"Quem
procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é
necessariamente levado, pelo espírito da verdade que o anima, a procurar
uma relação justa com o homem. Aquele que vê a espantosa beleza do
mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo (...)
somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser." (1)
É
para nós uma figura maior que nos tem inspirado a ver esse real divino
que tanto buscou. A entrada do Blogue deve-lhe essas suas palavras de
assombro e respiração. Gostamos de voltar repetidamente a essa voz que
fala da claridade e da autenticidade como raramente o podemos ouvir.
Escrever o que temos indo registando em diferentes locais é sempre uma
forma de recordar a sua voz de coral.
É
uma das grandes figuras da cultura europeia e mundial, do século
passado e de todos. Nasceu no Porto a seis de Novembro de 1919, onde
passou a sua infância. Mais tarde mudou-se para Lisboa, onde fez os seus
estudos universitários entre 1936 e 1939. Publicou os seus primeiros
poemas em 1940, nos Cadernos de Poesia. Foi uma defensora dos direitos
civis dos presos políticos durante o Estado Novo.
Escreveu
diversos livros de poesia que se encontram publicados autonomamente na
sua obra poética. Podemos destacar Livro Sexto, Navegações, Coral, No
Tempo Dividido ou O Nome das Coisas. Em 2011 para assinalar a exposição
internacional que decorreu na BN foram juntos alguns textos não
conhecidos e agrupada toda a sua poesia num volume imenso de palavras e
descobertas.
Destacou-se
ainda na escrita para crianças em livros como A Fada Oriana, O Rapaz de
Bronze, A Árvore ou A Floresta. Escreveu ainda ensaios e traduziu
autores diversos, como Shakespeare ou Eurípedes, da terra das casas
brancas no azul do Mediterrâneo, de que tanto gostava. Recebeu ao longo
da sua vida vários prémios, como o Prémio Camões 1999 ou o Prémio Rainha
Sofia de Poesia Ibero-Americana em 2003.
Sophia,
deu-nos uma escrita de grande beleza, preocupada com os limites da
existência humana, onde encontramos a simplicidade e o encontro com a
Natureza, em especial o mar. Influenciada pela cultura grega, por esse
mar de casas brancas, onde o sonho, a descoberta de novos horizontes
está sempre presente.
Com
Sophia encontramos o deslumbramento pela palavra, onde a sensibilidade e
a pureza tenta encontrar campos e horizontes de felicidade. As musas do
mundo grego que tanto a inspiraram deram-nos nas suas palavras uma nova
dimensão para o homem. Com Sophia a palavra tem contornos de magia por
onde a dimensão humana se afirma acima de qualquer tempo. Com Sophia
encontramos um deslumbramento permamente:
"(...) mostrai-me as anémonas, as medusas e os corais
Do fundo do mar
Eu nasci há um instante." (2)
Imagem, Sophia desenhado por Arpad Szènes
(1) Sophia, "Posfácio", In Livro Sexto, Caminho
(2) Sophia, "Gráfico", in Coral , Caminho
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