sexta-feira, 14 de março de 2014

O livro e a leitura

"(...) Santo Ambrósio, que constava ter encontrado uma maneira de ler sem dizer as palavras em voz alta (...) ainda me impressiona que possamos compreender palavras sem as pronunciarmos.

Para Santo Agostinho, o peso e a vida interior das frases sentia-se melhor se ditas em voz alta, mas muita coisa mudou desde então. Ensinaram-nos durante demasiado tempo que um homem a falar sozinho é sinal de excentricidade ou de loucura.

Deixámos de estar habituados à nossa própria voz, a não ser em conversa ou no meio de uma multidão aos gritos. Mas um livro também suscita conversa: uma pessoa está a falar com outra e o som audível é natural, ou devia ser, na troca que se produz. É por isso que leio em voz alta, sou o espectador de mim mesmo e dou voz a palavras de outros."

Teju Cole, A cidade aberta, pág. 13-14

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