segunda-feira, 6 de julho de 2015

As lições de Yanis Varoufakis

Senhor libertai-nos do jogo perigoso da transparência
No fundo do mar da nossa alma não há corais nem búzios
Mas sufocado sonho.
E não sabemos bem que coisa são os sonhos
Condutores silenciosos canto surdo
Que um dia subitamente emergem
o grande pátio liso dos desastres. 

Sophia, "Da transparência". Geografia. Caminho. 1999.


Yanis Varoufakis não foi apreciado como Ministro das Finanças do governo grego. É natural como a luz raiada do golfo de Corinto, esse vento de luz não seja apreciada em comissões de fundações podres como as da UE. Yanis Varoufakis sabia do que falava. Conhecia economia e percebeu desde o primeiro momento que ele teria de conduzir uma luta tão difícil como a de Leônidas na batalha de Termpólidas, em que todas as sombras contam. Yanis Varoufakis revelou-se um outsider, numa organização que apenas gosta de betinhos bem vestidos, camisas italianas em perfumes de Hugo Boss. 

Todo a sua idumentária, o seu meio de transporte, a sua irreverência tornaram obsoletas as aparências de desastre que a UE servida pelos agiotas sempre proclamam desde o início dos tempos. A sua bravura foi imensa, pois na velha tradição grega revelou a ditadura instalada em corredores de papel, da coragem de plástico. Revelou uma luta pela dignidade e pela forma mais ampla do significa Ser.

Yanis Varoufakis desmontou a hipocrisia de anões como Portas ou Passos Coelho, apenas interessados na sobrevivência dos seus privilégios e revelou-nos que há democracias parlamentares que significam soberania de uma Nação e noutras, como Portugal ou França, apenas poder. A substância das suas afirmações conduziu-o para uma difícil relação com os instalados. Sei que aos pobres, aos pensionistas e aos desempregados de Atenas deu consistência, alimentou um sonho de dignidade.  

Compreendeu o papel da Grécia na luta pela Democracia e viu como um enorme monstro global, um novo Minotauro tem destruído a ideia base do trabalho, tornando a cobiça uma virtude. Teremos saudades dele, pois demonstrou que o que temos tido não são políticos, mas apenas contabilistas. Tudo isto não é pouco, sobretudo com um sorriso que alimenta uma coragem. A Democracia se é que a UE a quer é uma assunto de políticos e de cidadãos, não de agiotas.

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