Construída na
década de cinquenta, concretamente em 1951 a partir do Tratado de Paris
que criava a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, a Comunidade
Económica Europeia, por sucessivos tratados evoluiria para a União
Europeia, numa ambição de incorporar em toda a Europa um mercado aberto
de trocas. Muitos ainda confundem os seus objectivos iniciais com um
idealismo que estaria na génese de uma comunidade humana construída
sobre as realidades culturais locais. No dia da Europa importa discutir
esses elementos de informação mal explicados.
A Europa do
pós-guerra não foi construída sob a ideia de uma idealismo de um
continente apostado numa fraternidade acima das necessidades de
crescimento económico. A França liderou um processo político para que a
Alemanha tivesse um protagonismo económico, sem o qual a própria França
não existiria. A construção europeia foi, desde o início a expressão de
uma dinâmica para uma supremacia geo-económica. E foi muito
marginalmente uma comunidade de interesses partilhados, de construção de
valores humanos ou de um património cultural. Os acontecimentos na
Bósnia, às suas portas revelam a sua incapacidade nesse domínio.
No
Dia da Europa importa deixar algumas questões no atual contexto.
Importa deixar o esclarecimento sobre um unanismo mental conduzido nos
media e que não reflete sobre a memória dos povos europeus. Não
incorpora as transformações ocorridas na vida quotidiana e nas suas
intituições e do seu papel na vida dos cidadãos. É preciso reafirmar o
papel essencial do Estado-Nação e da necessidade de o reabilitar, ao
contrário do que se assiste. É necessário que a União Europeia ultrapasse uma gestão burocrática, onde a Democracia é mais aparente que real.
Se a estas praias
chegaram os comerciantes de cerâmica grega, as suas moedas e as madeiras
do Líbano, não o éramos já há tantos instantes? Se desta costa partimos
para o mundo na descoberta de plantas e aromas e a ele devolvemos o
conhecimento de Damião de Góis, Duarte Pacheco Pereira ou Pedro Nunes,
não o éramos quando tantos povos se limitaram à finitude do espaço
continental? Fomos Europeus antes da Europa.
Comerciámos e
labutámos no Mediterrâneo, onde pelo azeite e sal arriscámos novos
horizontes. Somos Europeus há muito, muito tempo. No
tempo em que se escrevia neste continente sons e cores frias, as das
ditaduras que em nome de um futuro desconhecido alguns profetizaram
manhãs novas onde nunca acordámos. Já nessa altura éramos europeus,
porque sempre tivemos entre nós a razão e a dúvida para nos
esclarecermos e sempre houve por aqui a procura de manhãs de luz do
mar.
Que Europa afinal
propõe a União Europeia? A de um liberalismo capaz de redimir no
capital especulativo alguma função social e cultural ou apenas um
monopólio dos que já estão instalados, não em convicções, mas nas novas
«oportunidades do progresso». Que ideias tem a Europa para as
dificuldades que todos sentem? Sabe a Europa e os que a representam
pensar sobre ela, antecipar as suas crises, ou é sempre a soma dos
interesses dos mais poderosos. A União Europeia do Directório que o grande Comissário exprimiu é só o de uma supremacia alemã. Nada tem a ver com o pretenso sonho da vonatde dos povos, que nunca foi causa da sua génese.
Que Europa podemos e
queremos saber? A das estatísticas, dimensões artificiais da realidade,
ou a que tem valores na Saúde, na Educação, na História? A da que em
comissões sem valores éticos ratificou a incompetência de gestores e a
falência de ricos países ou a das oportunidades construídas? Pode haver
História, isto é memória colectiva, sem a usarmos para o presente?
Que valores
culturais pretende a Europa desenvolver? Tem mais alguma estratégia que
não seja a do contabilista apenas preocupado com a gestão dos seus
stocks, ou podemos todos nós ter aqui alguns direitos? Podemos ser
pessoas e aspirar à Justiça e ao desenvolvimento da sociedade com
respeito por aquilo que é uma Democracia?
Numa palavra têm as
instituições europeias capacidade de pensamento, ou apenas reproduzem
as categorias do que interessa aos que criaram a supremacia
geo-política? No Dia da Europa não pensar no que a envolve, é só mais um
desperdício, a somar aos que a Comissão por ausência institucional tem
revelado.
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