sexta-feira, 25 de abril de 2014

Na alvorada ... das possibilidades

Promessa

És tu a Primavera que eu esperava,
A vida multiplicada e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante. (1)

Vinte e cinco de Abril de 1974 é uma data em que se recorda o movimento de um grupo de militares que decidiram colocar fim num regime cinzento e velho, espelho de um País pequeno. Movimento inaugurador de uma esperança em dias novos, promissores de outros sorrisos.

Neste movimento que procurou encerrar um regime medíocre, construtor de um País analfabeto onde o presente era uma prisão de todos os dias, alguém sonhou mudar as possibilidades, transformar o «estado das coisas». Alguém sonhou ser possível restaurar a dignidade das pessoas, permitir a construção de uma comunidade mais justa.

Alguém imaginou lutar sem saber o que perdia, apenas preocupado com a determinação, a força do espírito em contribuir para mudar o horizonte de vida. Sem plano para usufruir do seu gesto, ingenuamente, digamos quase romanticamnete quis ser apenas o que serve uma causa, a da liberdade.

Alguém sem qualquer ideologia, soube até quando lidava com Ditadores ser nobre e gentil, numa atitude superior, de quem luta apenas contra o vazio das ideias e a violência da opressão. Alguém que depois de executar a tarefa, resposta a liberdade, sai com um sorriso não querendo quaiquer privilégios. Alguém que sabia que não pertence à espuma dos dias em que o carreirismo emergiria contra a sua sublime dádiva.

Alguém que sabia que «revolução» é essa luta por «um dia inicial e limpo» onde se constrói o próprio tempo, como o expressou Sophia. Neste dia de gestos repetidos, de imagens em que o passado parece ser ainda um crédito para um presente por construir, recordemos a coragem do Ser de um homem muito especial.

No vinte e cinco de Abril, deixemos-lhe um agradecimento vivo. E saibamos compreender o gesto maior de fazer, de lutar, de ser só porque isso é o que está certo, independentemente das consequências. Nesta data um aplauso vivo a Salgueiro Maia. Ele compreendeu de uma forma superior o que em quarenta anos não percebemos, o 25 de Abril era uma oferta para uma nova relação connosco próprios, o dia branco de possibilidades e não só e apenas o arrumar de ideias fragmentadas sem solidariedade no olhar.
 (1) Sophia, «Promessa», in Coral

Sem comentários:

Enviar um comentário