segunda-feira, 7 de abril de 2014

Recuperar os sonhos perdidos

Porque eu trazia rios de frescura
E claros horizontes de pureza
Mas tudo se perdeu ante a secura
De combater em vão

E as arestas finas e vivas do meu reino
São o claro brihar da solidão. (1)

É um livro testemunho dos que participaram no sonho de construir uma possibilidade nova.  Possibilidade para a qual não estavamos preparados, porque a luz de Abril era de reconquistar uma relação nova connosco próprios. Da madrugada bela e promissora ergueram-se enganos, oportunismos e regressos à única maneira de ser que uma oligarquia burguesa conhece.

 É um livro encantador pelo retarto fotográfico do sonho, mas também como mostra iconográfica de uma evidente ingenuidade e amor pelos outros, por homens que foram o mais nobre que a História Contemporânea  portuguesa conseguiu ser. É um livro em que Adelino Gomes dá provas de um trabalho jornalístico de grande valor e onde os protagonistas, todos eles que quiseram fazer parte do sonho falam sobre o dia e sobre os dias perdidos de quatro décadas.

E é este aspecto em que não costumamos interrogar quem participa no momento, na construção da onda que salpica de esperança os outros que vemos esse desencanto por uma oportunidade perdida em grande dimensão. Percebemos nos seus olhos e rosto cansados a desilusão de uma promessa, a incapaz possibilidade de nos reunirmos sobre os olhos dessa madrugada. Quando se descortinam já os raios bolorentos de um poder que se promove a si próprio, em mais uma mentira ideológica, fiquemos com estes olhares. Eles ainda podem inspirar grandes feitos, grandes sonhos, feitos à medida das nossa luta e da nossa raiva para não fazer desaparecer a luz. 

(1) Sophia, "Poema Perdido", in Coral, págin 92 

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