segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Humanitas...

"Há uma certa hostilidade em relação ao saber, mesmo a este tipo de saber que é um saber de amador, no verdadeiro sentido do termo. Há mais defesa da ignorância, particularmente da parte daqueles que acham que sabem" ( Revista Ler, Setembro 2013)

Houve tempos em que a nossa relação com o que nos rodeava e com aquilo que respirávamos se construía muito pela reflexão que a materialidade das coisas se nos dava a perceber. A cortina que no real impedia de ver o dia inicial criado, nas palavras de Sophia, um véu de indiferença que não nos fazia compreender a substância da vida, era possível ser respondido com a abertura de possibilidades que o pensamento e o olhar concedia.

Existia a ideia de que a memória, as vozes intermitentes de solidão e sabedoria nos poderiam fazer redimensionar o humano. O livro, a ideia, a participação numa comunidade eram ideias que geriam possíveis formas de cidadania. Nesse tempo, hoje imensamente perdido, importa referenciar quem se dedica ainda, ao gosto pela curiosidade, ao livro, como embalo quente na construção da liberdade. São essas figuras que acima da globalização, aparente verdade de igualdade de oportunidades, nos concedem as diferentes vozes, as aldeias emersas do mundo que pretendem ter uma voz.

É pois possível ouvir quem procura no espaço público conciliar a razão e a virtude, acima das imagens em perpétuo movimento, sem o sentido da individualização. E compreender, acima da psicologia do pequeno facto, na essência, na estruturada relação do real. São a sua voz, na luta contra a falta de uma privacidade que expõe a nossa liberdade e intimidade a uma Estado "autoritário", sem questionamento das acções moralmente aceitáveis ou não, que importa escutar.

Pois essas reduzidas vozes estão no espaço público para nos acautelar das engenharias utópicas que uma minoria instalada em privilégios políticos pretende impor. E importa perceber quem faz da análise uma criação de liberdade e não o mar de comentadores, que aliando uma ignorância civilizacional a condicionamentos políticos retiram possibilidades à expressão da própria Democracia.

As vozes, as que sabem com inteligência e graça perceber o nosso desafio, que mais do que político é moral. Que mais do que quadrantes políticos, a nossa obrigação como sociedade, como indivíduos é combater a ignorância, a estupidez armadilhada e a incompetência dos que chegados ao Poder sem mérito são responsáveis pela falta de dignidade na vida de tantos.

Nessas raras vozes, contrárias à mediocridade reinante, destacamos uma que sabe dar-nos possibilidades à reflexão essencial, justamente José Pacheco Pereira. Herdeiro de uma tradição cada vez mais perdida, importa saber ouvi-lo e agradecer-lhe o seu sentido único de cidadania. Há nele uma educação liberal para o carácter que vemos quase nula em tantos momentos perdidos de um jornalismo sensacionalista e  com pouca alma.

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