segunda-feira, 18 de março de 2013

Os sonhos de Murakami


Vale a pena recordar palavras inspiradoras, as que o  escritor japonês Haruki Murakami recebeu no 23º Prémio Internacional da Catalunha, em Junho de 2011. Deixou-nos encantados com um discurso de agradecimento em que deu às palavras a esperança transformadora de nos fazer acreditar nos sonhos como utensílios de um quotidiano a reconstruir. Uma reconstrução onde a beleza dos momentos se adequa com sabedoria à precaridade da existência de todos os seres vivos, onde a transformação dá continuidade a novos momentos em diferentes formas.

Um excerto significativo do seu discurso em que por estas palavras nos ensina a acreditar, com o olhar de quem está habituado a admirar as sakuras e o pirilampos:

"Nesta grande tarefa colectiva, há uma parte que recai sobre os especialistas das palavras, isto é, sobre os que ganham a vida a escrever. Nós temos que ligar a nova ética e o novo modelo a novas palavras. E temos que fazer com que nasçam e cresçam histórias cheias de vida. Devem ser histórias que possamos partilhar. Devem ser histórias que, como canções nas plantações, tenham ritmo e animem as pessoas. Durante muitos anos reconstruímos um Japão assolado pela guerra. Agora temos que voltar a este ponto de partida. (...)

Estou certo que há muitas coisas que podemos partilhar. Penso que seria fantástico se tanto vocês como nós, tanto na Catalunha como no Japão, pudéssemos ser uns “sonhadores pouco realistas”, e pudéssemos formar uma “comunidade espiritual” aberta, que superasse fronteiras e culturas. Penso que poderia ser um bom ponto de partida para a regeneração, depois dos vários desastres e dos ataques terroristas terrivelmente trágicos que temos vivido estes últimos anos. (...)

Não devemos ter medo de sonhar. Não podemos deixar-nos enganar pelas causas dos desastres, que se apresentam com o nome de “eficácia” e “conveniência”. Devemos ser “sonhadores pouco realistas”, avançando em passo firme. Os humanos morrem e desaparecem. Mas a humanidade perdura. É algo que se prolonga indefinidamente. Acima de tudo, temos de crer na força da humanidade."

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