
O que a vida apresenta de pior não é a violenta catástrofe, mas
a monotonia dos momentos semelhantes; numa ou se morre ou se vence, na outra
verás que maior número nem venceu nem morreu: flutua sem morte nem esperança.
Não te deixes derrubar pela insignificância dos pequenos movimentos e serás
homem para os grandes, se jamais te faltar coragem para afrontar os dias em que
nada se passa, poderás sem receio esperar os tempos em que o mundo se
vira. (1)
Os dias são um equívoco de liberdade e decência. O país é essa metáfora de que Eça falava como uma alegoria do nada e as instituições são essa mendicidade do espírito. Ele foi maior que este território, de uma universalidade
contagiante de luz e sabedoria e onde as ideias e o conhecimento poucas vezes
foi tão veemente no seu brilho.
Chama-se Agostinho da Silva,
nasceu no Porto, espalhou a luz fundadora das ideias em vastos continentes e
foi uma das mais importantes figuras do século XX. Percebeu o mundo que emergiu
das crises sociais e políticas e deu-nos o valor da coragem e do exercício da
liberdade.
Como Sá de Miranda ou Torga,
entre outros, esteve impedido de dar o seu contributo no desenvolvimento do
País e esteve ausente da germinação de uma ideia cultural que o fizesse
transformar num espaço de desenvolvimento humano, de que permanece afastado por
longas décadas.
Com Agostinho da Silva compreendemos como sem ideias não
existem possíveis e que a generosidade do saber, a sua curiosidade é o que nos
levanta das manhãs incertas. Nas aparências de liberdade que alguns cozinham em palácios de papel, jamais se descobrirá o valor da ideia, como motor do desenvolvimento humano. Relê-lo é destruir as teias de aranha do círculo do poder, alimentado em rituais de irrevogabilidade de circunstância.
(1) Agostinho da Silva, Ir à Índia sem abandonar Portugal e outros textos
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