quinta-feira, 17 de abril de 2014

Do oráculo das mentiras

"A ditadura perfeita terá as formas da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros nem sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão"

Aldous Huxley criou uma obra literária onde imaginou uma cidade, uma sociedade humana no futuro dominado por distopias, onde a tecnologia e a organização política de uma burocracia dominaria os cidadãos. George Orwell explicou no decurso do século XX, os mecanismos reguladores das ditaduras autocráticas, naquilo que foi o pior do espírito humano no século XX. 

A grande travessia do século passado por uma dignidade humana fez-nos crer que existia um valor civilizacional pelo qual uma sociedade humana organizaria princípios e valores mínimos de decência e difnidade. A sociedade democrática criada pelo mundo contemporâneo, pelos direitos naturais do homem, consagrados na revolução americana representava essa construção de uma sociedade aberta. Este tipo de sociedade só pode existir com a mínima dignidade e segurança respeitando os seus fundamentos. A razão nos princípios de decisão, a Lei como garantia de consolidação individual dos direitos e a separação dos poderes. Tudo isto pressupõe um acesso livre, seguro, garantido à informação. Portugal após três décadas de um limitado estado social vê esses mecanismos alterados nos seus fundamentos.

Há hoje organizada por uma ultra-direita política, a que solidifica os valores mais mesquinhos de uma burguesia sedenta de ganância pelo dinheiro e pelo poder, a construção de uma engenharia social de manutenção de privilégios de uma minoria. Construído sobre um discurso onde se faz a divisão de nós e os outros, os jovens e os velhos, os que estão ao nosso lado com mais qualquer coisa e que importa abater, edifica-se uma tirania. Sistema sustentado por um círculo de jornalistas que em suportes diferentes vive no círculo do poder e reproduz os seus interesses. Aparência de democracia sustentada institucionalmente por órgãos de soberania para quem o poder de privilégios da minoria instalada é aceitável.


As acções são irrelevantes, qualquer afirmação não tem implicação no real e todos os que propõem pensar alternativas são classificados como lunáticos, anti-patriotas, pois as pessoas não estão consideradas como elementos do sistema político. Há uma ausência absoluta de afectividade para a construção de uma comunidade de valores e de pessoas. A minoria instalada apenas se governa pelos interesses nacionais e europeus a que importa satisfazer, pois tal como o senhor Gaspar demonstrou as recompensas para os altos serviços estão ao virar da esquina.

Gostamos de nos afirmar democráticos, mas somo-lo apenas na aparência. Não é a Democracia o estabelecimento de um contrato eleitoral entre os representantes e os representados? Como se pode então assistir a um desvio tão profundo na prática democrática? Vivemos de facto um tempo de modernidade e ainda assim ansiamos numa longa fila de figuras cinzentas à espera que Portugal seja como Almada dizia «algo de decente?» 

Assistimos a um governo que aspira apenas a fazer da governação aos seus cidadãos, «uma mera execução técnica sem a garantia de deveres cívicos», como o explica Miguel Real. Não há pois uma ideia de comunhão de valores e a liberdade de que tantos falam não consegue ser a que mais importa, a oposição ao abuso de autoridade que o governo do senhor irregovável e clones semelhantes fazem.

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