sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Eleições Legislativas - 2015 (3) - Ler para compreender (II)

The Corporation, file canadiano de 2005 dá-nos uma imagem de grandes empresas que dominam hoje grande parte das decisões que se tomam neste planeta. A Monsanto tenta impedir agricultores indianos de produzirem  as suas sementes. A Carlyle compra presidentes. A Halliburton vende guerras. Centenas de empresas patenteiam códigos genéticos, fazendo da nossa identidade o maior negócio do futuro. Estes monstros económicos são um perigo para as nossas democracias, para a nossa liberdade e para a nossa saúde. São estas obras de Frankenstein que aqueles que se dizem liberais vêem como modelo para as nossas vidas. Psicopatas.


Fernando Pessoa deixou-nos das suas múltiplas marcas a ideia essencial e transformadora que o pensamento, a capacidade de pensar e compreender o que nos rodeia como a mais viva forma de exprimir a inteligência. Daniel Oliveira é um jornalista que se tem dedicado a comentar a realidade, a analisá-la e perceber como os dias da sociedade são definidos. Antes de se terem propostas ou ideias genuínas é preciso possuir algo que uma grande maioria dos comentadores revela em profunda ausência - honestidade intelectual. Daniel Oliveira tem a graça de achar que a política pode ser um campo de luta de argumentos para o esclarecimento que nos pode ajudar a perceber os mecanismos ocultos de formas sociais onde não notemos a justiça, o cosmopolitismo, os princípios fundamentais da liberdade. 
A Década dos Psicopatas é um livro de crónicas, uma selecção de entre as muitas que Daniel Oliveira vem escrevendo no Expresso há já um conjunto significativo de anos. O livro está organizado em cinco capítulos com temáticas específicas:
  1. Românticos e Avençados -  A crise na era dos liberais;
  2. O Espírito da Igualdade -  Estado social e redistribuição;
  3. O dia da Marmota -  Portugal político;
  4. Leões e cordeiros -  O estado do mundo;
  5. A marcha dos pinguins -  Costumes, civilização e media. 

Daniel Oliveira resgata neste livro uma luta por ideias, um rigor pelos factos com que pretende influenciar o real. Vemos nele essa imaginação da alma que procura compreender o modo como vivemos e nesse sentido abrir caminhos para o conhecimento dos outros. O estado deplorável do País, as más escolhas, as cartilhas copiadas, "There is no alternative", as instituições sem soberania pela sua própria ausência cívica estão aqui retratadas. 



A Década dos Psicopatas é um livro a ler pela irreverência com que nos detalha os costumes, a desigualdade social, a pobreza e as falsas argumentações de uma cidadania que se pretende destruir. Sem conhecer não é possível pensar em alternativas. É isso que os partidos se esquecem. Falar das pessoas e das suas dificuldades. Se erramos persistentemente em sombras e em dar voz a quem não nos quer dar voz é apenas e ainda pelo esquecimento que votamos ao mais essencial. A Década dos Psicopatas é um livro para o compreender. Já fez o mais importante - chegar até nós!

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