sábado, 3 de junho de 2017

O País do costume...

All I have is a voice
To undo the unfolded lie ( W. H. Auden)

A história é antiga. É aliás a única narrativa que a política, palavra sem nobreza neste País consegue construir. Todos as ouvimos, todos sabemos como o esquema político se alimenta de desígnios que são favores praticados para os ganhos estratégicos de empresas que se confundem com interesses particulares dos que foram convidados a geri-las.

A história é antiga. É feita de acrobatas de ocasião, figuras bem vestidas que ignoram o que é a cidadania, ou o que importa para construir uma comunidade de pessoas. História pequena feita das novas formas de totalitarismo social e cultural, praticada por janotas que passeiam nos media uma narrativa de enganos, o empreendorismo galante, capaz de grandes feitos, mas sem o sentido humano das pessoas.

A história é antiga e feita de pequenos actores, onde se representa uma cegueira para as multidões, o sentido irrevogável do sucesso, onde toda a nobreza de espírito se desconhece. Narrativa conhecida e sempre a justificar-se na cor do dinheiro que pequenos iluminados concentram, como se fossem portadores de qualquer capacidade de transformar a sociedade.

A história é antiga. Partidos alimentam chefes de fila que depois agradecem, do alto da sua benevolência. Encontrar em Portugal um banco que não esteja sob suspeita de corrupção ou má gestão é um milagre absoluto. O BES foi essa revelação que nem um património de família importa, antes e sempre a ganância total. 

A EDP que pratica a energia, das  mais caras da Europa é um dos casos mais gritantes de favorecimento. Como as casas construídas neste país são mal calafetadas, pois a generosidade do sr. Mexia é intemporal, é uma pena, ele próprio não calafetar a sua empresa a uma ética de respeito pelo território e pelas pessoas. Estamos em Portugal. Isso é pedir de mais.

Os favores praticados há mais de uma década por sucessivos governos são exemplares. A EDP do senhor Mexia foi amplamante favorecida nos contratos de rendas. Com esse esclarecido da gestão pública, dado pelo nome de José Sócrates, a EDP passou a ter a garantia de construir as barragens que lhe apetecesse, independentemente, de todas as questões ambientais, patrimoniais e de memória envolvidas. Até as chancelarias souberam ser instrumentadas para o superior interesse da EDP.

Ainda ressoam no ar as palavras proféticas de um dos sábios de economia, o jornalista Camilo Lourenço que declarava, entre piadas de infantis jornalistas e música cor-de-rosa que o senhor Mexia era o "CEO do Universo", quem sabe de todas as galáxias. Percebe-se bem onde alguns constroem o seu grande potencial empreendedor.

Portugal é isto. Um conjunto de iletrados funcionais de democracia, onde se patrocinam as relações entre empresas, política e rede de influências. Não mudou muita coisa. Tudo na mesma, a aprência de democracia. Exemplo maior será igualmente o de Daniel Proença Carvalho, um iluminado que consegue ser advogado de figuras politicas de óbvia corrupção e ao mesmo tempo liderar um grupo de comunicação social. As televisões e jornais cor-de-rosa ainda conseguem entrevistar algumas dessas figuras. Não se apoquentem. O desfile de palavras velhas do senhor advogado em salas fechadas à luz ilumina todas as dúvidas. 

A decadência do País é longa. Mantém-se numa crise espiritual, onde não se reconhecem valores culturais, onde a educação não serve para transmistir uma herança civilizacional e onde ninguém sabe responder à importante questão, qual é o nosso ideal de sociedade, que valores temos? Perguntas inoportunas, num país que se vê ao espelho e só vê passado.

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