sexta-feira, 9 de maio de 2014

A Europa - uma indiferença cultural

São dois livros muito diversos, escritos por dois grandes pensadores do mundo contemporâneo. Tony Judt é só omaior historiador da sua geração e o mais pertinente da 2ª metade do século XX e Steiner é uma biblioteca viva de um conhecimento humanista acima de qualquer classificação.

Neles encontramos uma reflexão para pensar como pode a Europa integrar o papel dos cidadãos, das memórias, das instituições, da cultura, da língua no que pode ser a União Europeia, acima de uma burocracia indiferente ao humanismo de cada um. É verdade que o livro de Steiner tem um redundnte prefácio de uma figura irrelevante no sentido moral e cultural do que poderia ser a União Europeia, uma figura que demonstrou mais uma vez apenas existir para servir fundamentalismos. O livro de Steiner dá-nos a procura por um sentido cultural da Europa e por isso abre muitas portas, se elas não estivessem fechadas à hegemonia dos interesses económicos da Alemanha.

Com Judt temos, a quem não o tenha ainda compreendido que as uto+ias construídas como ilusões podem ser muito perigosas. Escrito no tempo em que no Tratado de Lisboa os fantasmas festejavam o invisível, deu-nos com muita antecipação o desastre de uma ideia, pois a Europa é muito mais isso que um espaço. Uma ideia feita de equívocos desde os tem em que franceses e alemães fingiam, uns que tinham poder económico e outros poder político.

A Unificação alemã em 1990 destruiu as hesitações francesas e revelou que a União Europeia é hoje o instrumento de uma hegemonia financeira de claros contornos geopolíticos, para os quais as pessoas e as suas culturas nada contam. A Europa nunca nasceu por idealismos do pós-guerra, mas da articulação de necessidades da França e da Alemanha. É a envolvência política e social que explica o desastre económico e revela-nos, mais uma vez como os Lourenços, os Gomes Ferreira e outros afins escrevem e pensam com uma cartilha desenhada na passividade dos media.

Nada na União Europeia inspira a construção de uma identidade europeia. As ideias do valor das culturas nacionais está em franca ascensão, a abstração da unidade está em queda livre pela ausência do reconhecimento do valor humano das pessoas e pelo desastre económico. A diminuição do valor das instituições seculares como a família, os sindicatos, a representação nacional sem valor feita por partidos políticos vendidos a uma nomenclatura de interesses destrói as reduzidas possibilidades do que foi antes uma ideia de solidariedade. 

O claro défice democrático de que a União Europeia vive, a sua negação pelas partes que a compõem em detrimento do favorecimento de uma germanização, a incapacidade política da Comissão pela inclusão de valores que faziam parte da tradição humanista europeia tornaram as suas promessas hoje evidentes formas de engano que só os tolos podem acreditar. Nesta compulsão de valores e acções contrárias, só uma pessoa de grande valor ético poderia conduzir com dificuldade este processo. 

O Comissário nomeado nos últimos dez anos não tinha essas qualidades. É preciso que as instituições sejam servidas com pessoas que incentivem o papel da memória e não façam das escolhas públicas sucessivos actos de fundamentalismo. Quando assim acontece o desastre só não é evidente aos círculos do poder e do jornalismo que alimentam uma anestesia global que apenas mantem os privilégios conhecidos.

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