação.

Estes grupos humanos dedicaram-se a fazer pinturas de cenas de caça, a que damos o nome de pinturas rupestres, pois eram feitas na rocha. As representações têm uma abordagem muito naturalista, sendo os animais captados no desenho, como os via na Natureza. Durante algum tempo pensou-se que poderia ser esta uma tarefa de registo das suas atividades, porque ligadas à sobrevivência do grupo. É hoje consensual que a principal motivação destas comunidades na construção das pinturas rupestres era criar um ritual mágico. Os desenhos representavam uma forma de apropriação de um significado, a caça e a sobrevivência. 

As pinturas rupestres são uma primeira forma de construção de rituais, em que se procurava antecipar a construção de um poder que permitisse caçar algo, do qual dependiam para sobreviver. Representar o animal era de certo modo conseguir caçá-lo e isso conduz para as primeiras formas de uma religião, como construção de uma ideia sobre o quotidiano. As pinturas rupestres estão ligadas a uma nova forma de vida em comunidade que só foi possível com o domínio do fogo, permitindo cozinhar os alimentos e facilitou a iluminação das grutas e cavernas.

O que fascina em Altamira é a forma como foram aproveitadas as formas e as irregularidades do tecto da gruta, que assim permitiu que os desenhos obtivessem um sentido de profundidade e volume. Os desenhos marcados por bisontes de diferentes tamanhos são representados com muito realismo e com bastante detalhe nos pormenores. Os pigmentos usados revelam-se igualmente de uma tonalidade deslumbrante. De salientar que  estas pinturas eram feitas com os materiais que a Natureza oferecia. a saber, pigmentos extraídos de minerais, carvões, gordura e sangue de animal. As cores mais usadas eram o vermelho, com variações de ocre, negro e amarelo.

domingo, 19 de abril de 2020

Biblio@rs - uma viagem pela história da arte

Biblio@rs pretende ser uma publicação diária sobre arte. Com ela faremos uma viagem necessariamente rápida sobre a História da Arte. Com ela tentamos dar uma amostra de elementos da pintura, da escultura, da arquitetura que marcaram a evolução das sociedades. É assim uma forma de assumir a presença em alguns conteúdos, mas também da de dar forma a algo que precisamos muito e que temos perdido no caminho, o sentido do belo e a sua representação na arte.

Ars é uma palavra de origem latina e que procura significar "arte" e que sintetiza em si um conjunto de técnicas e princípios aplicados à realização de uma obra que foi executada com um sentido de perfeição.  O conceito evoluiu muito, desde o período medieval que significava um modo de aprender, sobretudo através de textos, até ao Renascimento que já significava outra coisa. Justamente a capacidade de executar algo que resultava de estudo e de experiência. Hoje a arte é entendida como a atividade que se dedica a criar objetos que pretendem exprimir emoções ou ideias com valor estético, isto é produtoras de um determinado tipo de sensibilidade. A obra de arte é-nos introduzida quando um objeto que se integra num espaço, numa sociedade assumindo-se como algo referente a um produto técnico e mental produzido pelo Homem.

Em séculos passados, se perguntássemos a qualquer pessoa com alguma educação quais eram os objetivos da música, da poesia, da pintura, elas teriam respondido, a beleza. E se nos perguntássemos por que isso acontecia, qualquer um de nós aprenderia que a beleza é um valor tão importante como a justiça, a verdade ou a bondade. No século XX a beleza deixou de ser um valor essencial. A arte interessou-se mais por quebrar valores morais e procurou não a beleza, mas a originalidade. 

Platão achava que a beleza era o sinal que nos levava a uma ordem superior. Vivemos num mundo aspirando a algo que não conseguimos aceder. Uma das formas de aceder a essa dimensão, de vislumbrar essa dimensão divina das coisas é através da experiência da beleza. Esta quando se revela universal concede-nos instantes de eternidade. Essa ligação feita de um modo espiritual é uma forma de aprendizagem e de superação do próprio Homem. É essa viagem feita de um modo minimalista que aqui propomos, porque também precisamos muito dela, nestes tempos de isolamento.