domingo, 7 de fevereiro de 2016

Leituras - Carta ao futuro

O que era o País e o mundo em 1957? À excepção de Sophia e de Jorge de Sena, o País era na década seguinte ao fim da 2ª Grande Guerra a manipulação cinzenta de uma fantasia de crianças. O Mundo após o terror alemão conduzido pelos nazis emergia no que alguns consideravam o homem novo, os amanhãs que cantariam. 

Em fins da década de cinquenta o País e o mundo eram a mais profunda sonolência, uma anestesia de vontade por algo que significasse decência e humanidade. É desse ano que Vergílio Ferreira escreve um livro que devia figurar nas estantes de qualquer pessoa com sonhos de compreender a vida e ter nela um papel substantivo.

Vergílio tornou-se mais conhecido. Um pouco mais. Não muito mais. Pois ainda é possível ouvir doutores da formalidade invocar a sabedoria de sebentas, onde palavras comuns desenham gramáticas de compreensão pouco empenhadas nesse sentido que  foi a sua escrita. A da justamente invocar a nossa verdade emotiva, aquela que nos faz apreender o mundo, por cima de códigos ideológicos, ou de confissões do nada. Vale a pena lê-lo. Ele foi um percursor da substância que mora em nós, um leitor da brevidade e da magia de estar vivo.

Com Vergílio Ferreira aprendemos a difícil ética de sermos humanos, compreendemos a necessidade absoluta de olhar o mundo através de um sentimento estético, que apenas a arte nos permite obter. Com Vergílio percebemos que a leitura do mundo faz-se pela nossa emotividade, a quilo que nos faz ter sentido, "a verdade humana" que nos orienta. É no nosso diálogo com uma dimensão estética da vida que o mais essencial de nós se afirma. Nos cem anos do seu aniversário percebamos tão grande lição dada quando muitos gritavam revoluções e impérios universais. Obrigado amigo!

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