segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Leituras - Uma vida sem princípios

"Se alguém tiver o hábito de passear nos bosques metade dos seus dias, porque gosta deles,  corre logo o risco de ser considerado como um vagabundo; mas, se passar todos os seus dias como especulador, arrasando os bosques e tornando a terra baldia antes do seu tempo, será louvado como um cidadão empreendedor e habilidoso. (...) 

"Que sentido tem o termos nascido livres se não vivermos livres? Qual é o valor de qualquer liberdade política, a não ser o de fazer possível a liberdade moral? Afinal, de que é que nós nos orgulhamos? Será que nos vangloriamos de ter liberdade para sermos escravos, ou de termos liberdade, para sermos livres?" (págs. 30 e 54).

Henry David Thoreau é um dos nomes essenciais da cultura americana dos séculos XIX e XX, o que quer dizer da nossa própria vivência de contemporaneidade. Thoreau conduziu a sua breve vida pela procura no real do que de mais belo ela nos pode fazer descobrir. A beleza das coisas simples. 

Thoreau percebeu antes de todos os movimentos ecologistas que a vida em sociedade, encostada a chavões de economia, sem real valor pelo que mais significado dá ao seu quotidiano, como ser detentor de uma liberdade moral, deveria encontrar no Universo esse diálogo com o mais interior, a beleza suprema. Não é possível falar de qualquer movimento de luta pelos direitos de minorias, ou de direitos civis, sem pensar na obra de Thoreau. Não é possível abordar os fundamentos dos movimentos não violentos, contra as diferentes tiranias do século XX sem pensar em Thoreau.

A palavra como conceito foi arrastada para significados impróprios, mas o que cada um é no seu melhor, em contraposição contra o Estado dominador precisa de cultivar e com isso contribuir para a comunidade, é justamente a ideia de individualidade. É com ela que Thoreau se debruçou sobre a poesia, a escrita científica, cultivando um inconformismo, nem sempre compreendido, mas absolutamente revolucionário. 

Thoreau ensinou-nos, acima das ideologias e das crenças políticas, que esta é uma área onde encontramos o superficial e inumano com relativa frequência, tendo num tempo de jornais e media sem a dimensão actual, percebido que neles pode morar formas ocultas de governo. E por isso também de focos ilegítimos de poderes económicos, sem legitimação democrática. 

Thoreau falou em textos diversos, para os colocados à margem, para os que olhando para os que lutam arduamente em espelhos  ocasionais, puros de enfermidade, onde a rara decência é tão difícil de encontrar. Uma vida sem princípios, é tal como Walden, ou A vida nos bosques, ou A desobediência civil obras de referência absoluta, sobretudo em tempos de decadência moral profunda.

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