sábado, 8 de março de 2014

Nos jardins de pedra


"(...)por Babilónia, me achei,  
Onde sentado chorei as lembranças de Sião
 e quanto nela passei". 
(Sôbolos rios que vão - Camões)


O céu azul, aberto sobre o horizonte, suspenso em distância. Árvores paradas num parque que respira como uma ilha. Pássaros, pombos que esvoaçam entre o castanho florido que emerge de um silêncio sem vento, onde figuras simples, austeras caminham. Vejo-os caminhar, entre sorrisos perenes, à procura do seu sol, capazes de vencer estes fantasmas com que acordaram do dia.

No jardim a esperança e a dignidade de esperar por aquilo que os faça renascer, de outra vez conquistar todas as possibilidades que a vida parece oferecer aos que respiram as tílias, entre as sombras dos plátanos. Na sala de espera uma coragem ordenada, uma esperança sem fim, um silêncio de quem parece pronto para se reconhecer no essencial, nos gestos mais profundos e aparentemente tão reduzidos no tempo. E entre os silêncios, ainda as oscilações dos sorrisos entre os momentos e a tão difícil doença.

Os seus sinais que os acordam a eles e a nós para uma raridade da vida. Fico com os seus gestos de quem na maior dificuldade honrou dignidade sem limites. Como podemos aceitar que estas pessoas, estas vidas, estes sorrisos corram o risco maior de se apagar como o vento nas árvores?

Que pessoas somos que aceitamos a vida medida por burocratas de ocasião? Tanta coragem demonstrada, num País tão pequeno explorado por liliputenos. Os adiamentos às cirurgias dos doentes oncológicos revela de um modo transparente, como o essencial, o visível do sistema político conjuga uma barbárie com os gestos mais banais do ser.

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