quarta-feira, 5 de abril de 2017

Leituras - Maças silvestres e cores de Outono

A beleza e a verdadeira riqueza são sempre assim, baratas e desprezadas. O Paraíso poderia ser definido como o lugar que os homens evitam.” (1)

Henry David Thoreau é uma das grandes figuras do pensamento de Oitocentos, tendo influenciado decisivamente a formação do movimento filosófico do transcendentalismo que surgiu na Nova Inglaterra em meados do século XIX. A sua obra, influenciada por Ralph Emerson centrou a sua atenção no valor da Natureza e como esta é decisiva para o bem estar do homem e para a experimentação de uma real liberdade.

Conhecido pelas suas obras decisivas, Walden, ou a vida nos bosques, Caminhada, A vida sem princípios, ou ainda A desobediência civil, escreveu na fase final da sua vida alguns artigos que se inserem no Nature writing. Maçãs silvestres e cores de Outono são dois artigos que se inscrevem nos escritos sobre a Natureza e que foram publicados em 1826, na revista The Atlantic Monthly. Não é possível compreender as ideias que influenciaram os movimentos de luta pela auto-determinação no século XX em diferentes continentes, ou os protestos pelos direitos cívicos sem conhecer o pensamento de Thoreau.

Muita da acção pacifista, da verdade inerente a cada homem que Gandhi ou Luther King deram corpo foi influenciada por Henry David Thoreau. Neste sentido o seu pensamento alarga-se muito para lá do século XIX e tornou-se indispensável neste século, pois nele se funda a procura de um sentido vivo da existência.

Quando Thoreau viveu, a América iniciava a sua industrialização. os sinais da massificação eram ainda residuais, mas ele compreendeu que esse mundo poderia destruir a autenticidade da vida humana. E esta estava dependente das lições e do saber gratuitos da Natureza. Maçãs silvestres e cores de Outono são a apresentação da Natureza feita por Thoreau, com as suas caminhadas nos bosques, onde nos faz belas descrições do que observa, temperando as suas palavras com uma evidente lucidez rebelde e uma visão espirituosa do que vê.  

É o mundo natural que se exalta, as suas árvores, os seus frutos, as suas flores, a tonalidade vibrante de cores. Um mundo natural que ensina a beleza simples da vida em maturação e todo o despojamento na metamorfose final. É um grande livro, uma obra de referência que nos ensina a olhar, a saber desfrutar o natural e como este influencia o paladar dos sabores e a nossa reflexão sobre a própria vida.

Maçãs silvestres e cores de Outono é um livro que incentiva a exploração de uma espiritualidade, um sentido ou capacidade de desfrutar a Natureza, as suas árvores, os seus frutos e como eles nos dão algo que está para lá da compra e da venda, um tempo etéreo. Thoreau exalta o sentido da contemplação explorando essa capacidade pouco treinada, a de olhar os pormenores, aquilo que no natural nos rodeia. A Natureza como forma de aprendizagem para a própria essência do homem está no coração da escrita de Thoreau.

A beleza e a felicidade são aprendidos na Natureza para reconquistar o mais importante, "o silêncio, a vida saudável, a contemplação, a tranquilidade, o respeito pelos animais e pelas plantas, bem como uma vivência espiritual e transcendente que se obtém da comunhão com ela." (2)

(1; 2) - Henry David Thoreau. (2016).  Maçã silvestres e cores de Outono. Lisboa: Antígona. 

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