terça-feira, 11 de março de 2014

Livros e leituras - Elogio da Transmissão

"É por isso que lamento que já não se aprenda de cor. Aprender de cor é, em primeiro lugar, colaborar com o texto de uma maneira totalmente única. O que aprendemos de cor muda em nós e nós mudamos com isso, durante toda a nossa vida. Em segundo lugar, ninguém nos pode tirar isso. No meio dos porcos que governam o nosso mundo, a polícia secreta, a brutalidade dos costumes, a censura - e também temos isso na nossa casa sob todas as fomas -, o que sabemos de cor pertence-nos.

É uma das grandes possibilidades da liberdade, da resistência. (...)E o de cor quer dizer: eu participo na génese, na transmissão do poema, tenho o poema em mim. Há uma pequena verdade muito breve, mas quase milagrosa. Nos campos da morte, havia homens, eruditos, rabinos que chamávamos "livros vivos". Eram pessoas que sabiam de tal maneira de cor que íamos folheá-los, que íamos a casa deles para dizer: o que quer dizer este texto? Donde vem? Qual é a boa citação? Poder citar bem é uma das boas condições da liberdade. É precisamente o contrário do pedantismo bizantino.

Sim, creio profundamente que quando abandonamos a aprendizagem de cor - e a criança pode aprender muito depressa, de modo admirável - se neglegenciarmos a memória, se não a mantivermos à maneira do atleta que exercita os seus músculos, então ela definha. Hoje, a nossa escolaridade é de amnésia planificada. A recitação é esquecimento e esvazia-os quando lhes tira aquilo de que são portadores, a bagagem interior. Fica-lhes com os lastro da felicidade para agrande travessia do mar que é a vida."

(Um livro muito interessante sobre essa ideia tenebrosa do relativisno cultural na educação e a afirmação clara,efectiva, da necessidade de acima das condições sociais dar aos alunos o convívio com Flaubert, Goethe, Yourcenar, Proust ou Wilde. Permitir as condições que podem formar uma alegria pela curiosidade, pela criação e pela liberdade)

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