domingo, 12 de janeiro de 2014

Murakami

 
"Se olharem com atenção para a natureza, por exemplo, na Primavera admiram as ‘sakura’, no verão os pirilampos, e no Outono as folhas amarelas dos bosques. Dia a dia, observam tudo com paixão, a cada momento, como uma rotina, quase como se fosse um axioma. Quando chega o tempo respectivo, os locais mais famosos para se verem as flores de ‘sakura’, ou os pirilampos, ou as folhas outonais, enchem-se de gente. Porquê?

Porque a beleza das ‘sakura’, dos pirilampos, e das folhas do Outono, desaparece ao fim de um tempo. Os japoneses percorrem inúmeros quilómetros para poderem ver o esplendor da efemeridade destes fenómenos. Mas não se limitam apenas a observar essa beleza, pois também se aliviam ao descobrir como se espalham as flores das ‘sakura’, a luz ténue dos pirilampos, ou como se apagam as cores vivas das árvores. Na verdade, encontram a paz quando a beleza já atingiu o clímax, e começa a desaparecer…
 
Não devemos ter medo de sonhar. Não podemos deixar-nos engatar pelas causas dos desastres, que se apresentam com o nome de “eficácia” e “conveniência”. Devemos ser “sonhadores pouco realistas”, avançando em passo firme. Os humanos morrem e desaparecem. Mas a humanidade perdura. É algo que se prolonga indefinidamente. Acima de tudo, temos de crer na força da humanidade".
 
Excerto do discurso de agradecimento domPrémio Internacional da Catalunha de 2011.

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