Sinto-os no silêncio dos olhares, na postura de dignidade com que olham estas paredes, estas
salas incolores, por onde a promessa de vida se sente ameaçada nas suas
cores mais explosivas. Encontro-os na sala onde tantas esperanças se
revisitam para novas possibilidades, onde deuses de bata branca nos inspiram a promessas futuras de novos começos.
Olho-os e sinto o sorriso construído para este momento limite, um sorriso de segundos onde toda a delicadeza emerge para uma identidade em fuga desta sombra que ameaça a respiração. Vejo-os a descer, de volta ao jardim e entre os livros, desenhos de sonhos quase impossíveis, tricot de dias novos, e guardo-lhes esse caminhar ao encontro de um dia possível.
Saio, reparo nos títulos dos jornais, as figuras de um país velho, enclausurado em pequenos privilégios e sinto-me próximo desse sorriso de segundos. O que todas as manhãs explica ao mundo a dignidade do ser, o valor do mais essencial - resistir e reconstruir os dias.
Imagem, Teresa Baião Lopes
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