És tu a Primavera que eu esperava,
A vida multiplicada e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante. (1)
Vinte
e cinco de Abril de 1974 é uma data em que se recorda o movimento de um
grupo de militares que decidiram colocar fim num regime cinzento e
velho, espelho de um País pequeno. Movimento inaugurador de uma
esperança em dias novos, promissores de outros sorrisos.
Neste
movimento que procurou encerrar um regime medíocre, construtor de um
País analfabeto onde o presente era uma prisão de todos os dias, alguém
sonhou mudar as possibilidades, transformar o «estado das coisas».
Alguém sonhou ser possível restaurar a dignidade das pessoas, permitir a
construção de uma comunidade mais justa.
Alguém
imaginou lutar sem saber o que perdia, apenas preocupado com a
determinação, a força do espírito em contribuir para mudar o horizonte
de vida. Sem plano para usufruir do seu gesto, ingenuamente, digamos
quase romanticamnete quis ser apenas o que serve uma causa, a da
liberdade.
Alguém
sem qualquer ideologia, soube até quando lidava com Ditadores ser nobre
e gentil, numa atitude superior, de quem luta apenas contra o vazio das
ideias e a violência da opressão. Alguém que depois de executar a
tarefa, resposta a liberdade, sai com um sorriso não querendo quaiquer
privilégios. Alguém que sabia que não pertence à espuma dos dias em que o
carreirismo emergiria contra a sua sublime dádiva.
Alguém
que sabia que «revolução» é essa luta por «um dia inicial e limpo» onde
se constrói o próprio tempo, como o expressou Sophia. Neste dia de
gestos repetidos, de imagens em que o passado parece ser ainda um
crédito para um presente por construir, recordemos a coragem do Ser de
um homem muito especial.
No
vinte e cinco de Abril, deixemos-lhe um agradecimento vivo. E saibamos
compreender o gesto maior de fazer, de lutar, de ser só porque isso é o
que está certo, independentemente das consequências. Nesta data um
aplauso vivo a Salgueiro Maia. Ele compreendeu de uma forma superior o que em quarenta anos não percebemos, o 25 de Abril era uma oferta para uma nova relação connosco próprios, o dia branco de possibilidades e não só e apenas o arrumar de ideias fragmentadas sem solidariedade no olhar.
(1) Sophia, «Promessa», in Coral
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