quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Palavras tecidas

"A memória longínqua de uma pátria
Eterna mas perdida e não sabemos
Se é passado ou futuro onde a perdemos." ("VIII", in Poemas de um livro destruído)

A sua luz é clara e transparente como as manhãs nascidas de um tempo novo, não o da dimensão política, não o da pequena ambição pelo cargo, pela nomeação, pelo lucro rápido e incolor. Apenas e só a que procura dialogar consigo próprio, a da manhã branca, onde a claridade emerge de um dia alvo, desenhado e vivido das possibilidades que o real concede. As suas palavras deram-nos uma estética do maravilhoso, num compromisso autêntico, livre e sublime, com a respiração que nos faz ser herdeiros da maior inteireza.

Lutou por ele, aspirou por ele, sonhou realmente com o dia novo, com essa construção substantiva no tempo, das ideias nobres, simples, da reconquista apenas por si, pelo movimento, pela graça, retirando as máscaras e desbravando no caos a pureza inicial do homem. Sonhou com esse momento de levitação, o sonho que a revolução permite, não a da cópia de ideias passadas, já escritas, mas a de que se constrói no coração.

Conduziu-nos pela maresia, falou-nos dessa primeira liberdade, correu com o vento para que também nós sentíssemos a questão inicial, o sopro da palavra comprometida. Mas nós não a compreendemos. Nos quarenta anos do 25 de Abril é uma figura acima de qualquer pretenso olimpo, muito maior que o regime, muito maior do que nós alguma vez seremos. Lamentavelmente os representantes oficiais não poderiam estar mais longe do seu valor ético, daquilo que a sua palavra representa. 

Resta-nos o mais importante. O coração e as suas palavras que são sempre novas todos os dias. E com elas que poderemos abordar os dias, reconquistando o real ao caos criado por incompetentes de serviço, que ocupam os ilegais refúgios de um poder comprometido apenas com o lucro e o interesse mais mesquinho.

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