sexta-feira, 9 de maio de 2014

O dia da Europa ... a ilusão de uma utopia

Construída na década de cinquenta, concretamente em 1951 a partir do Tratado de Paris que criava a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, a Comunidade Económica Europeia, por sucessivos tratados evoluiria para a União Europeia, numa ambição de incorporar em toda a Europa um mercado aberto de trocas. Muitos ainda confundem os seus objectivos iniciais com um idealismo que estaria na génese de uma comunidade humana construída sobre as realidades culturais locais. No dia da Europa importa discutir esses elementos de informação mal explicados.

A Europa do pós-guerra não foi construída sob a ideia de uma idealismo de um continente apostado numa fraternidade acima das necessidades de crescimento económico. A França liderou um processo político para que a Alemanha tivesse um protagonismo económico, sem o qual a própria França não existiria. A construção europeia foi, desde o início a expressão de uma dinâmica para uma supremacia geo-económica. E foi muito marginalmente uma comunidade de interesses partilhados, de construção de valores humanos ou de um património cultural. Os acontecimentos na Bósnia, às suas portas revelam a sua incapacidade nesse domínio.

No Dia da Europa importa deixar algumas questões no atual contexto. Importa deixar o esclarecimento sobre um unanismo mental conduzido nos media e que não reflete sobre a memória dos povos europeus. Não incorpora as transformações ocorridas na vida quotidiana e nas suas intituições e do seu papel na vida dos cidadãos. É preciso reafirmar  o papel essencial do Estado-Nação e da necessidade de o reabilitar, ao contrário do que se assiste. É necessário que a União Europeia ultrapasse uma gestão burocrática, onde a Democracia é mais aparente que real.

Se a estas praias chegaram os comerciantes de cerâmica grega, as suas moedas e as madeiras do Líbano, não o éramos já há tantos instantes? Se desta costa partimos para o mundo na descoberta de plantas e aromas e a ele devolvemos o conhecimento de Damião de Góis, Duarte Pacheco Pereira ou Pedro Nunes, não o éramos quando tantos povos se limitaram à finitude do espaço continental? Fomos Europeus antes da Europa.

Comerciámos e labutámos no Mediterrâneo, onde pelo azeite e sal arriscámos novos horizontes. Somos Europeus há muito, muito tempo. No tempo em que se escrevia neste continente sons e cores frias, as das ditaduras que em nome de um futuro desconhecido alguns profetizaram manhãs novas onde nunca acordámos. Já nessa altura éramos europeus, porque sempre tivemos entre nós a razão e a dúvida para nos esclarecermos e sempre houve por aqui a procura de manhãs de luz do mar. 

Que Europa afinal propõe a União Europeia? A de um liberalismo capaz de redimir no capital especulativo alguma função social e cultural ou apenas um monopólio dos que já estão instalados, não em convicções, mas nas novas «oportunidades do progresso». Que ideias tem a Europa para as dificuldades que todos sentem? Sabe a Europa e os que a representam pensar sobre ela, antecipar as suas crises, ou é sempre a soma dos interesses dos mais poderosos.  A União Europeia do Directório que o grande Comissário exprimiu é só o de uma supremacia alemã. Nada tem a ver com o pretenso sonho da vonatde dos povos, que nunca foi causa da sua génese.

Que Europa podemos e queremos saber? A das estatísticas, dimensões artificiais da realidade, ou a que tem valores na Saúde, na Educação, na História? A da que em comissões sem valores éticos ratificou a incompetência de gestores e a falência de ricos países ou a das oportunidades construídas? Pode haver História, isto é memória colectiva, sem a usarmos para o presente?

Que valores culturais pretende a Europa desenvolver? Tem mais alguma estratégia que não seja a do contabilista apenas preocupado com a gestão dos seus stocks, ou podemos todos nós ter aqui alguns direitos? Podemos ser pessoas e aspirar à Justiça e ao desenvolvimento da sociedade com respeito por aquilo que é uma Democracia?  Numa palavra têm as instituições europeias capacidade de pensamento, ou apenas reproduzem as categorias do que interessa aos que criaram a supremacia geo-política? No Dia da Europa não pensar no que a envolve, é só mais um desperdício, a somar aos que a Comissão por ausência institucional tem revelado.

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