
Adivinha-se o processo. No decurso do processo de qualquer coisa parecida com uma avaliação, notas de três podem ser dois, conforme o aluno já esteja passado ou não. Avaliamos o quê?
Transições ou trabalho, sucesso, ou conhecimento, empenho ou faz-de-conta? Cadernos de letras redondas e melhores atitudes justificam os milagres desta anunciação. Reprovar não faz bem a ninguém. O mundo está à venda, a qualquer preço. É só pegar. Queixamo-nos muito, mas na verdade os professores não se respeitam. Assombro final. A acta está muito bem escrita. É demasiado pequena. A Gestão gosta de actas de bom tamanho, como os desertos em dias de suão, vento a rimar nas margens. É um desconsolo. O que é que eu faço aqui?
Poderemos ensinar pensamento crítico em sistemas dominados pelo centralismo democrático, empenado de burocracia sem ideias. É uma excepção. Todos conhecemos demasiadas excepções. Fiquemos com a saudade de onde ainda se pensa a avaliação como um processo de crescimento, de aprendizagem de significados. Regresso ao Porto.
Reencontro alunos. O edifício que alguns ainda chamam educação revela-me mais elementos dessa arquitectura do desastre. Nono ano: Camões e Gil Vicente ficaram na memória do caminho.São muito antigos dirão os novos habitantes nos media da ilusão. Não são mercedores do esforço dos alunos, do seu estudo.
Décimo segundo ano: Pessoa nas brumas do esquecimento, um dos que os alunos mais apreciam, pelas reconstruções e possibilidades de cada pessoa. O mestre da língua, Vieira saiu em perguntas de concurso televisivo. Basta ler. Nada é preciso saber. Tema de escrita: na globalidade do universo, sem referências. Os alunos encontrá-la-ão. O MInistério sabe o que faz.
A "educação" não é pois uma ferramenta para a cidadania. A destruição da sociedade como construção comum de um património tem os seus laboriosos operários iluminados no mais simples utilitarismo. É uma pena, que a escola, não seja, com os professores, uma outra conquista de saber e valor. As maravilhosas palavras de Mandela, "a educação como arma transformadora da sociedade" vale aqui muito pouco. É possível percorrer as estrelas, ainda imaginando que a Terra é o centro do Universo. Poderemos nós como sociedade fazer mais do que murmurar gotas perdidas que não se revelam no real?
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