terça-feira, 1 de abril de 2014

Jacques Le Goff

“O passado é uma construção e uma reinterpretação constante e tem um futuro que é parte integrante e significativa da história” (1)

Jacques le Goff foi o herdeiro e o canto do cisne de uma ideia de cultura, de participação na sociedade pelo conhecimento que se amava estudar, de uma universidade que era um templo onde a sua passagem era um ritual formador de valores e percursos. 

Jacques Le Goff foi um dos últimos exemplos de um sistema público de educação que formava os que queriam aprender e dar um contributo transformador na sociedade. Nesse tempo só um extra-terrestre seguiria um curso de gestão - era o tempo das Humanidades, de dar uma nova visão do Homem e das suas possibilidades como cidadão.

A Jacques Le Goff devem muito os hstoriadores e os interessados pelo conhecimento do património humano que nos envolve. Foi ele que recuperou o tempo de um século XIII, trouxe-o à nossa memória, fez uma arqueologia, uma antropologia de recuperação do tempo quotidiano, das acções, dos sonhos e das vontades desses homens. Deu-nos os espaços de um silêncio, dos que ousaram criar um caminho. E fê-lo com sabedoria destacando o papel do indivíduo, o valor das mentalidades como estudo e a história-problema como questão essencial da investigação.

Foi o construtor de uma Nova História, requacionando o papel das grandes estruturas, os tempos e a respiração do homem no seu quotidiano. Deu às biografias um papel maior para descrever o sentido da vida do século XIII, mas sempre com recurso ao uso do documento. Os Intelectuais na Idade Média, A civilização do Ocidente Medieval,  São Luís ou o Purgatório são marcos da historiografia.

Em tempos em que só utilitário tem relevância e em que hordas de gestores negam a essência de uma cultura europeia devemos-lhe a sua sabedoria que sempre procurou reconstruir as possibilidades de um território, de uma sociedade para o compreender, em todos os seus átomos de diferenciação. A Jacques Le Goff devemos a demonstração que a História não é o passado, mas a identificação do que nos faz ser.

(1) Michelle Vovelle, Os Historiadores

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