terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Lamiaes - À sombra de uma ilusão educativa

Acreditamos que a educação é o suporte de uma consciência cultural e cívica que nos faria evoluir, progredir como pessoas, contribuir para uma sociedade capaz de ser digna e decente, possível de dar voz à respiração individual, aos seus sonhos, mas também às suas capacidades. Aprendemos que uma sociedade é uma construção conjunta, um edifício de boa vontade, fundamentada no conhecimento, nas pessoas, nas instituições, numa discussão pública que valorize a cidadania e a solidariedade. 

Imaginamos que novas ferramentas tecnológicas aprimoriam as possibilidades de expressão, as capacidades de conhecer em novas gerações, em mais alunos o que a vida permitiria construir. Acreditamos que a palavra, a ideia é o suporte de um edifício chamado consciência humana, a ferramenta para criar novas soluções para novos tempos.

 Achamos que os media trariam as vozes intermitentes que procuram o bem comum, o valor das pessoas. Esquecemo-nos de ser vigilantes. E do reino das promessas açucaradas em mentiras, logo surgiram os oportunistas de serviço que empacotaram as sementes da tirania, patrocinada pelo capital que apenas referencia os seus lustrosos cofres.

O Ministro da Educação (se é que lhe podemos chamar isso) é um destes casos exemplares, ao representar nos últimos quarenta anos, a maior incoerência entre o que se escreve, o que se diz nos media e o que se realiza. Vacilando entre a verdade oculta e o interesse económico de uma minoria, conduz com sorrisos de plástico, a destruição do ensino público para o remeter aos ódios de estimação dos que fazem a divisão na sociedade, nós e os outros. 

O exemplo dado, pelo ministro da educação, o exercício do poder fechado ao mundo real, apenas reproduzindo as certezas ideológicas, destruindo as capacidades individuais de tantos cidadãos, é a confirmação de que a informação e os media são um instrumento de acesso ao poder, de manipular vontades e apirações de trabalho e de capacidades das pessoas. O seu exemplo contribui de uma forma avassaladora para a destruição da confiança que é a base de qualquer construção em comunidade.

O Minsitro tem demonstrado tristemente que a Democracia, como forma de governo representativa é já um arqueologia distante, e a manifestação dos eleitores passou a ser irrelevante, pois nada do que se enunciou tem relevância ou seriedade na acção. No triste caso dos alunos da Lusófona veio confirmar, mais uma vez, que acima da brilhante ideologia não há ideias. Mais uma vez a ética da responsabilidade que deveria ser seguido pelas instituições ficou no ocaso de mentes tão brilhantes em poder de engano.

Vivemos, pois já, no reino do vale tudo, assombrados pela poeira das hierarquias inteligentes que vão destruindo a dignidade e a decência. O Poder basta-se a si próprio, é a lição que o ministro nos deixa. É um triste exemplo, o mais triste exemplo na educação dos últimos quarenta anos, depois do que tínhamos pensado sobre as suas palavras. Talvez não seja por acaso que como outros que brilham sem transparência no presente momento, tenham nascido num fundamentalismo do tempo, abraçando hoje outro, nessa ideia antiga de criar no mundo as lamiaes (os espantalhos para crianças, segundo a ideia grega), um País de crianças velhas.

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