domingo, 6 de julho de 2014

A indiferença...

  "Quem vai à escola desaprende de ser gente".(Agostinho da Silva)

A educação, foi durante sucessivas gerações um ideal, uma ferramenta para transformar quadros sociais, económicos e culturais. Se as instituições estão resgatadas a ideias de puro mercantilismo, se a cultura que temos só pode ser a da facilidade, se os valores do espírito são um exercício de lunáticos, se a sociedade se organiza para caminhos fora da civilidade, a escola é, ou poderia ser um dos alicerces para uma transformação de possibilidades.

Um estudo promovido pela Universidade Católica e o Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano retirou um conjunto de conclusões admiráveis. O conhecimento e as habilitações são competências técnicas, não formalizam uma preocupação com os outros, não identificam uma ética humanista. Verificou-se com este estudo que quanto mais elevado é o nível de instrução dos que responderam ao inquérito, menos relevância é dada a questões como a justiça ou a solidariedade.

Lourenço Carvalho, o coodenador do estudo afirma que "são os mais instruídos e os mais ricos que também desvalorizam a justiça e a solidariedade". Consultando os dados e perante a questão de ajudar os outros a percentagem diminui dos 87% (com habilitações de 1º Ciclo) para 53% (com habilitações ao nível de licenciados ou doutorados). A mesma questão colocada a diferentes pessoas com rendimento muito diferenciado varia entre os 87, 4% (com salários de 500 euros) e 46,7 % (com salários superiores a 4000 euros). Na hipotética adesão a uma causa justa, quanto mais instruído, menos relevância é dada.

São dados capazes de nos retirar a respiração, pois eles formalizam a incapacidade da escola de formar humanamente pessoas e revela uma sociedade indiferente nos seus níveis superiores a questões de solidariedade. Como é possível que a formação torne efectiva uma insensibilidade  ao outro, um desvínculo de uma responsabilização individual pelo bem comum? Está também aqui um dos bloqueios a uma alternativa aos fundamentalistas do irrevogável. Há um paradigma em construção que vive de uma amnésia e de uma indiferença. Como dizia Gandhi, "think of it".

Imagem, Bror Johansson, via http://1x.com/

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