terça-feira, 18 de junho de 2013

O Comissário


Acreditámos um dia que seria possível ter uma construção europeia, que se tornasse a pátria da afirmação da liberdade capaz de devolver aos cidadões a esperança que os seus antepassados ajudaram a construir. Imaginando-se um bloco económico e aspirando a um sonho irreal de se constituir uns Estados Unidos da América, a Europa abandonou o pragmatismo de defesa dos direitos concretos dos cidadãos e dos indivíduos.

A Europa preocupa-se imenso, infinitamente com o modo como os castores fazem os seus ninhos, como as focas mergulham no Árctico, mas é incapaz de dicutir com os seus cidadãos a realidade concreta, a vida quotidiana de milhões. É incapaz de pensar o modo de concorrer com a emergência de novas economias, apenas soletrando direitos e raramente os afirmando. A Europa não tem dimensão política e trata a História como uma estranha.

A Europa tornou-se uma inutilidade. A sua postura na invasão russa da Geórgia limitou-se a garantir água quente no conforto das suas casas. Os ideais já não são suportáveis neste tempo de economia política, onde o dinheiro e o interesse económico subjugam tudo o resto. A Europa quer criar um estado político do Atlântico aos Urais e ao Mar Negro mas não sabe defender com energia e com diplomacia os que nesses cantos a leste e a sudoeste querem ter direito aos valores europeus.

A Europa vive uma crise económica profundíssima ao nível do crescimento económico e da sua realidade social. Ouvimos alguma ideia, alguma estratégia da actual Comissão para atenuar as dificuldades, para criar oportunidades de desenvolvimento? Um silêncio que soluça apenas as mais ineficazes banalidades do politicamente correcto.

O Presidente da Comissão Europeia deu-nos ontem mais um exemplo do elevado valor com que a Comissão Europeia olha para a civilização europeia e a sua memória. Usando a terminologia dos seus tempos em que se achava revolucionário, imagina que é a Torre de Babel o paradigma da cultura universal. O srº comissário desconhece que a cultura é uma conversação entre povos e que é na voz individual que atinge a universalidade da nossa finitude. Com esta Comissão Europeia não se vislumbrou nenhuma atitude ou ideia para com essa missão da Europa, nem na defesa do seu património civilizacional, nem do seu futuro como sociedade de pessoas. A cultura francesa estará sempre muito acima dos suspiros ideológicos do Srº Barroso.

A decadência da Europa é, antes de mais consequência de lideranças medíocres. Fruto da ideia de que o futuro está conquistado pela genialidade das instituições europeias, que dispensam os próprios cidadãos de ter opinião. Os arranjos políticos nos grandes salões não garantem nem a tranquilidade no presente, nem a manutenção do conforto material. Eles dependem de líderes substantivos que a Europa não pretende ter. 

A centralidade da globalização e a sua dependência de uma minoria sentada em privilégios descura a universalidade de culturas e é um instrumento para o atraso civilizacional que a União europeia corporiza. À semelhança dos dias perdidos em que vendeu revoluções de encomenda, assinala hoje um vazio cultural que se entrega sem a alma que importava incentivar - a do enriquecimento cultural de uma civilização.

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