domingo, 2 de agosto de 2015

O país irrelevante...

Sed omnia praeclara tam difficilia, quam rara sunt. (1) 
(Mas todas as coisas excelentes são tão difíceis como raras.) - Espinosa. Ética

O país vive há três séculos com a ideia de sobreviver politicamente em palácios de papel, onde é reconhecido passivamente por uma gloriosa história, os fantasmas do futuro e vivendo economicamente dos créditos que permitam manter uma classe política de privilégios, onde os valores de cultura e cidadania são da dimensão do país das viagens de Gulliver.

 Desde o século XVIII é este o eixo do país irrelevante. Sonharam alguns com o conhecimento, o progresso civilizacional, as ideias, a República e a Democracia. O país é apenas uma soma de caricaturas. Os que o representam sabem disso e nisso vivem. José Saramago perguntou há alguns anos para que serve a esquerda e não obteve resposta, pois a esquerda e a social democracia morreram nas praias da confusão histórica e do dinheiro fácil. 

O enquadramento económico e social dos últimos anos, o golpe de Estado da direita suportado por instituições dominadas pelos interesses estratégicos do neo-liberalismo, onde a a Alemanha organiza a sua superioridade com o silêncio e o colaboracionismo de governos esquecidos do seu papel e da sua função na sociedade. O país está dominado por novas formas de totalitarismo  social e cultural, os janotas que se passeiam nos media, aspirantes para a destruição do sentido mais humano da vida das pessoas.

No fim-de-semana apareceu um cartaz de José Pacheco Pereira armado em guerrilheiro, armado contra o capitalismo em nome desse povo explorado. Trata-se de um cartaz falso. Obviamente. Não é difícil perceber de onde vem a autoria. A iconografia denuncia os valores primários do fundamentalismo. A estupidez é um aliado frequente da incapacidade de ver o real como uma possibilidade de vida e nisso os fundamentalistas foram baptizados para vidas milenares. O cartaz é irrelevante pois é uma espécie de vingança contra quem olha e analisa o real não por ser da esquerda ou da direita, mas apenas para denunciar "os tijolos  que se julgam casas", na expressão de Pessoa. O País parece ter alguns sociólogos, mas todos eles desistiram de analisar a realidade e verificar como as opções o destroem e o peso da mentira no lodo da linguagem que pretende destruir moralmente as pessoas.

José Pacheco Pereira tem desempenhado esse papel de um modo lúcido e desmantelando uma arquitectura de medo e dando-nos as formas para compreender como Democracia, representatividade, a verdade das pessoas se entrelaça com a liberdade. O homem nascido nas ideias universais que Espinosa deu a conhecer que não estaria dependente do dinheiro e dos dogmas que suportam tiranias. A sua importância reside na essência de um País ser uma construção de pessoas, uma comunidade. 

A liberdade política, ensinou-o Espinosa na sua Ética implica saber qual é a sua essência, que possibilidades para o pensamento excluir a superstição e o medo. "Rage against the dying of the light", that's the real issue. Enquanto os que se olham de esquerda ou os que falam em nome dela não o perceberem apenas se pode concluir que o País não é algo mais digno pela infantilidade de quem o deveria pensar e não se une para uma real respiração de decência. Convinha que olhássemos para a realidade não de um ponto de vista ideológico, de verdes e azuis, mas na discussão da sua essência. De modo a encontrarmos a dignidade e o desejo de humanidade que escapa sucessivamente a plateias de bem falantes. A ultra-direita apenas conhece o valor das mercadorias, não o valor das ideias que suportam a decência. As perguntas de se é justo ou aceitável são perguntas que importa voltar a fazer.

Imagem: © - Oscar Lopez

1 comentário:

  1. Claro que é um texto muito bom, muito bem pensado...mas hoje não vou poder escrever mais nada...fica para amanhã ou depois um comentário mais aprofundado...

    Descansa bem

    ResponderEliminar