quinta-feira, 19 de abril de 2018

O gueto de Varsóvia - a coragem


"Shuddering I shall cry:
what for and why
did my people die?"
 (Itzhak Katzenelson   I Had a Dream) 

É uma história amarga, a maior delas. É uma narrativa impossível de explicar, pois não há nela nenhuma racionalidade, apenas a emoção que uma selvajaria animal ainda se faz transportar dentro de algo humano, uma humanidade clonada de formas sem espírito. Passou-se ao som de criações elevadas da capacidade de sublimar a vida, a música, a arte e a literatura. 

É uma história mil vezes repetida, mas nunca a perceberemos verdadeiramente, nunca saberemos explicar porque a morte de milhões de pessoas pôde ser uma alegria, uma sinfonia de vontades vitoriosas. Nunca compreendermos esse esquecimento, essa indiferença da cultura ao sofrimento e à morte que a grande parte da sociedade alemã protagonizou.  E pouco temos aprendido, pois residem entre nós, nas coloridas televisões, nas rádios de risos de plástico a construção por mugglins, de pensamento que diz que nos dizem que a memória é uma ocupação de falhados. Dessas vitórias do empreendorismo, feito do utilitarismo com que novos iluminados habitam no conforto dos gadgets sem ideal humano.

Mas façamos um esforço, reconheçamos a esta meia-dúzia de sonhadores o seu grito e o seu exemplo. O da palavra contra a violência, a explicação, o olhar que procura conhecer, o do testemunho para que se saiba e se conheça, pela poesia, pela crónica, pelas imagens, pelas narrativas. E o seu grito final o de quem compreendeu que o impossível por ser humanamente inconcebível pode ser uma opção dos que vivem com os olhos na morte.

Após dois mil anos de sujeição, de incompreensão, alguns judeus perceberam que apenas lutando poderiam gritar o que sentiam, e tentar, apenas tentar mudar a sorte talhada nos campos de extermínio a que uma sociedade alemã, promessa de um desenvolvimento económico decidia encolher os ombros. Não dizia Heiddeger, o filósofo da imanência do ser que "as mãos de Hitler eram de uma beleza insuperável"?

Lembremos pois esses poucos, que nos mostraram no gueto de Varsóvia que a luta é a melhor forma de defender o que somos, e que embora divididos como o estavam em grupos e movimentos souberam lutar, heroicamente, na Passover, por uma dignidade contra os que apenas os queriam aniquilar. 

Fazem hoje setenta e três anos sobre esse levantamento no gueto de Varsóvia e essa luta de grandeza pela dignidade humana. É possível conhecer esta luta e o que foi a vida no gueto de Varsóvia, naquilo que foi o trabalho desenvolvido pelo historiador Emmanuel Ringelblum e que permitirá mais tarde criar o HolocaustResearch Project. Pela sua vertente pedagógica e informativa, também de grande relevo o UnitedStates Holocaust  Memorial Museum.   

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