domingo, 6 de julho de 2014

O rapto da cidadania

"A moral? A cada um a sua moral! A matéria reina e, em todos os pequenos deuses que se pavoneiam, o ouro é a divindade suprema. O que é bom para o ouro é bom para ti. Portanto, comercializa-te! Adapta-te! Tudo o que te tornar mais rico é útil, e o que, ou quem,não for divertido, não for delicioso, é de facto inútil, pode desaparecer. Toda a gente por si, e ninguém por todos". (1)

Incúria, irresponsabilidade, abandono das pessoas, promessas que nada significam, silêncio nos media ao essencial, corte de iluminados com ligações ao poder político, valor ético das ideias sem compromisso com a dignidade das comunidades, com a identidade de um território.

Os que instalados ainda gritam, democracia, democracia, mas ela não existe, é um fantasma alimentado pelos que fazem do medo a instância da vida. A democracia, pensamo-lo, muitos por ela lutaram poderia ser o garante mínimo de uma sociedade mais justa e solidária. Não fomos capazes, os instalados raramente o quiseram. Uma sociedade onde as tão iluminadas empresas, especialmente dominadas pelo poder político têm na sua essência uma pobre visão do risco. 

As estruturas intermédias não existem, as associações culturais que existem têm pouca influência. A Igreja está calada e não se incomoda com as gritantes desigualdades. Não existe Democracia, pois ela depende de ser exercida com responsabilidade, com valor pela palavra, pelo compromisso e não passivas cerimónias eleitorais que ninguem respeita.

Instalados numa aceitação acrítica de valores, os partidos rumaram na cabotagem de interesses e de facilidades, apenas preocupados como no horizonte se reproduzia o controle do poder. Incapazes de falar a verdade, prometeram o que não podiam cumprir desvinculando as pessoas dos órgãos representativos. 

Os partidos cuja representatividade social é fraca, podem propor pretendentes de exercício do poder que igualmente não são figuras nacionais e não desempenharam na sociedade local projectos de dinamização dessa sociedade. O casting político vive de regras que poucos compreendem e que uma minoria impõe.

Sem incentivo à discussão de ideias, com controle do que os cidadãos devem saber, caminhou-se na actual para as formas concretas de limitar a privacidade dos indivíduos, de os policiar, e de criar uma sociedade totalitária. As imagens que são printscreens de vídeos revelam-nos como os que representam uma soberania mentem oficialmente, ignoram o valor de um território, o património de um país que não conhecem e onde as suas palavras são sempre justificações para o essencial - o poder do dinheiro entregue a uma minoria de privilegiados.


(1) Riemen, R. (2011). Nobreza de Espírito, um ideal esquecido. Lisboa: Bizâncio.

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