domingo, 10 de novembro de 2013

Memória do Mário

Foi o maior actor da sua geração.
A palavra teve no seu rosto, na sua voz, na sua expressão, a beleza do encontro e capacidade de imaginar horizontes novos. O Poema recebeu com o seu sorriso, as suas lágrimas, a sua alegria, a sua energia formas novas. Ainda o estou a ouvir, com aquele ar encantado de miúdo. 

Dele ficará sempre a doçura e a raiva na voz contra o que desejamos e não sabemos ser, contra o conformismo perante o verniz que destoa a claridade e o perfume das maçãs. Fomos com ele um sonho de manhã silvestre, por onde hoje caminhos efémeros se diluem, ainda que tenhamos nos olhos os fascinantes dias de Maio.

Dele, da sua camaradagem as palavras serão sempre poucas, raras, marginais para descrever a entrega a elas e à poesia. Saramago disse dele que "poucas pessoas valeram tanto neste País". Raras, muito raras vezes o assombro da voz, a plasticidade do rosto, a expressão dos olhos, a fúria por aquilo que consome o actor e o que o faz amar, em múltiplas cabeças, o que o torna humano e universal, quando "ornamenta Deus com simplicidades silvestres" ( Herberto Helder). A sua voz, num poema de Manuel Alegre sobre o mês das rosas, e o olhar que ele transportava nesse eterno mês dos namorados.


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