quinta-feira, 15 de maio de 2014

Leituras - Breviário Mediterrânico

A filologia do mar- rico de inteligência e de poesia, no que mistura de rigor e de temeridade, (...) de precisão científica e de epifania do infinito." 

A viagem, a descoberta de novos espaços iniciou a construção do que somos como civilização. A nossa identidade forjou-se nos espaços azuis do céu, nas gotas de sal que emergem das ondas, nos portos e faróis onde nos abrigámos. Nesta iniciação ao mundo onde se erigiram descobertas e saberes, sabores, alimentos e perfumes, a Europa nasceu e por ela expandiu formas culturais ao mundo.

Dos mares, às rotas terrestres, da mareia às fortalezas marítimas, foi a viagem pelo mar que nos fez culturalmente, como civilização. Este mar no qual nascemos para o conhecimento do mundo, por onde contactámos a história romana com a explosão grega, o desafio árabe e a afirmação europeia é o Mediterrâneo.

Predrag Matvejevitch descreveu em Breviário Mediterrânico, a luz solar, o perfume das laranjeiras, o vento silvestre no olival, onde as azeitonas e o sal fermentam os dias. Com ele aprendemos, o que sentimos nas cidades onde o mar fez soprar o seu encanto por onde perdemos a voz com as sereias. Se a viagem nos fez descobrir o que somos,o mar, com os seus rios interiores e exteriores deu-nos a alegria de redescobrir outras paisagens, outras formas de ser.

O Mediterrâneo é esse caminho estrelar por onde o sol e a luz abrem formas particulares de organização social e económica. O Mediterrâneo, tal como a viagem, a navegação constrói-se na lenda, na geografia, no perfume alto dos pinheiros, nas encostas de figueiras onde já prenunciam as areias do deserto e nas cidades que reflectem as suas aventuras. Todas as palavras são instrumento e memória da linguagem precisa e enérgica que é o milagre do mar. Dando consistência ao particular, juntando no quotidiano as formas imaginativas da civilização. É um pequeno grande livro que supera muito o conhecido Mediterrâneo de Fernand Braudel.

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