domingo, 3 de novembro de 2013

António...

Sobre os livros e a vida
«É curioso isto, porque é e não é. É qualquer coisa que nos questiona, nos pergunta, que nos inquieta, que nos ajuda, que nos mostra a nós mesmos, que nos revela a aparição por debaixo da aparência. (...) Chegar ao interior dos interiores. Descer, onde estamos nós e os outros e nós no meio deles. Ao lermos um livro, estamos a ler uma pessoa também, seja qual for o livro.

Tenho a sensação que quando tenho o livro que eu gosto, estou em conversa com o autor do livro. Não sou só eu que o leio. Estamos lendo mutuamente e conversando e construindo um diálogo que se prolonga. Muitas vezes o livro só começa quando nós o acabamos de o ler e começa a fazer a sua viagem dentro de nós. Os grandes livros prolongam-se na nossa vida.

Os livros, os bons livros não trazem nem personagens, nem histórias. quanto muito a aparência de personagens e de uma história. Não existe profundidade. Há infinitas superfícies e dificilmente chegamos ao ponto central. Alcançamos um fragmento de um espelho. (...) A leitura foi sempre para mim um grande momento de alegria. uma fonte de auto-conhecimento, uma alegria e um deslumbramento, um espanto constante. (...)

«Tenho a impressão que há uma dor aqui no quarto, mas não sei se sou eu que a tenho» (C.Dickens). E até que ponto a dor é nossa, até que ponto a alegria é nossa, porque a nossa vida é feita de perguntas. Quando nós encontramos uma resposta, ela torna-se uma pergunta, que leva a outra pergunta, a outra pergunta. E diante da pergunta está o vazio, que eu espero seja preenchida por outra pergunta e outra pergunta.»

in, http//sicnotícias.pt (Jornal da Noite)

( Há um pensamento imbecil que apenas raramente se interessa pelas pessoas, pelo seu génio, em datas tão banais. Hoje como tantas vezes lembrei-me do António e de algumas das suas palavras, dessa sua ideia de por a vida nos livros).

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