segunda-feira, 14 de abril de 2014

A esperança dos dias...

Olhando os dias as dificuldades são de herculianas, para tantas pessoas. A sociedade, isto é as pessoas, um vasto número e cada vez maior vivem sob um conjunto alargado de dificuldades. Os idosos com pensões em queda substantiva, crianças sem uma alimentação essencial, famílias perdidas entre um rendimento cada vez menor, uma poder político limitado à sua sobrevivência, num discurso sem alma nem grandeza. Demasiadas esperanças, desde o princípio do regime democrático em 1974, parecem ter conduzido a realidades amargas.

O quotidiano da democracia é comemorado em cerimónias solenes sem brilho, onde o bolor formal, a circunstância exprime o vazio de concretização em tantos milhares de portugueses. As garantias de liberdade de expressão parecem condicionadas por um uso do poder que apenas se justifica perante si próprio. Os escândalos financeiros, próprios de Países onde a distribuição da riqueza não é feita com sobriedade, nem está sujeita a um plano de valores sociais, revela-nos o mais baixo campo de valores, de quem os deveria ter.

Do abandono escolar, ao analfabetismo funcional, da ineficácia de uma justiça mais preocupada com o processo do que com a causa, a uma educação globalmente vocacionada para estar desvinculada dos valores e do conhecimento, de um sistema de saúde limitado na sua oferta de serviços, ao fundamentalismo dos valores individuais em organizações sem funcionalidade, o abuso do poder é apenas o mais
chocante.

Sem caminho traçado, com governantes saídos de um casting medíocre assistimos a um horizonte frágil. O palavreado usado revelador de uma ausência de princípios e de uma desconsideração pela inteligência dos cidadãos revela um poder dominado pela impunidade perante aquilo que degrada a própria democracia. As figuras chamadas da hierarquia superior do Estado tratam os cidadãos sem respeito pela sua inteligência, na mais óbvia sobrevivência dos lobbies partidários que sustentam.

É importante continuar a ter ideias e a defende-las, acreditando que a voz de cada um faz falta para protestar, criticar, sugerir caminhos alternativos. E reconhecer a diferença, mesmo que abandonada numa voz solitária, e resgatar uma vontade de mudar construtivamente. No fundo, tentar dar corpo aos versos de Fernando Pessoa:
«O sonho é ver as formas invisíveis/Da distância imprecisa, e, com sensíveis/movimentos da esperança e da vontade,/ Buscar na linha fria do horizonte/ A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte - os beijos merecidos da Verdade.» (1)
(1) Fernando Pessoa, «Horizonte», in Mensagem
(Imagem, in Mafalda, A Contestária)

Sem comentários:

Enviar um comentário