sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Os silêncios...



"Mantenho, no entanto, o direito de dizer sempre aquilo que sei sobre mim e sobre os outros, na condição única de que tal não sirva para aumentar a insuportável infelicidade do mundo, mas sim para designar, nos muros obscuros que vamos tacteando, os lugares ainda invisíveis ou as portas que podem ser abertas". (Albert Camus, Cahiers)

Entro na sala de professores e adivinha-se uma separação entre o cansaço dos menos novos e uma galhofa dos que perto da meia idade ainda parecem acreditar na ilusão com que o real se faz nas escolas. E vê-se os mais jovens incomodados com esta estupidez censória de levar o jardim de infância ao que os professores devem saber. A infantilidade continua o seu caminhar em exércitos de servidões.

E vê-se um riso, uma graça jocosa dos que achando tudo indefenível, incapaz de ser sério se perdem por esse ridículo na forma e insubstantivo no conteúdo. E os que nada tendo a ver com aquilo remetem o problema para as calendas gregas, para os tempos do convencional e do institucional, nas reuniões de sábios que sindicatos e governo sempre nos brindam.

Olho-os e apresso-me a ir para a aula, para um sistema educativo que se organiza como um imenso ATL de criatividade, onde ler e contar é suficiente, onde a arte e a capacidade tecnológica são já formas gastas e pouco possíveis de respirar. Saio e deixo-lhes a pergunta, se tanta jovialidade se manteria se a prova, a eficiente prova de capacidades fosse para todos? Ninguém liga. O problema diz respeito a uns poucos, aos que não tiveram a sorte, apenas a sorte de entrar num qualquer esquecido lugar com paredes e onde habitam alunos e que ainda se chama escola.

Cá fora, no café da esquina as mesmas senhoras reformadas tentam nas suas perguntas compreender como trabalharam toda a vida e agora já não podem ter o que lhes faz falta para o supermercado, para a farmácia, para os netos...Os polícias manifestaram-se diz uma - agora vão ser poupados! Como se estivéssemos a ser julgados ou condenados e a sorte de uns se medisse por qualquer coisa irrelevante. 

E dou-lhes razão. Os imperadores, no palácio, mesmo os medíocres, costumam vigiar quem guarda a porta. É uma virtude de saber. A que nos ilumina. Essa e o esquecimento, o encolher de ombros que nunca nos incomoda, que nunca nos faz gritar, nem unir pela decência! Lembro-me das palavras de Sophia, o valor da linguagem e o significado das palavras. Já vivemos nessa ditadura mental do conformismo! Que escola se pode construir com tantos silêncios? E que sociedade pode existir onde a razão e o valor humano já desapareceram? Chove lá fora! O país triste emerge da sua longa duração!

                               © Imagem, Dirk Eidner (via http://1x.com/)

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