domingo, 13 de novembro de 2016

Leituras - M Train (I)

Acredito no movimento. Acredito no mundo, esse balão que vai continuando ininterruptamente a sua rotação. Acredito na maia-noite e na hora do meio-dia. Mas em que mais acredito? Às vezes em tudo. Outras vezes em nada. É uma coisa que varia como a luz que vai passando de um lado ao outro de um lago. 
Acredito na vida, que um dia todos nós iremos perder. Quando somos novos achamos que não, que somos diferentes. Em criança pensava que nunca iria crescer, que podia estabelecer isso para sempre. Mas apercebi-me, muito recentemente, de que terei atravessado uma linha inconscientemente escondida na verdade da minha cronologia

M Train é uma narrava fascinante sobre os dias vividos, no sentido que Marcel Proust lhe deu, uma forma de encontrar as memórias no presente, de recuperar o tempo passado. M Train é a apresentação honesta e livre de uma escritora, da sua vida, o seu assombro pelos despojos do vivido, os objectos, as viagens, os escritores, as suas marcas entre o sonho e a realidade. 
 M Train é a formulação de uma melancolia representada num olhar sobre as memórias, nessa indagação que procura saber, se qualquer divagação de pensamento é ainda uma inscrição no tempo real. E se este é coerente com uma vida vivida no presente e reflectida com os despojos do que já passou, do que já já não regressa.
M Train pertence a uma classe muito pequena de livros que têm a capacidade de estabelecer uma conversação, um diálogo com o leitor, retirando de histórias específicas valores de grande densidade humana. Livro que traz consigo uma recuperação mística da memória, um halo de magia sobre o que passou, um mapa sobre o que podemos recuperar, entre os sonhos e a realidade, uma melancolia doce sobre o tempo.

Sem comentários:

Enviar um comentário