sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

No golden gate

A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos

Durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo

Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração. (1)

Foi há cinco anos que a Madeira amanheceu com um aluvião que levou na corrente sonhos, memórias e quotidianos. Nas palavras e no coração as memórias de uma paisagem humana que foi preenchida pelos nossos sonhos, mesmo agora que a tragédia nos faz duvidar das paredes e dos aromas que aqui experimentámos. Fernando Alves, com a magia e a sabedoria de quem olha com espanto o real que nos é dado a viver, deixa-nos um podcast que dispensa apresentações. A ouvir como uma oração. Aqui

                   (1) José Tolentino Mendonça in A que distância deixaste o coração

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