quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Livros e leituras - As velas ardem até ao fim


Título: As velas ardem até ao fim
Autor: Sándor Márai
Edição: 25ª
Páginas: 160
Editor: D. Quixote
ISBN: 978-972-2020-6-26
CDU: 821.511.143-31"19"
"Uma pessoa sabe sempre a verdade, essa outra verdade que é oculta pelas representações, pelas máscaras e pelas circunstâncias da vida" (pág. 41)

Que perguntas essenciais podemos colocar para entender o significado da vida? Vivemos em gestos quotidianos, sabendo-os como parte das palavras antigas, da memória que herdamos ou somos quase sempre esse esquecimento, o ânimo da beleza que nos surpreende. É a amizade e o amor a pergunta mais difícil, no sentido do que vincula o outro a nós e o afasta de uma parte do mundo? 

Em As velas ardem até ao fim, Sándor Márai dá-nos uma obra-prima, que entre a delicadeza dos gestos criados, usa uma linguagem que emerge para nos revelar a solidão do homem no tempo, os mecanismos supérfulos do poder, os laços que tentamos construir contra os estranhos que em nós moram. É uma narrativa fluida de sabedoria, de desconstrução dos tons obscuros em que as paixões humanas dissolvem as mais belas promessas de beleza e harmonia. 

É a história de uma amizade, de uma paixão e a descrição de um mundo, do seu ocaso, das suas figuras e de um real com os objectos que permitem a ordem no fim de um tempo. É ainda o testemunho de uma construção aristocrática, onde o silêncio e a ordem guardavam  os limites de um mundo construído de compromissos mútuos, dos que outorgam poder e dominação, pelo que conhecemos ou o que não sabemos decifrar.

É no fim, um livro sobre a amizade, essa superior forma de criar laços, sem o desconcerto do amor e das suas manifestações menos harmoniosas. E nesses laços, como separamos a respiração que não nos envolve, o gesto que atraiçoa o que sempre amamos? Pode a solidão e o silêncio das pedras, o abraço da cidade e os olhos da multidão, entre os sorrisos que nos são devolvidos, voltar a reconstruir o momento inicial?

Percebemos em As velas ardem até ao fim, os duelos que enfrentamos na vida, a solidão e a memória e o ideal antigo, do outro, qualquer um, como o amigo que aceitamos inequivocamente. E também, as diferentes formas de conceber o real, o simbolismo dos gestos, o despertar para o momento vital, a dignidade humana. O valor mais elevado sobre os pormenores da paixão, a solidão da noite, a casa antiga da humanidade, onde nos aceitamos no que somos, com os artefatos que moram no nosso coração.

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