sábado, 11 de janeiro de 2014

Nos jardins do IPO

Subo o jardim, e vejo o sol entre as flores, o seu perfume que chega pelo ar, entre os que olham do pavilhão central, o mundo, todas as possibilidades, todos os sonhos, todos os desencantos. Vejo-os chegar com a esperança arrumada no bolso, subindo com um sorriso disfarçado a alento que precisam para este caminho.

Sinto-os no silêncio dos olhares, na postura de dignidade com que olham estas paredes, estas salas incolores, por onde a promessa de vida se sente ameaçada nas suas cores mais explosivas. Encontro-os na sala onde tantas esperanças se revisitam para novas possibilidades, onde deuses de bata branca nos inspiram a promessas futuras de novos começos.

Olho-os e sinto o sorriso construído para este momento limite, um sorriso de segundos onde toda a delicadeza emerge para uma identidade em fuga desta sombra que ameaça a respiração. Vejo-os a descer, de volta ao jardim e entre os livros, desenhos de sonhos quase impossíveis, tricot de dias novos, e guardo-lhes esse caminhar ao encontro de um dia possível.

Saio, reparo nos títulos dos jornais, as figuras de um país velho, enclausurado em pequenos privilégios e sinto-me próximo desse sorriso de segundos. O que todas as manhãs explica ao mundo a dignidade do ser, o valor do mais essencial - resistir e reconstruir os dias.
Imagem, Teresa Baião Lopes

Sem comentários:

Enviar um comentário