quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Recomeçar...todos os dias

Vejo-a chegar à Biblioteca. É jovem. Traz a filha pela mão. Pede para ficar até as aulas começarem. Apresento-me. Ela fala de si, do desemprego, do trabalho que fazia, das ideias que concretizou, das empresas que pagavam mal, tarde e que lhe negaram uma certificação em tempo útil do que de si deu. Tem um ar meio perdido, à procura de um equilíbrio. Fala-me das ideias, dos projectos, das crianças pequenas e encontro-lhe acima do abandono, ainda a vitalidade de quem acredita,mas já não aqui, neste bocado de qualquer coisa.

Revela uma clareza e precaridade de tantos esforços, tanta formação para quase nada, a burocracia ineficaz, imbecil e incapaz de revelar o que cada um deu. Revejo nela tanta dádiva que tantos têm dado à educação, pela cidadania, à espera da esmola que um conjunto de indiferentes, os sábios do costume, saibam reconhecer em gestos perdidos de decência.

Percebo nela, na sua geração como somos colectivamente qualquer coisa indigna, sem valor, ao serviço da mentira com que os media e os seus actores vestem o mito sem identidade, o país dos fantasmas com que os bem falantes inundam o espaço público. E nas praias tristes do conformismo mora persistentemente qualquer coisa muito distante do que possa ser chamado um País.

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