terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sorrisos de elegância

É a doença. O nome mais terrível que se suspira perante os raios de sol com que ingenuamente pensamos conquistar o mundo e descobrimos que podemos construir o mundo com pouca coisa. Ali vemos que com o sorriso, a luz entre os quartos com que tentamos encher a vida e as suas possibilidades, nos basta. É nesses jardins, em que até as pedras sonham milagres que os vemos com as palavras agarradas às mãos, com lágrimas escondidas entre as sombras do parque.

Nela vemos como nascer é sempre uma forma de doçura, como transportamos fantasmas dóceis para alimentar, como nos alimentamos dos gestos mais simples, como somos filhos de um sorriso, "o resto de elegância ou vaidade" de que fala António Lobo Antunes, nessa atitude de querermos ser essa humanidade eterna que respiramos. Nela vemos a fragilidade, a anemia das palavras escritas em lágrimas, ainda vivas, ainda frágeis. 

Nela e na coragem de todos aqueles que vivem uma doença oncológica e que nos dão pela sua coragem tantos sorrisos para alumiarmos os dias em que por ninharias julgamos merecer a justificação de todas as injustiças. Neste dia em que se comemora a luta contra o cancro é preciso insistir em trazê-lo à luz do dia, discutir as tantas informações que podem ser corrigidas para a vida que levamos.

 A prevenção, a alimentação, as novas terapias, o investimento em saúde. Há em cada um daqueles rostos uma lição de coragem com que devíamos perpetuar mais capacidade de compreender o que somos. Na sua elegância descobrimos a insensatez de sermos aqui mercenários do capital e não solidários com uma ideia essencial - o valor sagrado da vida.
 
Imagem, Wayne Tompson, Sea Garden

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