quarta-feira, 20 de março de 2013

Com as palavras de Sophia

"Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito da verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê a espantosa beleza do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo (...) somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser." (1)

É para nós uma figura maior que nos tem inspirado a ver esse real divino que tanto buscou. A entrada do Blogue deve-lhe essas suas palavras de assombro e respiração. Gostamos de voltar repetidamente a essa voz que fala da claridade e da autenticidade como raramente o podemos ouvir. Escrever o que temos indo registando em diferentes locais é sempre uma forma de recordar a sua voz de coral.

É uma das grandes figuras da cultura europeia e mundial, do século passado e de todos. Nasceu no Porto a seis de Novembro de 1919, onde passou a sua infância. Mais tarde mudou-se para Lisboa, onde fez os seus estudos universitários entre 1936 e 1939. Publicou os seus primeiros poemas em 1940, nos Cadernos de Poesia. Foi uma defensora dos direitos civis dos presos políticos durante o Estado Novo. 

Escreveu diversos livros de poesia que se encontram publicados autonomamente na sua obra poética. Podemos destacar Livro Sexto, Navegações, Coral, No Tempo Dividido ou O Nome das Coisas. Em 2011 para assinalar a exposição internacional que decorreu na BN foram juntos alguns textos não conhecidos e agrupada toda a sua poesia num volume imenso de palavras e descobertas.

Destacou-se ainda na escrita para crianças em livros como A Fada Oriana, O Rapaz de Bronze, A Árvore ou A Floresta. Escreveu ainda ensaios e traduziu autores diversos, como Shakespeare ou Eurípedes, da terra das casas brancas no azul do Mediterrâneo, de que tanto gostava. Recebeu ao longo da sua vida vários prémios, como o Prémio Camões 1999 ou o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana em 2003.

Sophia, deu-nos uma escrita de grande beleza, preocupada com os limites da existência humana, onde encontramos a simplicidade e o encontro com a Natureza, em especial o mar. Influenciada pela cultura grega, por esse mar de casas brancas, onde o sonho, a descoberta de novos horizontes está sempre presente. 

Com Sophia encontramos o deslumbramento pela palavra, onde a sensibilidade e a pureza tenta encontrar campos e horizontes de felicidade. As musas do mundo grego que tanto a inspiraram deram-nos nas suas palavras uma nova dimensão para o homem. Com Sophia a palavra tem contornos de magia por onde a dimensão humana se afirma acima de qualquer tempo. Com Sophia encontramos um deslumbramento permamente:
"(...) mostrai-me as anémonas, as medusas e os corais 
        Do fundo do mar
        Eu nasci há um instante." (2)

                                 Imagem, Sophia desenhado por Arpad Szènes
(1) Sophia, "Posfácio", In Livro Sexto, Caminho
(2) Sophia, "Gráfico", in Coral , Caminho

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