A casa que, como a quinta, aparece em versos e contos que escrevi, era desmedida. Um casarão do século XIX com grandes janelas, grandes portas, tectos altíssimos e ao centro um enorme átrio, para onde davam todas as salas do andar de baixo e a galeria do andar de cima. No alto uma imensa clarabóia iluminava a sucessão dos espaços.
Não era como agora quando numa casa muitas e muitas vezes mais pequena corro desabalada para o telefone e mal o toco logo ele se cala. Um dia, a correr para o telefone, parti um pulso - e mesmo assim amigos meus me dizem que tentaram falar para minha casa mas ninguém atendia. O homem actual perdeu o Tempo.Na minha infância e na minha adolescência os dias eram compridos e, apesar do colégio e dos estudos, cheios de horas livres, de demoras em que se podia cismar. Como disse Goethe, "o ócio é o trabalho do poeta".
(Originais integrados na exposição da Biblioteca Nacional e disponíveis a todos a partir de 2016)
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