"(...) estou sempre a reflectir, a ponderar, a tentar ver para lá das aparências. Não me deixo levar por epifenómenos". (entrevista a Aabela Mota Ribeiro)

Dele retenho um olhar diferente, fisicamente mas sobretudo a capacidade de reflectir, de fazer do estudo da História Contemporânea, uma forma de criar utensílios, ferramentas para um pensamento que compreenda o real. O sorriso e o abraço como forma inteligente e sedutora de acompanhar a palavra. E a ideia que o tempo formaliza as nossas possibilidades, é no seu momento a nossa forma de o amar no possível cintilante das formas que soubermos ousar.
Lembro-o de muitos sítios, mas tal como outros será da Universidade que a sua influência foi maior, pois ele é do tempo em que aquela funcionava como um templo do conhecimento, uma iniciação para transformar o mundo. Deixou nos media e nos livros muito da sua sabedoria, do seu encanto, do seu pensamento feito de palavras e interrogações sobre o real. Marcou em diferentes momentos a vida política, transmitiu os seus valores de social-democracia num óasis político feito de funcionários ideológicos e por isso muitas vezes foi ultrapassado pelas lesmas de serviço.
Enganou-se algumas vezes, mas quase sempre por solidariedade, por uma amizade feita de cumplicidades de sonhos. Era um dos poucos que valia a pena ouvir a comentar a actualidade, pois a sua bússola não era a do funcionalismo político, mas o de pensar, com o sorriso aberto do Atlântico, das vagas que reclamam e dão consistência a um pensamento original e criativo. Havia nele, na sua resiração algo de nórdico, algo pela construção do essencial, do indivíduo no seu papel para o bem comum. Foi um exemplo na sua vida e deixou-nos o maior, o da cidadania.
Chamou-se José Medeiros Ferreira e veio das ilhas frias para revelar "nas praias tristes" a nossa incapacidade de ser e de transformar, mas sempre a acreditar na possibilidade, sempre buscando o caminho mais original, mais certo do brilho da vida. Um abraço professor. Sentiremos a sua falta, da sua palavra e do seu espírito num País dominado por génios a banalidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário