sábado, 21 de junho de 2014

Raindrops

Conselho de turma. 7º ano. Lisboa. 2014. Oito meses de comportamento inadequado por todos analisado, taxa de insucesso elevadíssima, falta de esforço, raro estudo, transformado no dia final num sucesso de 100%. Todos sabemos ali, nos diálogos não traduzidos em palavras impressas que não é verdadeiro. 
Adivinha-se o processo. No decurso do processo de qualquer coisa parecida com uma avaliação, notas de três podem ser dois, conforme o aluno já esteja passado ou não. Avaliamos o quê?

Transições ou trabalho, sucesso, ou conhecimento, empenho ou faz-de-conta? Cadernos de letras redondas e melhores atitudes justificam os milagres desta anunciação. Reprovar não faz bem a ninguém. O mundo está à venda,  a qualquer preço. É só pegar. Queixamo-nos muito, mas na verdade os professores não se respeitam. Assombro final. A acta está muito bem escrita. É demasiado pequena. A Gestão gosta de actas de bom tamanho, como os desertos em dias de suão, vento a rimar nas margens. É um desconsolo. O que é que eu faço aqui?

Poderemos ensinar pensamento crítico em sistemas dominados pelo centralismo democrático, empenado de burocracia sem ideias. É uma excepção. Todos conhecemos demasiadas excepções. Fiquemos com a saudade de onde ainda se pensa a avaliação como um processo de crescimento, de aprendizagem de significados. Regresso ao Porto.

Reencontro alunos. O edifício que alguns ainda chamam educação revela-me mais elementos dessa arquitectura do desastre. Nono ano: Camões e Gil Vicente ficaram na memória do caminho.São muito antigos dirão os novos habitantes nos media da ilusão. Não são mercedores do esforço dos alunos, do seu estudo.

Décimo segundo ano: Pessoa nas brumas do esquecimento, um dos que os alunos mais apreciam, pelas reconstruções e possibilidades de cada pessoa. O mestre da língua, Vieira saiu em perguntas de concurso televisivo. Basta ler. Nada é preciso saber. Tema de escrita: na globalidade do universo, sem referências. Os alunos encontrá-la-ão. O MInistério sabe o que faz.

A "educação" não é pois uma ferramenta para a cidadania. A destruição da sociedade como construção comum de um património tem os seus laboriosos operários iluminados no mais simples utilitarismo. É uma pena, que a escola, não seja, com os professores, uma outra conquista de saber e valor. As maravilhosas palavras de Mandela, "a educação como arma transformadora da sociedade" vale aqui muito pouco. É possível percorrer as estrelas, ainda imaginando que a Terra é o centro do Universo. Poderemos nós como sociedade fazer mais do que murmurar gotas perdidas que não se revelam no real?

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