«A noite vai bem avançada. Dá-me um fósforo...» (1)
Tolstoi
dizia que quem desejava uma vida pacífica e tranquila não deveria
nascer no século XX. O século das grandes transformações tecnológicas
foi-o para a Humanidade de uma crueldade, onde ideologias à sombra de
princípios pensados igualitários tornaram a vida de milhões num
sacrifício indescritível.
Doutor
Jivago de Boris Pasternak é um desses livros universais que se serve do
fundo histórico, dos dias vividos para nos dar a dimensão humana num
período de profundas alterações sociais e políticas, os anos que
precedem a revolução bolchevique na Rússia, até ao fim da 2ª grande
Guerra. Pode o Homem num período de alterações tão bruscas, manter a sua
consciência e permitir-se preocupar-se pelo exercício do bem como
valor?
Com
Doutor Jivago vemos o confronto entre o homem do quotidiano e os que se
dedicavam à utopia abstracta, que não é humana na voracidade das suas
manifestações. Assistimos ao confronto entre a iniciativa de se querer
exprimir e as representações do pensamento único e domesticado da
ideologia. Boris Pasternak fez com Doutor Jivago a denúncia do que era
essa Primavera prometida e como isso afectava o quotidiano das pessoas,
sentindo-se que o conjunto dos cidadãos compreendiam como as novas
ideias não satisfaziam as suas necessidades mais básicas. A insastifação
é aqui uma forma de liberdade.

Doutor
Jivago acima disto tudo é um livro sobre o amor. O amor entre gerações,
no seio da família e entre os protagonistas da história. Amor que se
sente no idealismo de Jivago, na sua atitude como escritor e como
médico. Amor que se vê confrontado com diferentes opções e que nos dá
uma ideia final. A única coisa acima das estruturas económicas e
sociais, a única força capaz de resistir a todos os laços a que o homem
se compromete, é o amor. Com ele consegue persistir no esforço de
caminhar, apesar de todas as dificuldades e do cenário que envolve o
filme.
Boris
Pasternak nasceu em Moscovo, a dez de Fevereiro de 1890 e só após a sua
morte, a sua obra seria autorizada na União Soviética. O livro foi
editado em 1957, fora do país. Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em
1958. David Lean realizaria a adaptação da obra em 1965, que daria um
carácter único e mais visual deste grande quadro, que á história de
Doutor Jivago. Omar Sharif e Julie Christie ganharam com ela também um
pouco de imortalidade.
(1) Lu Yuan, «Melancolia«, citado de O Rio e o seu segredo
Imagens, Doutor Jivago de David Lean
in adorocinema.com
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